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Como mobilizações de torcedores começam a fechar portas do futebol para envolvidos em crimes contra a mulher

Gabriel Carneiro Do UOL, em São Paulo Nino Carè/ Pixabay

Cuca trabalhou muito tempo em diferentes clubes do futebol brasileiro sem que sua condenação por violência sexual contra uma menina de 13 anos, em 1987, fosse assunto relevante diante da opinião pública. Hoje não é mais assim, tanto é que ele deu uma entrevista sobre o assunto após 34 anos e enfrentou rejeição de parte da torcida do Atlético-MG ao seu nome, por causa do episódio.

O que se busca não é o linchamento ou o foco em uma figura específica, mas sim, a partir da repercussão desses casos, a ruptura com uma estrutura que banaliza e - por que não - fomenta a continuidade de condutas violentas no ambiente do futebol e na sociedade."
Trecho do manifesto "#CucaNão" do coletivo "Grupa", de torcedoras do Atlético-MG, em fevereiro de 2021.

Toda a mobilização aqueceu debates, mas não impediu a contratação de Cuca. O contrário aconteceu com o atacante Wesley, hoje no Vitória. Condenado em 2019 por lesão corporal em violência doméstica depois de agredir a namorada, ele chegou a acertar com Goiás, Paraná e Juventude, mas a repercussão negativa fez os clubes desistirem. Mesmo no time atual persistem movimentos contra seu nome.

Ano passado, a contratação de Robinho pelo Santos causou impacto, mas neste caso a fuga de patrocinadores e as possíveis consequências financeiras é que mudaram a história — o que mostra que a discussão sobre mobilizações de torcedores que estão começando a fechar portas de clubes para profissionais envolvidos em crimes contra a mulher pode ter várias dimensões, da sociológica à monetária, passando pela esportiva. Neste debate só não vale o silêncio.

Nino Carè/ Pixabay
Ari Ferreira

Caso Wesley

As primeiras notícias sobre o "caso Wesley" foram publicadas em 2020, em meio à repercussão da contratação de Robinho pelo Santos.

Em outubro, o jogador então vinculado ao Red Bull Bragantino foi parar na Delegacia em Bragança Paulista porque policiais identificaram um mandado de prisão contra ele, que estava condenado a uma pena de um ano e quatro meses em regime aberto por lesão corporal, mas não havia cumprido sua obrigação de comparecimento pessoal e periódico em juízo.

Em janeiro do ano anterior, ele tinha sido preso em flagrante na cidade de Sales Oliveira, acusado de agredir a namorada com golpes de faca, além de ameaças que a mulher afirmou serem constantes. No dia da ocorrência, Wesley afirmou ter praticado o crime por ciúmes. Ele foi condenado e recorreu, mas a sentença foi mantida e não cabe mais recurso.

Na época, Wesley jogava no Santos B, emprestado pelo Botafogo-SP. Depois foi negociado com o Bragantino, que virou Red Bull Bragantino, sem que isso fosse uma questão. Mas, depois das notícias, virou. Ele foi afastado, não voltou a jogar pelo time na Série A e viu as portas fechadas em uma pequena lista de clubes nos meses seguintes.

Pietro Carpi

"Que vá viver sem holofote"

Em 23 de novembro de 2020 foram publicadas as primeiras notícias que davam conta do interesse do Paraná em Wesley. Houve forte mobilização de torcedores, especialmente do movimento feminino "Gralhas da Vila". Dois dias depois, o clube desistiu da contratação.

O Botafogo-SP abriu as portas, mas sob grande polêmica. Houve uma votação entre conselheiros que aprovou a contratação, justificada pelo combate a "outro problema grave, a dificuldade na reinserção social de condenados pela Justiça". O clube não informou se tinha outros funcionários na mesma situação. Oito jogos, nenhum gol.

Em 12 de fevereiro deste ano, Wesley foi anunciado pelo Juventude, time da Série A, e treinou durante dez dias antes do anúncio da desistência por pressão pública e de patrocinadores. Pouco antes, no Goiás, a situação não chegou tão longe, como explica Marcelo Segurado, ex-gestor de futebol do clube.

"Não sabíamos o que tinha acontecido com ele no passado e estávamos atrás de um jogador com essas características de jogo. Fui atrás, o treinador achou interessante, mas nos questionamos a razão de ele não estar jogando. Vimos que tinha feito uma cirurgia recente e ficamos presos nisso, mas fechamos em torno do nome. No outro dia recebi a notícia de que ele tinha sido condenado e encerrei a conversa", diz, antes de completar:

Uma pessoa do clube me disse que não enxergava bem o fim da negociação porque ele [Wesley] já estava pagando pelo crime. Eu disse que concordava, mas que ele observasse que em todas as profissões há um conselho de ética que diz: se o profissional cometeu um crime como este ele é excluído da profissão. Um médico agressor de mulheres perde o CRM, então por que se passa a mão nos jogadores de futebol? Aí dizem: 'ah, então ele não tem direito de viver a vida e trabalhar?'. Tem, mas em outra profissão, porque jogador de futebol é ídolo e precisa ser referência de comportamento. Que vá viver sem holofote. Pessoas que têm esse papel precisam preservar sua honra."

Em março, Wesley foi anunciado como contratação do Vitória. Torcedores e torcedoras fizeram manifestações nas redes sociais e patrocinadores pediram posicionamentos ao clube. Ele fez um jogo pelo novo clube e logo depois foi afastado por causa de uma lesão na coxa. O assunto esfriou e ele tem jogado normalmente.

José Eduardo Marchió, advogado de Wesley, diz que a condenação à pena de um ano e quatro meses em regime aberto está "sendo cumprida à risca". Acrescenta: "condenação esta que não o impede de exercer a sua profissão".

A responsabilidade social dos clubes vem sendo cobrada pelas torcidas. Tanto em datas importantes, quanto nos momentos em que ocorre algum episódio que fere alguém socialmente. As discussões sobre machismo, racismo, lgbtfobia, entre outras, estão em pauta, mas em alguns lugares com mais abertura que em outros. Basta observar campanhas como do futebol feminino do Corinthians, com o "Respeita as Minas", e o "Misma Pasión" que ganhou as redes sociais no mundo todo após a postagem da goleira do Real Madrid

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Movimento "Mulheres de Arquibancada", sobre o caso da espanhola Misa Rodríguez

Infelizmente o mundo do futebol e a arquibancada ainda são um ambiente muito masculino, mas de uns tempos pra cá estamos vendo movimentos femininos tendo cada dia mais voz. Nós, como grupo, pensamos exatamente dessa forma: impactar e juntar meninas que querem vivenciar o que é a arquibancada e torcer pelo seu time sem intimidação. É preciso muita coragem para brigar com o meio, mas nossa função é não desistir. Cabe aos clubes e federações serem exemplos, com punições mais severas, mais palestras e conscientização de quem administra o esporte num todo."

E a ideia do movimento hoje formado por 102 mulheres

Pietro Carpi Pietro Carpi

Torcedor cobra boa reputação

Um estudo bancado por clubes europeus, que também pesquisou o mercado brasileiro, mostra que o fã de futebol do futuro é alguém que cobra de seus ídolos posicionamentos e boa reputação.

Entre as pessoas que declararam à pesquisa não ter interesse pelo esporte, 11% dizem que rejeitam o futebol porque ele não tem função social. E 7% não se interessam porque não há diversidade. Outros 5% afirmam que o futebol não é inclusivo — estes últimos estão no grupo mais jovem. Ou seja, a responsabilidade social tem o poder de ditar se o futebol será ou não relevante para as próximas gerações e quem não começar a se adaptar, seja clube, federação, empresa ou até atleta, tende a perder espaço.

O tema da igualdade de gênero, do feminismo, o debate sobre a violência doméstica, tem ganho terreno. Por mais que tenhamos retrocesso aqui no Brasil sobre essa pauta, ela cresce no debate internacional, acadêmico e na opinião pública, o que se reflete no esporte. Temos um início de reconhecimento de que atores sociais de grande peso, como são os clubes de futebol, são também responsáveis pelo discurso que se propaga e pelas ações dos seus membros."
Mônica Sapucaia Machado, doutora de Direito Político e Econômico e autora do livro "Direito das mulheres: Educação Superior, Trabalho e Autonomia".

A violência contra a mulher é um tema urgente neste debate.

Leonardo Moreira

"Nós esperávamos que essa contratação tivesse sido evitada"

Em 30 de março, o Fortaleza anunciou a contratação do zagueiro Marcelo Benevenuto, ex-Botafogo. Não demorou para as notícias policiais relacionadas ao nome repercutirem: ele é acusado de agressão por uma ex-namorada, em 2017.

Na época, a vítima declarou que o jogador a agrediu com um soco no rosto durante uma discussão motivada por ciúmes. O zagueiro foi intimado, negou a acusação, e o caso acabou arquivado. Porém, o inquérito foi reaberto a pedido do Ministério Público, que fez denúncia em dezembro. Ainda não houve julgamento e, como se trata de um processo que envolve a Lei Maria da da Penha, há segredo de Justiça.

Diante da repercussão em parte negativa da contratação, o Fortaleza disse no dia seguinte ter firmado uma cláusula contratual que permite a rescisão, "a qualquer tempo, em caso de haver condenação judicial do atleta" e, em seguida, colocou o jogador em campo normalmente. Segundo um movimento atualmente formado por 149 torcedoras do time chamado "FEC Para Elas", isso não é suficiente.

"A liderança do projeto estudou todas as informações sobre o caso para então trazer uma nota com informações concretas e levar o debate à torcida em geral, para que chegasse aos dirigentes do clube já com o entendimento que a melhor decisão era a não contratação. O Fortaleza se limitou a dizer que o contrato tem cláusula de rescisão, mas o que esperávamos era que essa contratação tivesse sido evitada, tendo em vista que o clube vinha há alguns anos se posicionando fortemente no combate a crimes contra mulheres", manifesta o grupo feminino.

O "FEC Para Elas" anunciou em seguida a suspensão de apoio ao futebol masculino do Fortaleza enquanto durar o contrato de Marcelo Benevenuto, dando foco ao futebol feminino, futebol de base e outras modalidades. A página e suas organizadoras sofreram ataques online — esta é a razão de, por exemplo, as declarações desta reportagem não contarem com uma porta-voz específica.

"Surgiram muitas ofensas e ataques de homens machistas e misóginos, que se escondem muitas vezes atrás de perfis fakes para destilar ódio. Não foi e nem tem sido fácil lidar com as ofensas e ataques, mas não temos nenhum arrependimento de nos posicionar e de lutar pelo respeito ao público feminino."

Outros casos no Brasil

Divulgação

Robinho

Condenado em novembro de 2017 a nove anos de prisão por abuso sexual em grupo de uma mulher albanesa na boate Sio Café, em Milão, em janeiro de 2013, o jogador aguarda julgamento de seu recurso na última instância - que é quando pode ser considerado culpado, segundo a Justiça italiana. Desde a primeira condenação, jogou no Atlético-MG e em dois clubes da Turquia e pertenceu ao Santos.

Reprodução/Facebook

Bruno

Condenado em março de 2013 a mais de 20 de prisão pelo sequestro e assassinato da ex-namorada, a modelo Eliza Samúdio, e sequestro e cárcere privado do filho do casal, o jogador passou oito anos e dez meses em regime fechado. Em julho de 2019 passou ao semiaberto. Defendeu dois clubes de Minas Gerais e o Rio Branco-AC na Série D. Em março assinou com o Araguacema-TO.

Divulgação

Jean

Em dezembro de 2019, o goleiro foi acusado de agressão pela esposa, Milena Bemfica. O casal estava em férias nos Estados Unidos junto com as duas filhas. Ela postou fotos da agressão e registrou ocorrência. A promotoria da Flórida solicitou à Justiça que o caso fosse arquivado. Jean teve o contrato suspenso com o São Paulo e foi emprestado ao Atlético-GO. Negociou com o Grêmio para 2021, mas torcedores protestaram. Está no Cerro Porteño (PAR).

Pedro Souza/Atlético-MG

Cuca

O hoje treinador do Atlético-MG ainda era jogador, em 1987, quando foi detido com outros três jogadores do Grêmio (Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi) sob a acusação de terem estuprado uma jovem de 13 anos durante uma viagem à Suíça. Ficou preso por 30 dias, pagou fiança, voltou ao Brasil e após dois anos foi condenado a 15 meses de prisão. A pena prescreveu em 2002, Cuca se diz inocente, mas o assunto resiste.

Divulgação

Dudu

Em junho de 2020, Mallu Ohanna acusou o marido Dudu, então no Palmeiras, de agressão. Ela relatou ter sofrido socos e puxões de cabelo durante um encontro na garagem. O atacante já tinha sido preso em 2013 por acusação parecida, mas fez acordo de serviços comunitários. Ele foi emprestado ao Al-Duhail, do Qatar, no mês seguinte. Neste ano, foi inocentado por falta de evidências, além de o Ministério Público ter pedido abertura de quatro processos contra Mallu. Ele pode voltar ao Palmeiras.

REUTERS/Denis Balibouse

O tema da ressocialização

Um dos debates levantados por casos assim diz respeito à reinserção social de ex-infratores. Assim explicam sua atitude o Botafogo-SP, sobre a contratação de Wesley no ano passado, e também os clubes que contratam o goleiro Bruno.

A ressocialização é outro dos temas urgentes da realidade brasileira, porque o objetivo da pena é reeducar - em boa parte das vezes por meio do trabalho - pessoas que cumpriram condenações ou ficaram privadas de liberdade. Os dados mais recentes constam em relatório de 2015 do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada): apenas 20% dos egressos do sistema carcerário conseguem um emprego.

Mas neste caso, como diz a pesquisadora Mônica Sapucaia Machado, a situação precisa ser observada sob outro ponto de vista: "Um clube de futebol é uma entidade que também constrói cultura, narrativa, aquela coisa do exemplo, da criação de uma relação afetiva e de envolvimento suficientemente grandes para que o que seus jogadores, técnicos ou dirigentes façam sempre repercuta e influencie.".

"Quando os clubes, que são majoritariamente controlados por homens, aceitam contratar alguém que foi condenado ou mesmo acusado em processo já avançado, com bastante provas, alguém que é um agressor de mulheres, é um recado muito ruim. É um recado de que a violência doméstica não é tão importante assim. É difícil um jogador preso por outras razões ser reincorporado, mas a violência contra a mulher é menos considerada. Como se fosse um escape, um deslize. E não é."

Não existe nenhuma lei que proíba um atleta de voltar a jogar caso tenha sido condenado por violência contra a mulher, mesmo por feminicídio, como é o caso do goleiro Bruno. Mas segundo especialistas, o discurso de ressocialização acaba não sendo tão profundo quando o jogador é o único ex-detento ressocializado em qualquer posto de trabalho do clube que usa esse argumento.

Assim diz Mônica Sapucaia Machado: "Esse debate está muito mais vinculado à uma tentativa de desmontar a luta em defesa do direito das mulheres do que da inserção do apenado, isso é muito claro. É preciso demonstrar o quão errado é glorificar um agressor."

Leia mais: Pode jogar. Mas deve? Goleiro Bruno, condenado por feminicídio, e o círculo vicioso de suas tentativas de voltar ao futebol.

Há uma coisa moderna de olhar o esportista vencedor como herói. Adoramos criar um herói. Não é só alguém que faz bem seu trabalho, é um herói da nação ou daquele grupo. Mas alguém que agride mulher e não consegue se comportar como cidadão não pode ser um herói ou um ídolo. Não digo que a pessoa que cumpriu sua pena e saiu não possa trabalhar, e sim que ela não pode ser um ídolo, voltar ao seu lugar como se nada tivesse acontecido

Mônica Sapucaia Machado, advogada especialista no tema

Divulgação

Quando o clube sofre no bolso

Robinho foi contratado pelo Santos em outubro de 2020. Ele era condenado desde três anos antes pela Justiça da Itália por violência sexual em grupo a uma albanesa de 23 anos, em janeiro de 2013. O clube ignorou a informação no momento do anúncio, mas grupos de torcedores e torcedoras se posicionaram contra.

Em nota oficial consequente da repercussão, o Santos afirmou que lamentava a "cultura dos tribunais da internet" e que não daria a Robinho uma "sentença antecipada", além de outras defesas públicas — especialmente do então presidente do clube, Orlando Rollo: "Atire a primeira pedra quem nunca pecou. E será que ele pecou?", questionou, à "Folha de S. Paulo".

O quadro só começou a mudar em direção à suspensão do contrato em 16 de outubro, quando novas gravações do processo na Itália foram divulgadas e os patrocinadores do clube começaram a debandar. Quatro empresas disseram que romperiam o apoio financeiro ao Santos se Robinho fosse mantido. Pressionado, o clube afastou o ídolo e não o colocou em campo até o fim do contrato, em fevereiro.

A pressão dos patrocinadores é um importante aliado dos grupos que se mobilizam contra esse tipo de negociação, diz Renê Salviano, especialista em captação de patrocínios que, até janeiro de 2021, foi diretor de marketing e novos negócios do Cruzeiro: "Acho que os torcedores querem ter voz, querem ser ouvidos, então as manifestações são uma forma de mostrarem a força que têm. É obrigação da instituição colocar o torcedor como parte do processo", diz, antes de completar:

O torcedor geralmente não se sente parte, não se sente representado, e isso está mudando. Os clubes precisam entender que faz parte do mundo. Várias e várias empresas, fora do ambiente esportivo, têm essa preocupação. Pensar em responsabilidade social se tornou o pilar de qualquer instituição. Quando o torcedor pressiona pedindo cancelamento de patrocinador é a forma que ele tem de dizer que não quer a agressão de mulheres, que é contra todas as formas de violência."

Pela experiência de três anos no Cruzeiro, Renê Salviano nota um aumento do alcance da pauta dentro dos clubes: "Antes era muita ação de marketing, o cronograma de trabalho tinha o dia disso, dia daquilo, e o clube fazia um post. Hoje vejo um pensamento mais no dia a dia, com ações concretas e campanhas. No fundo, o torcedor quer que se trate a instituição como ele trata, como família."

Ari Ferreira

Tem solução?

A resposta para todo esse quadro passa por muitas frentes.

Marcelo Segurado, dirigente de clubes, diz que há urgência de aumentar o sarrafo no R.H.: "O clube para contratar treinador, jogador, seja qual for o profissional, terá que fazer uma avaliação no aspecto profissional e também na sua vivência pessoal e ações. Se o futebol se tornou um grande negócio, precisa ser tratado assim. A sociedade cobrará dos clubes não só valor técnico, mas um conjunto de atitudes."

Segundo ele, também pode partir dos clubes a realização de campanhas de educação dentro das categorias de base e departamento profissional, algo ainda incomum no Brasil.

Já de acordo com as integrantes de grupos femininos ligados aos clubes, o caminho é manter atividade, mesmo diante de ofensas. "Quando o clube tem uma torcida que se posiciona, os dirigentes começam a entender que precisam se posicionar também e que a não contratação de profissionais com esses históricos negativos é uma decisão fundamental", diz a "FEC Para Elas".

As representantes deste movimento também acham que é hora de as pressões irem para além dos clubes até as federações. Quando as entidades que organizam campeonatos tiverem ações práticas pode ser dado um passo importante. Um pensamento que Mônica Sapucaia Machado leva a outro patamar: "Por que não se discute a distribuição de funções nos conselhos e federações? Quando mais mulheres tomarem decisões a aceitação à violência tende a parar de reverberar."

A grande ferramenta para transformar esse debate é o desmonte do discurso 'ah, tudo bem, não foi bem assim, quem nunca fez?', como aquele comentarista [o ex-técnico René Simões] que disse que tinha que liberar o futebol na pandemia, porque senão o cara ficava nervoso e batia na mulher. O comentarista precisa ser retirado, o dirigente e o jogador. Como política, compliance, estrutura de empresas esportivas que querem entender esse novo momento."

René Simões, dias depois, admitiu erro ao relacionar volta do futebol com violência à mulher.

Na dúvida, o ex-diretor do Goiás Marcelo Segurado tem uma sugestão: "O melhor que você tem a fazer num caso assim é não contratar [profissional do futebol envolvido em crime contra a mulher], porque a tendência cada vez maior será rejeição. Quando você contrata é como se desse um tapa em todas as mulheres."

Deborah Faleiros/UOL

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, a cada dois minutos uma mulher sofre violência doméstica física no Brasil.

Ligue 180 é o canal criado para mulheres que estão passando por situações de violência. A Central de Atendimento à Mulher funciona em todo o país e no exterior, 24h por dia. A ligação é gratuita.

O Ligue 180 recebe denúncias, dá orientação de especialistas e encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico. Também é possível acionar esse serviço pelo Whatsapp. Nesse caso, acesse o (61) 99656-5008.

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