Quando tudo terminou, no início de agosto, a primeira pergunta que eu fiz para a oncologista foi: "A partir de quanto tempo eu posso voltar com força total?". Ela pediu para eu respeitar um período de 21 dias e me liberou.
Voltei a correr. Voltei a fazer academia. Voltei a fazer exercícios de peitoral. Era uma liberdade de novo. A única coisa é que ainda não tinha a liberação para treinar contato. E aí que começou a minha maior briga com os médicos ortopedistas e senti medo pela primeira vez.
Um dos primeiros médicos que passei, me assustou bastante. Ele atendia pessoas mais velhas. Ele falou que o câncer fragiliza muito o osso, então teria que cuidar ao máximo para não ter nenhum tipo de impacto. Segundo ele, uma pessoa que tem câncer no osso do braço, pode quebrar o braço ao pegar uma xícara.
Se o braço, que é um osso muito forte, pode quebrar com uma xícara, imagina um osso que está protegendo meus órgãos vitais? Se tomar um contato aqui, o que vai acontecer com ele?
Fui conversar com o João Paulo Pedroso, médico da seleção, e ele começou a buscar profissionais que me dessem um caminho para a liberação. Nenhum me liberou. Não tem um exame que pode ser feito para saber o quanto o esterno estava prejudicado. Eu falava para ele: "Se eu não puder jogar mais, me fala logo, porque começo a buscar outras coisas para fazer. Só não posso ser iludida". Eu respeitaria a decisão, afinal não poderia colocar órgãos vitais, como o coração, em risco.
Descobri que a incidência de fraturas do esterno eram extremamente raras, é um osso muito forte, denso. Então, comecei a pesquisar maneiras de proteger a região do tórax e argumentei com o médico: "Deixa eu tentar".
Falei com a minha dentista e fizemos uma plaquinha do mesmo material do protetor bucal. Depois de pronta, partimos para os testes e adivinhem? Não sentia a pancada. Conversei com o Pedroso e ele me liberou para o "contato", desde que eu avisasse se sentisse qualquer dorzinha.
Cara, esse foi o dia mais feliz da minha vida. Foi em outubro. Eu saí pulando por aí, fazendo dancinha da alegria, tudo o que tinha direito. Estava com todos os elementos para reconquistar minha vaga na seleção.
Em dezembro, eu voltei a jogar com meu clube. Os médicos foram assistir. Foi incrível. Teve um momento que levei um tranco, caí no chão, ainda um pouco tensa, senti o meu corpo e percebi que estava tudo sob controle. "Tô viva, vambora!" A proteção realmente funcionava. Não senti nada.
Eis que chega o último fim de semana de janeiro e o Will me chamou para o Circuito Mundial. Fiquei doidona. Ele explicou que começaria com menos tempo em campo, porque estava voltando. Então, aos poucos, fui evoluindo e retomei meu lugar com o apoio de toda a equipe.