"Queria falar uma coisa para você". Eu tinha 19 anos quando mandei essa mensagem para o celular do Michel Conceição, no quarto que a gente dividia no alojamento da seleção brasileira em Curitiba. Eu estava na cama de cima do nosso beliche, Michel estava embaixo.
"Eu já sei o que é", ele mandou. Meu coração gelou. Mas segui em frente. "Eu acho que sou gay..." Lembrando assim soa engraçado. Eu acho?! Mas foi nessa época que comecei a ter certeza do que eu era. O Michel era querido por todos, um cara muito engraçado e popular. E abertamente gay. Por isso me senti à vontade para me abrir com ele.
Na mesma noite, ele me levou a uma balada gay, mesmo sendo proibido sair à noite na seleção. Eu fui todo disfarçado: boné, óculos escuros, capuz. Isso se repetiria nos anos seguintes, era ridículo. Meus amigos livres, leves e soltos e eu lá, cheio de roupas, suando no calor, virando a cara quando alguém fixava o olhar. Eu sempre morri de medo de me descobrirem.