Faz a festa, Amarelinho!

Mascote torcedor, Amarelinho foi criado pelo SBT para tentar roubar audiência das concorrentes na Copa de 90

Beatriz Cesarini e Talyta Vespa Do UOL, em São Paulo Lourival Ribeiro/SBT

O ano era 1989 e o SBT se preparava para uma cobertura importante: a Copa do Mundo de 1990, na Itália. O Mundial daquele ano também seria transmitido pelas concorrentes Globo, Manchete e Bandeirantes, e a emissora de Silvio Santos precisava de algo que chamasse atenção do público.

Roberto Cabrini, diretor do departamento de esporte na época, reuniu o diretor de computação gráfica da emissora, Fernando Pelegio, e o diretor de criação, Angelo Henrique Ribeiro, o Macarrão, em uma sala e soltou o desafio:

"Como que nós vamos conseguir nos diferenciar?"

Inspirado em transmissões de jogos da NBA e da NFL, que tinham as mascotes transpostas nas imagens das partidas, Macarrão logo propôs: "Já sei! Vamos criar uma bolinha que é torcedora? Quando é gol, comemora, quando perde, chora, e assim por diante?".

A ideia foi abraçada e assim, batizado por Cabrini, nasceu o Amarelinho, uma bolinha simpática que se tornou a mascote do SBT e marcou a memória dos torcedores brasileiros a partir da Copa do Mundo de 1990. O desenho animado ganhou o coração do público imediatamente, porque conseguia representar cada telespectador que acompanhava os jogos da seleção brasileira pela televisão.

Após 32 anos do seu "nascimento", o Amarelinho virou praticamente uma relíquia disruptiva de outros tempos. Mesmo que o SBT fosse transmitir a Copa de 2022, a mascote criado para dar sabor às transmissões na década de 1990 não "embarcaria" para o Qatar. Desde 2002, as transmissões de Copa do Mundo são inteiramente padronizadas e geradas pela Fifa, que as distribui aos detentores dos direitos de transmissão. Eles não podem alterá-las ou editá-las. Mascotes, só os oficiais dos países-sede.

Lourival Ribeiro/SBT
Reinaldo Canato e Yasmin Ayumi / Arte UOL

A partir do dia 20 de novembro, o mundo inteiro estará com os olhares voltados para a Copa do Mundo, que será realizada no Qatar. A maioria dos brasileiros acompanhará o maior evento de futebol do universo pela televisão.

É justamente esse aparelho que, ao longo dos anos, moldou a forma de o brasileiro torcer. Nesta série, o UOL Esporte relembra e conta a história de grandes momentos da televisão brasileira em Copas do Mundo, desde personagens icônicos e imprescindíveis no Mundial a simples frases que todos entoamos ao longo dos anos.

Silvio Luiz é inspiração

Durante aquela reunião, Cabrini, Macarrão e Pelegio mencionaram o nome de Silvio Luiz quando refletiram sobre possíveis destaques. A equipe considerava o narrador como um ponto forte da concorrente Band, porque ele comandava as transmissões de jogos do Brasil com um ar de torcedor.

Só que Silvio Luiz estava, de fato, na concorrência. Eles ainda precisavam de outro diferencial. Eis que quando surge a ideia da criação da bolinha animada, um dos pedidos foi para que a personalidade da mascote lembrasse o Silvio.

"Quando o Silvio Luiz passou de repórter para narrador na Band, passou a ser alguém que simbolizava a voz do torcedor. Falaram para ele ser um narrador que também fosse um torcedor. E naquela reunião a gente criou o Amarelinho, a gente conversou sobre como o Silvio foi construído como locutor. Ele é um torcedor que narra os jogos. Aí que a gente quis criar um torcedor visual", explicou Fernando Pelegio.

Vamos refrescar a memória...

O objetivo do SBT, segundo Roberto Cabrini, era romper com as transmissões esportivas tradicionais. De certa forma, a emissora conseguiu atingir o alvo sonhado. Para quem não se lembra, o Amarelinho era uma bolinha que tinha acessórios, como corneta e bandeiras, e reagia de acordo com o momento da seleção brasileira em jogos.

Se o Brasil fizesse gols ou boas jogadas, por exemplo, o Amarelinho surgia comemorando na telinha. Luiz Alfredo, narrador da Copa de 1990 no SBT, fazia a parceria com a mascote e a consolava caso algo ruim tivesse acontecido, como uma expulsão, chance perdida ou revés. "Não chora, Amarelinho! Não fique assim", dizia o locutor.

"A gente queria um símbolo que representasse o torcedor brasileiro e, que ao mesmo tempo, fosse simpático e tivesse conexão com crianças, mulheres e até com quem não gostasse de futebol. Ele representava o torcedor que estava em casa, torcendo pela seleção brasileira", destacou Cabrini.

Sucesso

A repercussão foi imediata. Todo mundo falava dessa diferenciação que a gente tinha. Além disso, o Luiz Alfredo foi muito feliz no bate-papo com o Amarelinho durante as transmissões, era legal acompanhar. Nas ruas, as pessoas comentavam bastante sobre e também começaram a sair notas nos jornais. Foi algo muito positivo

Fernando Pelegio, diretor do SBT

A gente ficou em segundo lugar na audiência na Copa de 90 e ninguém esperava, foi esplêndido. O Amarelinho foi fundamental. Ele era muito inovador para os padrões na época. Foi algo marcante. Graças ao Amarelinho, a gente ampliou a comunicação com toda a sociedade, e não só com o público fiel ao esporte

Roberto Cabrini, diretor do departamento de esporte do SBT na época

Caiu nas graças

O Amarelinho foi considerado um sucesso entre os executivos do SBT, porque conseguiu abraçar o público de forma geral: conquistou o fã de esporte que não visitava o canal com frequência e cativou a audiência fiel que estava acostumada com uma programação que mal esbarrava no mundo esportivo. Quando se falava na mascote, já era certeza de que o Brasil estaria em campo.

"Essa Copa foi muito especial. O SBT não tinha tradição em esportes na época. A gente procurou romper com tudo o que existia para fazer uma cobertura que tivesse sintonia com a população e representasse algo diferente dos padrões estabelecidos pela Globo e Band. O objetivo era ampliar a audiência e romper com as transmissões tradicionais. Era isso que a gente queria", destacou Cabrini.

O Amarelinho se tornou um símbolo nacional, fez sucesso entre as crianças e, por isso, também esteve presente nas Copas de 1994 e 1998, além de alegrar a torcida nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992, e Atlanta, em 1996.

O Amarelinho voltou

Em 2021, o SBT transmitiu a Copa América e, portanto, voltou a ter jogos da seleção brasileira na telinha. E quando tem Brasil em campo na emissora, naturalmente tem o Amarelinho. A mascote retornou com um visual repaginado e aqueceu o coração de quem guardava com carinho os Mundiais há 30 anos.

"As pessoas sentiam falta do Amarelinho durante esse intervalo de tempo. No retorno dele, temos um mundo novo. Em rede social, por exemplo, o feedback é imediato, muitas pessoas comentaram sobre o retorno. E é claro que existem haters, o que nunca tínhamos experimentado ainda", disse Fernando Pelegio.

"A gente não fica restrito aos jogos. Agora, toda a peça de marketing vai um Amarelinho. Ele está muito presente. Quando você vê o Amarelinho, relaciona direto com futebol, Brasil. É algo automático: É Brasil, é jogo, é SBT", completou o diretor.

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