Eu sou a Flávia Maria de Lima, tenho 31 anos, sou uma atleta de alto rendimento de atletismo e estou classificada às Olimpíadas. Só tem um problema. Os Jogos serão em Paris e não tem como disputá-los sem ir pessoalmente à França.
Por causa disso, eu posso perder a guarda da minha filha de 6 anos. Mas nem precisava ir tão longe, literalmente.
Cada viagem que fiz para buscar a vaga olímpica, mesmo dentro do Brasil, foi informada à Justiça pelo genitor da minha filha como argumento para tentar demonstrar a absurda ideia de que estou abandonando-a.
Ao longo da história dos Jogos Olímpicos, sabe-se lá quantas dezenas de milhares de atletas homens competiram. Eles sempre foram maioria, afinal. Imagine quantos eram pais.
Mas nenhum nunca foi acusado de abandonar os filhos por trabalhar como atleta para o sustento deles. Eu sou, e só porque sou mãe, logo, mulher.
Por anos minha carreira esportiva foi prejudicada pelo machismo. Hoje ele segue presente, tentando me boicotar. Mas agora eu digo: "nunca mais".