Eu saí de casa muito novo. Um menino negro e nordestino de 13 anos tentando a vida no futebol em um mundo preconceituoso. Eu era o "Paraíba" e sabia que seria assim. Foi justamente por isso que aprendi a transformar tudo aquilo em força.
Minha mãe é da minha cor. Meu pai é branco. Ela veio de origens muito humildes e sempre fez questão de me explicar todo o esforço que os dois faziam para me dar o que podiam na infância. Isso me fez entender que era necessário valorizar cada pequena conquista.
Quando tentei carreira no futebol, ela precisou dizer que eu iria sofrer racismo e aquilo não poderia me atingir. Ela não disse "se eu sofresse", ela disse "quando eu sofresse". Por tudo que ela já tinha passado, sabia o que me esperava no mundo lá fora e, por mais que doesse, me preparou para enfrentar: "Quando alguém falar isso de você, filho, é porque você é mesmo. Não se incomode e mostre sempre que você é mais forte".
Eu nunca deveria esquecer quem eu era. Ela e meu pai enraizaram isso em mim. Graças aos dois, digo que nunca sofri dessa forma. Aprendi a não deixar nada me atingir. Eu sei que, às vezes, não falam por mal, mas eu já ouvi frases assim:
Pô, o que esse pretinho tá fazendo aqui, é filho de quem?"
Olha como ele fala, é muito engraçado, não entendo nada"
Eu sou preto. Eu sou paraibano. Eu falo oxe. E eu sou feliz e orgulhoso de tudo isso. É isso que eu sou.