Terremoto na NBA

Como dia de abalo sísmico afetou a liga que celebra uma nova estrela e não tem mais os Warriors como favoritos

Por José Edgar de Matos Do UOL, em São Paulo Arte/UOL

Dia 6 de julho. Breaking News! A Califórnia e parte do lado Oeste dos Estados Unidos enfrentam um terremoto de 7,1 de magnitude, tremor mais forte em 20 anos a atingir o estado. Os sismos foram sentidos até em Las Vegas, a mais de 600 km e sede de um torneio de verão da NBA que apresentava naquela mesma noite ao seu público o fenômeno Zion Williamson, desde já candidato a sucessor de LeBron James como queridinho do marketing da liga.

Enquanto torcedores, jornalistas e jogadores já consagrados - como o próprio LeBron - se preparavam para testemunhar a estreia de um dos jovens mais badalados das últimas décadas, fora da quadra a liga foi atingida por outro tipo de terremoto. No mesmo dia do sismo na Califórnia, Los Angeles Clippers e Los Angeles Lakers trataram de chacoalhar uma das pré-temporada mais malucas da história. O mercado pegou fogo desde os minutos iniciais.

O ala Kawhi Leonard, melhor jogador das finais de 2019 e destaque absoluto no título inédito do Toronto Raptors, assinou com os Clippers, pondo fim a uma longa e intensa novela. Como se não bastasse, recebeu a companhia do ala Paul George, estrela do Oklahoma City Thunder. Pelos Lakers, LeBron James receberia horas depois a confirmação que queria: a troca por Anthony Davis, um dos melhores jogadores do mundo, vindo do Nova Orleans, estava selada.

Enquanto novas constelações se formavam na Califórnia, Las Vegas vivia situação emergencial., Zion impressionou nos primeiros lances como profissional. Até que o terremoto, o literal, forçou a paralisação e cancelamento do jogo. O público saía do ginásio assustado, tentando assimilar também as notícias que chegavam aos seus celulares. Um tremor de impacto bem mais duradouro para a liga.

Arte/UOL
Harry How/Getty Images/AFP

O enigma Kawhi

Kawhi Leonard chegou, jogou, venceu e deixou Toronto. Tudo isso em apenas uma temporada. Os pedidos pela renovação por parte da população canadense, durante o desfile em que os Raptors exibiram orgulhosos o troféu do primeiro título de NBA, acabaram ignorados. O melhor jogador das finais demorou semanas para anunciar seu destino. Até que decidiu mudar de rumo, depois de ter liderado a franquia canadense na derrubada do hegemônico Golden State Warriors do armador Stephen Curry.

Dessas raras estrelas de poucas palavras, o ala optou pela Califórnia, mas rejeitou a ideia de atuar ao lado de LeBron. Os Lakers aguardaram pacientemente uma resposta e se decepcionaram. Kawhi quer ser a grande estrela novamente, assim como em Toronto, e elevar o Los Angeles Clippers a novo patamar. Para ajudá-lo, conseguiu convencer Paul George a forçar saída de Oklahoma City, mesmo tendo ainda dois anos de contrato. De repente, os Clippers já não eram mais os "primos pobres" de Los Angeles.

Antes de a bola subir, os Clippers já são protagonistas como nunca foram. Com Kawhi, George e uma base que deu trabalho nos últimos playoffs, a franquia chega à temporada como favorita.

Está claro que Kawhi quer encarar o desafio de vencer do seu jeito, independente, sem jogar com LeBron. Não acho que tenha a ver com os Lakers. Tinha mais a ver com as circunstâncias e o que já tínhamos aqui em Los Angeles

Kobe Bryant, sobre a decisão de Kawhi de assinar com os Clippers

Sean M. Haffey / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AF

Cidade das estrelas

Os Lakers precisam voltar a vencer. Dono de marca renomada mundialmente, a franquia vive a pior década de sua história. Seu processo de reconstrução foi reforçado pela contratação de LeBron James na temporada passada. A presença do (antigo?) autointitulado "Rei" da NBA não foi o suficiente para o time regressar aos playoffs. O astro precisava de ajuda.

Kawhi pode ter dito não ao veterano astro e à franquia, mas não é que eles tenham saído de mão abanando. Aí entra em cena Anthony Davis, um ala-pivô de muita técnica e capacidade atlética, adquirido em negociação com o New Orleans Pelicans. LeBron agora tem um atleta temido para dividir as atenções. Aos 26 anos, Davis também seria o homem a liderar a equipe num próximo ciclo.

Além de Davis, os Lakers se reforçaram com o ala Danny Green (campeão por San Antonio Spurs e Toronto Raptors) e bons arremessadores. Além disso, apostaram no ressurgimento de Dwight Howard (que já o melhor pivô da liga) e mantiveram o armador Rajon Rondo (campeão pelo Boston Celtics). Fica a expectativa, agora, de grandes confrontos entre os clubes que dividem ginásio em Los Angeles.

Ezra Shaw/AFP Ezra Shaw/AFP

É o fim?

Sabe aquele Golden State Warriors responsável por revolucionar o basquete e erguer a última dinastia da NBA? Sua torcida teme que não volte mais. A hegemonia do clube pode muito bem ter acabado com a derrota para o Toronto Raptors, de modo melancólico, levando em conta as lesões dos alas Kevin Durant e Klay Thompson.

Pela primeira vez após cinco anos o clube entra num campeonato correndo por fora. Durant e Andre Iguodala deixaram o elenco. Thompson, ainda em recuperação de uma cirurgia de reconstrução de ligamento no joelho, não tem data prevista para retorno - seria fevereiro, no mínimo, se ele voltar, mesmo. Sobraram Draymond Green e, especialmente, Stephen Curry. Símbolo do sucesso da franquia, o camisa 30 tem a missão de manter os Warriors nos playoffs. É desde já sério candidato a cestinha do campeonato.

Ao redor de Green e Curry está um elenco de apoio de nomes que variam de inexperientes a inexpressivos, devido às restrições impostas pela regulamentação financeira da liga. A diretoria ainda arquitetou a contratação do ala-armador D'Angelo Russell, mas sua adaptação ao sistema do técnico Steve Kerr é vista com curiosidade pelos scouts. Certo é que a capacidade defensiva do time vai cair.

Esses são alguns dos efeitos da saída de Kevin Durant. O craque das finais de 2017 e 2018, nos últimos dois títulos da franquia, foi para o Brooklyn Nets, para compor uma nova parceria com o armador Kyrie Irving. O problema é que o ala a princípio está fora da temporada. Ele se recupera de uma ruptura no tendão de Aquiles durante a final contra os Raptors.

Casa nova

A campanha do Golden State Warriors já tem ao menos um diferencial garantido. Depois de passar anos na Oracle Arena, em Oakland, a franquia passará a atuar no bilionário Chase Center, erguido sob o custo de R$ 4,16 bilhões na cidade de São Francisco. Serão quase 19 mil pessoas todos os jogos, em um novo ambiente, com uma renda astronômica para um novo Warriors:

O ginásio de R$ 4 bilhões dos Warriors

Ezra Shaw/Getty Images/AFP Ezra Shaw/Getty Images/AFP

Está diferente... Muito diferente. Olho para o lado e me sinto como um novato novamente por causa dessas mudanças todas. Agora temos de entender como fazer o time funcionar, depois de cinco anos com o mesmo time

Draymond Green, um dos All-Stars restantes no Golden State

Nas bilheterias...

Apesar de expectativa pela nova e caríssima casa, os Warriors não figuram entre os principais destinos dos torcedores até o momento. A franquia de Golden State aparece apenas como a sexta colocada no ranking da venda de ingressos para 2019/2020. As informações são do StubHub, site de propriedade do eBay para troca e venda de bilhetes.

Reforçadas, as duas franquias de Los Angeles lideram esta classificação, com os Lakers ocupando o primeiro posto. Os Sixers (3º), os Knicks (4º) e os Nets (5º) fecham o grupo dos cinco times mais procurados. Celtics (7º), Raptors (8º), Pelicans (9º) e Heat (10º) ainda completam a lista dos principais alvos dos fãs de basquete para a temporada que começa hoje (22).

Justin Heiman/AFP
Ezra Shaw/Getty Images/AFP

Façam suas apostas

A quebra da estrutura temida e vencedora do Golden State Warriors mudou a NBA. O então favorito absoluto dos últimos anos também perdeu espaço entre os candidatos ao título da temporada, segundo números da Westgate Las Vegas SuperBook, atualizados na semana passada.

Com Kawhi e Paul George, os Clippers surgem com os principais candidatos ao título, pagando, por isso, a menor recompensa para apostadores (3,5 para cada dólar apostado). Os Lakers aparecem logo atrás (4). Bucks (6), Rockets (8) e Sixers (8) fecham o top-5. O Golden State, bem modificado em relação aos anos de glória, paga 12.

Quatro mudanças para monitorar

  • Russell Westbrook no Houston

    Em troca por Chris Paul, o armador deixou o OKC Thunder, único clube que havia defendido em sua carreira. A explosiva parceria com James Harden vai funcionar?

    Imagem: Steve Mitchell-USA TODAY Sports
  • Kyrie Irving no Brooklyn

    O talentoso e controverso armador saiu de Boston pela porta dos fundos, com a esperança de formar um novo supertime em Nova York. Mas Durant não deve jogar neste ano

    Imagem: Nicole Sweet-USA TODAY Sports
  • Kemba Walker no Boston

    Walker chega à vitoriosa franquia para substituir Kyrie Irving. Depois de anos e anos com o medíocre Charlotte Hornets, espera poder ir longe nos playoffs pela primeira vez

    Imagem: Maddie Meyer/Getty Images/AFP
  • Al Horford no Philadelphia

    Mais uma baixa considerável em Boston. O pivô dominicano deixou a torcida bastante frustrada ao assinar com um de grandes rivais. Agora tenta ajudar o camaronês Joel Embiid

    Imagem: Elsa/Getty Images/AFP

O impacto de Zion

Cassy Athena/Getty Images Cassy Athena/Getty Images

O mercado da NBA gerou frenesi. Em termos de badalação, porém, será difícil superar o que cerca o ala-pivô Zion Williamson. Este novato de 2,01m e quase 130kg (oficiais - há quem diga que seja mais baixo e mais pesado) impressiona pelo tamanho e por uma combinação descomunal de impulsão e força física. Ele já estrela clipes de internet desde os tempos de colegial. Agora terá à disposição todo o aparato de distribuição da liga.

A pré-temporada só contribuiu para aumentar o frenesi. Zion apresentou lances plásticos e qualidades de jogo que o credenciam a causar impacto imediato entre "os grandões". A má notícia é que o corpo já cobrou uma resposta com poucos jogos no mais alto nível: uma lesão no joelho vai afastar a nova superestrela das primeiras semanas de temporada regular.

Justin Tafoya/Getty Images/AFP

Quem tem medo do Coringa?

Um panorama da Conferência Oeste

Desde a estreia nos cinemas, 'Coringa' se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. A atuação de Joaquin Phoenix comoveu quem assistiu e tornou o ator um sério nome ao Oscar. Na NBA, o 'Coringa' também encanta e aparece como candidato a grande protagonista de toda uma temporada inteira.

Apelidado com a alcunha do clássico vilão do Batman ("Joker"), o pivô Nikola Jokic se tornou rapidamente o protagonista do Denver Nuggets mesmo que esteja longe de ser o pivô mais rápido, ágil ou atlético da liga. Com visão de quadra incomum para um grandalhão e fundamentos exímios, o sérvio liderou o time ao segundo lugar no ultracompetitivo Oeste. Para este ano, com a base mantida e sem o "fantasma" Golden State, sua jovem equipe surge como postulantes ao topo da conferência.

Outra franquia a ser levada em conta na briga pelo título regional é o Houston Rockets, que, antes mesmo da chegada de Westbrook, foi o oponente que mais deu trabalho aos Warriors (quando completos) nos últimos campeonatos. O time parece contar com uma versão ainda melhorada de James Harden, que se apresentou em alto nível já na pré-temporada e promete mais peripécias com a bola.

Um clube que chega com tudo para o campeonato é o Utah Jazz, que parece preparado a subir degraus na conferência. O armador Mike Conley talvez seja o melhor de sua posição a nunca ter sido convocado para um All-Star Game. O elenco ainda incorporou nomes importantes como o ala croata Bojan Bogdanovic para a rotação. Ambos são jogadores que agregam experiência e eficiência ofensiva, pensando especialmente na pós-temporada.

É isso, Harden. Você agora vai unir forças com outro MVP, Westbrook

Streeter LECKA / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP Streeter LECKA / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP
Ronald Martinez/Getty Images/AFP

Giannis quer mais

Um panorama da Conferência Leste

Giannis Antetokounmpo entra em 2019/2020 para ratificar o status de MVP. Detentor do prêmio de jogador mais valioso no campeonato passado, o grego encara a responsabilidade de levar o Milwaukee Bucks à final da NBA. A franquia sustentou boa parte do elenco responsável por registrar a melhor campanha da temporada 2018/2019 e encara uma Conferência Leste desfalcada. Missão plausível, mesmo que o ala-armador Malcom Brogdon (agora no Indiana) faça falta.

O campeão da NBA Toronto Raptors perdeu simplesmente Kawhi Leonard, grande destaque da última final, e vai ter de confiar na constante evolução do ala-pivô camaronês Pascal Siakam para tentar defender o título. As chances são reduzidas.

O clube mais cotado a surgir como ameaça a Giannis e os Bucks é o Philadelphia 76ers, que contratou em Al Horford um reforço de peso. O clube optou por investir em jogadores altos, de mobilidade e perfil mais defensivo. A ideia é armar uma muralha com Horford e Embiid sustentando defesa bem física e dinâmica.

A ida de Horford para a Filadélfia e a saída de Irving para Nova York motivaram o Boston Celtics, outro time a sempre vislumbrar o topo do Leste, a se mexer. Para amenizar as perdas, a franquia trouxe o armador Kemba Walker e o pivô Enes Kanter, ambos em fase de adaptação ao trabalho de Brad Stevens. Walker chega a Massachusetts para se tornar a superestrela da tradicional equipe.

Onde assistir

  • ESPN

    A emissora vai transmitir 124 jogos da temporada regular (majoritariamente às quartas, sextas e sábados), além de 46 duelos dos playoffs, com direito às finais do Leste e a própria decisão da NBA. A grade começa com rodada dupla amanhã (23): Philadelphia 76ers x Boston Celtics (20h30 de Brasília) e Portland Trail Blazers x Denver Nuggets (23h). Todas essas partidas também serão exibidas no Watch ESPN, disponível para quem assina o UOL Esporte Clube.

    Leia mais
  • SporTV

    O canal começa a temporada com os dois jogos de hoje (22): Toronto Raptors x New Orleans Pelicans, às 21h, e Los Angeles Clippers x Los Angeles Lakers, às 23h30. O Grupo Globo exibirá pelo menos 100 jogos, entre fase regular e playoffs, e contará com a exclusividade das finais do Oeste.

  • Band

    São cerca de 50 partidas na TV aberta, às quintas e aos domingos. O Grupo Bandeirantes estreia na temporada com o esperado duelo entre Los Angeles Clippers x Golden State Warriors, dia 24 de outubro, às 23h30. As finais da liga também estarão na emissora.

  • League Pass

    A liga disponibiliza em seu site e também via aplicativo a transmissão de todos os jogos do campeonato um serviço de streaming, com pacotes de abrangência e custo diversificados. Os usuários que pagarem pelo serviço podem assistir ao jogo em diferentes línguas.

Os brasileiros

  • Nenê (Houston)

    O pivô seguirá por mais uma temporada com o Houston Rockets. Desde 2002/2003 na NBA, Nenê flerta com a possibilidade de ser o primeiro atleta do país e um dos raros nomes na história a alcançar os 1.000 jogos na liga de basquete mais famosa do planeta. Aos 37 anos, o veterano deve receber minutos pontuais na forte equipe texana, que deve brigar pelo título do Oeste.

    Imagem: J Pat Carter/Getty Images
  • Bruno Caboclo (Memphis)

    Embalado pela participação no Mundial da China, quando marcou Giannis Antetokounmpo na histórica vitória do Brasil contra a Grécia, o ala-pivô tem pela frente uma temporada de afirmação no Memphis Grizzlies, depois de ganhar minutos e fazer boas atuações no campeonato passado. Se mantiver a boa fase, pode virar o principal atleta do país no basquete mais famoso do planeta

    Imagem: Alonzo Adams/USA Today Sports
  • Raulzinho (Philadelphia)

    O armador brasileiro encara uma nova fase em 2019/2020. Raulzinho deixou o Utah Jazz e agora faz parte do elenco dos 76ers. No lado Leste, o jogador briga por espaço no elenco para ser uma alternativa ao titular inconteste Ben Simmons, um dos grandes nomes da franquia. Ser reserva imediato do australiano, aliás, será o grande objetivo para a temporada.

    Imagem: New Jersey. Elsa/Getty Images/AFP
  • Cristiano Felício (Chicago)

    Com contrato até 2021, o pivô terá um ano decisivo na carreira. Questionado pelo desempenho recente, o brasileiro ganha mais uma chance no Chicago Bulls. Em um elenco ainda em formação, disposto a testes, Felício pode cavar a renovação em meio à reconstrução do tradicional time ou chamar a atenção de outra franquia para ganhar fôlego na NBA.

    Imagem: Mike DiNovo-USA TODAY

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