No futebol, a diferença entre o herói e o vilão não está no homem, mas no ângulo. Paolo Rossi, que morreu esta quarta-feira (9), aos 64 anos, talvez seja a melhor representação de ambos. Um atacante galante e habilidoso que surgiu como uma joia em Vicenza, sujou-se em um escândalo de manipulação de resultados e por muito tempo foi nome proibido em um Brasil machucado pela "Tragédia do Sarriá", antigo estádio em Barcelona.
A Copa do Mundo de 1982 parecia destinada à seleção brasileira, que transbordava talento individual e chegava à segunda fase embalada e cercada de uma quase certeza do tetracampeonato. Mas nem o time comandando por Telê Santana e nem os torcedores contavam com Paolo Rossi, que fez os três gols da eliminação brasileira na vitória da Itália por 3 a 2. Aquele único jogo já seria o suficiente para tornar o atacante, então com 25 anos, inesquecível e cravar seu nome sempre na memória de torcedores italianos e brasileiros.
II Bambino D'Oro — O Menino de Ouro — só foi àquela Copa porque teve sua suspensão reduzida pelo envolvimento no Totonero, infame caso de placares combinados do futebol italiano, que havia estourado em 1980. Com a pena reduzida de três para dois anos, foi liberado para ir à Copa. E fazer o que fez.
A Itália foi tricampeã mundial em 1982, o que na época a fez empatar com o Brasil como as duas seleções mais vitoriosas das Copas. Paolo Rossi foi artilheiro com seis gols e eleito o melhor jogador, e não à toa. Fez dois gols na Polônia, na semifinal, e também o primeiro da final contra a Alemanha, de modo que nós, brasileiros, não somos os únicos a tratá-lo como vilão. Na Itália, no entanto, Paolo Rossi é herói. Neste ano, em que o mundo parece se acostumar a perder, aconteceu de novo. Foi-se um dos grandes — dessa vez, um carrasco. E o futebol chora a morte de Paolo Rossi, o homem que já fez o Brasil chorar.