"Eu não havia me dado conta de que jamais havia amado tanto um ser humano e, decididamente, nunca um menino. (...) Trabalho por pura necessidade pois, fundamentalmente, tudo para mim perdeu o significado. Não tenho mais gosto pela vida (...) O auxílio da razão não me serve.". Esse é um trecho da carta que o psicanalista Sigmund Freud escreveu para amigos quando seu neto favorito, Heinz, de quatro anos e meio, "a criança mais inteligente e amorosa" que ele conheceu, entrou em coma, e posteriormente morreu, em 1923.
Não é necessário o exemplo de ninguém para que compreendamos o desconsolo do coração de um pai que perde o filho, mas quando alguém como Freud, mesmo que na figura de avô, fala tão servilmente sobre essa dor, fica apenas mais claro que cada homem tem uma história muito particular sobre seu luto; e que ela precisa ser ouvida.
O jornalista Mendel Bydlowski, de 38 anos, perdeu seu filho Arthur, de cinco, em janeiro, num episódio dos mais trágicos. A criança brincava com o irmão mais novo, de menos de dois anos, na sala de um apartamento de praia, de quinto andar, onde eles, Mendel e a mãe dos meninos, Juliana, passavam férias. Num determinado momento, sob os olhos de Juliana, Arthur se sentou no chão, próximo a uma janela fechada, apoiou as costinhas no vidro e ele se rompeu.
Essa é a primeira vez que Mendel, há 20 anos trabalhando na ESPN Brasil, com quatro Copas do Mundo e três Olimpíadas no currículo, fala como tem conseguido respirar depois da morte de Arthur. Nesses poucos mais de seis meses, passou o primeiro aniversário do filho e Dia dos Pais sem ele. E também sem a presença tão necessária de muitos dos amigos e familiares, dada a pandemia da covid-19.