Aguerrido em quadra, se jogando em cada bola, brigando a cada ponto, Fernando Meligeni nunca escondeu seu sangue argentino e a garra característica de atletas do país onde nasceu. Ele encerrou sua carreira, mas isso não quer dizer que vá deixar de lutar —fora de quadra e também fora do ar, após sete anos ininterruptos como comentarista na ESPN. A diferença é que o ex-tenista dessa vez não rebate ou ataca a bolinha. O que não o deixa parar é o ímpeto para questionar o momento do esporte brasileiro e o modo como essa cultura esportiva é retratada na TV, mesmo que pague o preço por sua contundência.
Aproximando-se dos 50 anos (está com 49), ele vive de clínicas de tênis e de seu novo projeto, um curso de tênis pela internet, enquanto recusa propostas para voltar a ser comentarista e retomar uma carreira televisiva que teve passagens por MTV, Cultura, SporTV e a própria ESPN.
Num momento em que o esporte brasileiro está basicamente parado por conta do novo coronavírus, vindo, no seu entender, de um período de baixa, a onda das reprises tomou conta das transmissões. A escolha do menu diz, para Meligeni, que o país ainda não entendeu quais são os passos necessários para se tornar uma potência. Do futebol ao tênis, praticamente só as vitórias ganham espaço, numa deturpação não só do que representa o esporte, mas especialmente o esporte no país.
Há muitos anos que a gente não é o melhor país do mundo no esporte. A gente tem alguns campeões mundiais. Já tivemos muito mais, a gente teve muito mais esporte. Futebol é prova, o vôlei é prova, e vários outros esportes em que a gente já foi muito forte. No tênis a gente teve número um do mundo, no skate tem hora que tem, tem hora que não tem, mas a gente era até mais forte do que a gente é hoje. E vamos lá, hoje o surfe ficou forte, coisa que não era antes. Só que a gente não pode mostrar para o público que está na televisão o tempo inteiro a vitória."
Agora, se for para falar do circuito mundial de tênis, mesmo, ele acredita que, por conta da pandemia, as reprises serão a única opção para quem quer ver a modalidade na TV em 2020.
O ex-tenista, que hoje vive mais como pai de Gael (10) e Alice (6) e marido da atriz Carol Hubner, conta nessa entrevista ao UOL Esporte sobre como sofreu com a xenofobia de dirigentes esportivos depois de ter brigado com a família para ser brasileiro, reflete sobre o momento em que atingiu o auge da carreira, os motivos de não ter ido além, e também sobre o alerta aos sobrinhos tenistas enquanto vê crescer o número de casos de doping e corrupção no tênis.