Há 60 anos, um Tarzan brasileiro treinava feito louco sob o comando de um discípulo de National Kid na piscina do Clube Internacional de Regatas, na cidade de Santos. Era o mês de abril e às vezes essa dupla dinâmica podia ser vista olhando furtivamente para os peixinhos do Aquário Municipal. Parece uma história saída de um gibi, mas, em tempos de ficção científica mundial, até que é plausível. E merece ser contada.
Os personagens tem nome, sobrenome e só não chegaram à medalha de ouro nos 100 metros livre na Olimpíada de Roma, em 1960, porque os deuses das águas foram ingratos com o Johnny Weissmuller caboclo. Nosso Tarzan nasceu no interior de São Paulo, tinha a saúde frágil, mas, apesar de fracote, gostava de ver o personagem criado por Edgar Rice Burroughs nadar nas telas do cinema que pertencia a seu pai, em Andradina.
"Eu era amigo do rapaz que operava o projetor do cinema e, à tarde, ele sempre repetia as imagens, só para mim, do Tarzan nadando coma cabeça fora d'água. Ele era o herói, tinha de aparecer sempre. E foi isso o que eu botei na minha mente de menino: seria um nadador forte e veloz como aquele herói do cinema. E também nadaria com a cabeça para fora d'água", relembra Manoel dos Santos, hoje com 81 anos.
Maneco, que durante a quarenta ficou em Santos sem poder ir à praia, nestes últimos dias de pandemia dedicou-se às palavras cruzadas e à leitura. "Li o Código Da Vinci, li Machado de Assis, dois livros do Luiz Fernando Veríssimo e mais uma obra só de contos", conta, já do apartamento onde mora na capital paulista. "Procuro não ver muita TV. Eu já tenho mais de 80 anos e a gente fica abalado com tanta notícia ruim".