Eu treinava com olheiras, porque tomava laxante. Passar a noite inteira no banheiro para manter o peso era uma desvantagem competitiva. Outras ginastas conseguiam vomitar e podiam dormir. Eu tentei a bulimia. Me ajoelhei na frente da privada, levantei a tampa e enfiei o dedo na garganta. Ânsia, ânsia, ânsia e nada. Tentei outras noites: um dedo, dois dedos, três dedos, a escova de dentes...
O problema começou por causa da pressão com o peso que conheci quando fui para a seleção brasileira de ginástica rítmica, em 2007. Eu me apresentava para treinar com os lábios roxos, porque estava desidratada. Na noite anterior, vestia vários casacos, me enrolava no papel filme e ia pular corda ou subir e descer escadas até ficar empapada de suor.
Acordava com o corpo tremendo de tão fraco, mas aliviada. A pesagem acontecia com todos os ginastas juntos. Para quem aumentava, nem que fossem 100 gramas, os técnicos gritavam: "GORDA, OBESA". Completavam a humilhação com agressões à honra. "Não vou levar para competição para passar vergonha com você gorda desse jeito".
As pessoas saíam chorando. Essa era a cultura da ginástica rítmica.