'As pessoas me julgavam'

Nicole Cintra conta que olhavam torto para seu corpo: "Você gosta de estar grande, mas para as pessoas é incomum"



Textos Beatriz Cesarini e Paulo Favero
Fotos Marcelo Maragni

"No início, me incomodava um pouco com as críticas ao meu corpo, porque as pessoas me julgavam. Mas, depois, quando eu comecei a me desenvolver melhor no esporte, subir categoria, eu já fui gostando mais. É que o mundo do atleta é diferente, né? Você gosta de estar grande, volumosa. Só que, para as pessoas, no dia-a-dia, já é diferente, é mais incomum".

Nicole Cintra sempre foi ligada ao esporte por influência dos pais, que possuem uma academia de crossfit. Ela iniciou no judô, mas acompanhava o pai no levantamento de peso. "Tinha um CT do Fernando Reis em São Paulo, antigamente. Meu pai ia treinar aos sábados lá, para melhorar as técnicas e tudo mais, e eu ia com ele para assistir", conta.

Não demorou para ser vista por Luiz Lopes, técnico cubano de LPO. "Ele falava espanhol, não estava entendendo nada, mas ele disse: 'coloca a barra acima da cabeça' e eu obedecia. Foi aí que ele viu que eu tinha flexibilidade e coordenação", relembra. A partir daí que Nicole recebeu um convite para treinar com profissional no Clube Pinheiros. "Ele disse que eu tinha potencial".

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A atleta conta que a princípio não tinha nenhum tipo de compromisso com a modalidade, era mais algo de lazer. Chegou no Pinheiros e se impressionou com o tamanho do clube. "Aí eu entendi que o esporte profissional mesmo é muito além disso, é a vida. Você precisa dar a vida pelo esporte", afirma.

O potencial que o treinador viu em Nicole se transformou em grandes resultados. "Fui vice-campeã mundial em Las Vegas. Depois, fui para Fiji e fiquei em terceiro no Mundial Sub-20. Nessa época eu já estava na categoria de 64 kg", comenta.

"O levantamento de peso mexe com seu corpo na parte muscular, tem muita hipertrofia. As pernas ficam grandes, o ombro estruturado. Infelizmente, se você não fizer isso, não aguenta treinar, é uma carga muita pesada".

Durante a pandemia de covid-19, Nicole foi morar na casa do seu técnico para poder continuar praticando. Ficou três anos longe de sua família e teve de mostrar muita resiliência, pois o treinador era muito rígido. "Eu fiquei ainda mais disciplinada e amadureci muito rápido", explica a atleta.

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Nicole treinava no quintal da casa do seu técnico, com uma rotina pesada. O espaço não era igual de uma academia, que estavam fechadas por causa da pandemia. Em um dos exercícios, acabou sentindo uma dor no ombro e ao fazer ressonância constatou que tinha rompido o ligamento. "Aí tive que parar por um tempo", diz.

A atleta tem resultados expressivos que, segundo ela, a colocariam na disputa por uma medalha olímpica em Paris. Apesar disso, Nicole preferiu seguir outro caminho e está fazendo faculdade de Veterinária. "Não queria ter parado o esporte, mas eu já estava cansada. Era só dor. Eu estava criando uma depressão sem perceber. Eu ia treinar e começava a chorar. Não estava respeitando meu corpo e não tinha mais motivação", revela.

Fotos: Marcelo Maragni

Reportagem: Beatriz Cesarini e Paulo Favero

Designer: Bruna Sanches

Edição: Paulo Favero

Este é uma parte da série

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