O comunicado chegou de forma inesperada para o seu Juraci Paim: a prefeitura deixara de apoiar e a única escolinha de futebol da pequena São Gonçalo dos Campos, município de 38 mil habitantes na Bahia, estava fechando as portas. O sentimento foi de desespero: o que Juraci faria com o filho Murilo, que aos cinco anos era viciado em jogar futebol?
Companheira de Murilo, a bola o acompanhava mesmo debaixo do sol mais quente. Por vezes, era só Murilo e ela rolando pelo campo de terra que ficava atrás de sua casa, no bairro Murilo Leite. Quando não conseguia driblar os pais para sair de casa, as paredes se tornavam companheiras de infinitas tabelas que destruíam os adversários — no caso, os pertences da dona Raimunda, a mãe do garoto.
Juraci, então, teve de tomar uma decisão: encontrar uma escolinha para Murilo, e a cidade de Feira de Santana, a 20km, foi a solução. No entanto, a oficina de bicicleta tomava o tempo e Juraci não podia levar o filho até o município vizinho. O trabalho ficou dividido entre dona Raimunda e o irmão, Gil.
Quando Murilo tinha oito anos, já fazia o trajeto de 40 km, incluindo ida e volta, sozinho. Ônibus de sua cidade e depois 7km a pé. O destino não poderia ser outro: Murilo deu certo no futebol, ganhou títulos, jogou por grandes clubes e atravessou o mundo para jogar seu futebol na Rússia. Mas nunca, nunca esqueceu suas origens.
Foi um momento que está comigo. Eu não posso perder isso nunca. É minha raiz. Tudo o que eu tenho hoje é por causa do meu esforço, minha dedicação e da minha família, que está comigo até hoje."