Quando as pessoas querem vender jornal, tumor benigno vira câncer. Quatro cirurgias são 20. E as manchetes sempre são: "A menina com mais de 200 tumores". Isso mais todos os blá blá blás... Ok, ok, vamos à minha versão da vida, pode ser?
Eu não ficava mal quando lia isso. Porque, em partes, é verdade. Eu tenho 22 anos e já passei por quatro cirurgias e sofri um AVC.
Eu sei, espanta muita gente, mas olha... É tanta informação que eu mesma me confundo às vezes. A primeira operação foi para retirada do tumor na cabeça, aos 12 anos. Com 14, tive o AVC - foi em casa mesmo, à noite.
Imagine o desespero dos meus pais, quando o meu irmão ligou dizendo "Vem logo pra casa! A Verônica tá tendo um troço muito estranho"? Até hoje não sei como eles chegaram tão rápido em casa. Aos 19, retirei o intestino grosso por causa dos mais de 200 tumores que havia nele - fiquei chateada e tudo... Mas fui fazer o que deveria: correr o mais rápido que eu pudesse e aproveitar cada momento. Tive que abrir mão do Mundial, já que dois dias após chegar do Parapan, fiz a operação. Aos 21, passei por outra operação na cabeça para tirar o mesmo tumor de quando era criança. Um ano depois, tive de repetir a cirurgia, porque o tumor tinha crescido mais uma vez e ficado gigante. Foi a maior cirurgia de todas. E claro, a maior recuperação de todas também - ainda estou voltando, aos poucos, a correr.
Mas, apesar de todas essas cirurgias, queria dizer uma coisa:
Eu sou muito mais do que isso.