O basquete salvou minha vida, mano. Eu tenho uma cicatriz no ombro direito porque levei um tiro na favela. Eu tinha uns 14 anos. Pessoas estavam fazendo coisas erradas, mas nunca fiz nada isso. Nunca. Naquela época, eu vi muitas coisas que não posso nem falar, mas que nunca vou esquecer na minha vida. Coisas que jamais uma criança poderia ver.
Eu queria ganhar dinheiro, queria ajudar a minha mãe, o meu pai. Mas as pessoas falavam: "Você não pode fazer o que a gente faz" ou "Deixa ele, porque ele vai ter futuro". Muitas vezes perguntei, não nego: "Mano, pode acontecer alguma coisa comigo se ajudar vocês?".
Perdi amigos, vários. Infelizmente, meu melhor amigo não está mais na minha vida. Não posso falar o que ele fez, mas foi uma coisa ruim, de que não gostaram. Ele estava brincando e tudo aconteceu bem na minha cara, mano.
Na favela, você tem poucos amigos que estão fazendo coisas certas. Uma vez, eu estava tranquilo com um amigo, quando veio um carro muito devagar. Todo mundo começou a correr. Era uma gritaria só: "corre, corre". Se você está junto de alguém, nunca corra junto dessa pessoa. Não vire um alvo fácil. Eu esqueci disso naquele dia. Corri, saltei uma grade e só ouvi: "fuuu". Muito rápido.
Eu não pensava no tiro, só corria. Cheguei na casa da minha melhor amiga e disse: "você não sabe o que aconteceu. Tentaram me matar". Ela só falou: "olhe o seu braço". Estava sangrando, muito. Desmaiei na mesma hora.