Cuca trabalhou muito tempo em diferentes clubes do futebol brasileiro sem que sua condenação por violência sexual contra uma menina de 13 anos, em 1987, fosse assunto relevante diante da opinião pública. Hoje não é mais assim, tanto é que ele deu uma entrevista sobre o assunto após 34 anos e enfrentou rejeição de parte da torcida do Atlético-MG ao seu nome, por causa do episódio.
O que se busca não é o linchamento ou o foco em uma figura específica, mas sim, a partir da repercussão desses casos, a ruptura com uma estrutura que banaliza e - por que não - fomenta a continuidade de condutas violentas no ambiente do futebol e na sociedade."
Trecho do manifesto "#CucaNão" do coletivo "Grupa", de torcedoras do Atlético-MG, em fevereiro de 2021.
Toda a mobilização aqueceu debates, mas não impediu a contratação de Cuca. O contrário aconteceu com o atacante Wesley, hoje no Vitória. Condenado em 2019 por lesão corporal em violência doméstica depois de agredir a namorada, ele chegou a acertar com Goiás, Paraná e Juventude, mas a repercussão negativa fez os clubes desistirem. Mesmo no time atual persistem movimentos contra seu nome.
Ano passado, a contratação de Robinho pelo Santos causou impacto, mas neste caso a fuga de patrocinadores e as possíveis consequências financeiras é que mudaram a história — o que mostra que a discussão sobre mobilizações de torcedores que estão começando a fechar portas de clubes para profissionais envolvidos em crimes contra a mulher pode ter várias dimensões, da sociológica à monetária, passando pela esportiva. Neste debate só não vale o silêncio.