Jucilei estava inquieto. Ele não treinaria naquele dia, mas tinha um recado duro para dar aos jogadores do Atlético Carioca, clube que disputa a Série C, o equivalente à quinta divisão do Rio. O mesmo volante que se destacou no Corinthians, chegou à seleção brasileira e foi ganhar dinheiro no exterior agora respira os ares da base da pirâmide do futebol.
Aos 34 anos, Jucilei é o capitão do time, mas sua influência vai além. O jogador, que nunca escondeu que procurou contratos rentáveis ao longo da carreira, é o dono do sítio no qual o Atlético estava concentrado. Com a autoridade de anfitrião, e como mais experiente dos jogadores que estavam naquele momento em uma roda, ele falou abertamente sobre sua insatisfação pela briga que acontecera na noite anterior. O motivo foi banal: dois jogadores disputavam uma cama no alojamento.
Antes da roda de conversas, havia a preocupação com o horário. Afinal, o campo alugado por R$ 200 não tem iluminação e o treino fatalmente terminaria no breu. O acesso ao local se dá por uma estrada de chão, ligada à RJ-116, na localidade de Papucaia, entre Itaboraí e Cachoeiras de Macacu, a cerca de 70 km do Rio. A bola por vezes vai parar no meio da mata ao redor — com sorte e insistência, alguém a encontra.
E Jucilei falou por cerca de 15 minutos:
A gente nasceu pobre, mas um pobre honesto, de caráter. (...) Isso aqui não é sacanagem. Se estão na sacanagem, procurem outra coisa para fazer."
Jucilei não está ali por necessidade. Ele tem recebido parcelas da rescisão contratual com o São Paulo. O dinheiro vai cair na conta até dezembro de 2023. Tendo como evento negativamente relevante uma decepção com o técnico Cuca, ele já se considerava aposentado antes de assinar contrato com o Atlético Carioca — a forma física não o desmente. Mas por que, afinal de contas, ele aceitou estar ali? Mesmo avesso a entrevistas, ele recebeu o UOL Esporte para contar.