Quando descobri o câncer e, consequentemente, recebi a notícia de que teria de me afastar dos treinos pesados, reuni todo o time para explicar a situação. A primeira reação de todo mundo foi abaixar a cabeça, ficou aquele clima pesado. Mas só por uns minutos. Instantaneamente, eu falei: "Não quero ver ninguém com cara de tristeza. Façam piada e se divirtam com esse momento".
A Isadora, um pouco tímida, foi levantando o olhar e soltou: "Certeza que você vai correr mais rápido sem os peitos". Aos poucos, todos caíram na risada. Agora sim, esse era o clima que eu queria. Foi desta maneira que lidei com todo o tratamento. Só queria saber quando e como eu poderia voltar a jogar o rúgbi em alto rendimento.
"Qual o próximo passo?": essa era a pergunta que eu mais fazia. Fizemos algumas adaptações, mas não abandonei os treinos e o ambiente da seleção. Me disciplinei ao máximo para facilitar todo o processo de tratamento: alimentação extremamente regrada, bochechos de bicarbonato, exercícios mais leves. Tudo o que os profissionais — tanto os médicos como toda equipe — recomendaram, eu segui.
O único momento em que senti medo foi quando a incerteza sobre o retorno pairou. Afinal, era um câncer raro, no osso esterno. Precisava ser liberada pelos ortopedistas para voltar a me arriscar no rúgbi, um esporte de alto contato, e muitos médicos ficaram receosos. Eu me aposentaria se realmente não tivesse mais jeito. Mas teve. Consegui voltar para a seleção e agora, aos 31 anos, estou me preparando para a minha terceira participação em Olimpíadas. Meu nome é Raquel Kochhann e essa é a minha história.