O UOL Esporte ouviu ou teve acesso a relatos detalhados de cinco pessoas envolvidas diretamente no esquema, e as narrativas convergem para uma rotina com seis a 30 mulheres ocupando as propriedades de Saul Klein em diversos momentos entre 2008 e 2018, e sendo submetidas a uma série de exigências nada usuais.
O modus operandi de recrutamento do esquema era o mesmo ao qual J. conta ter sido submetida: um teste falso, para uma possível campanha como modelo ou promotora de redes de varejo ou supermercados, com reprovação e proposta do "teste com o príncipe" como alternativa.
Os relatos à reportagem apontam que entre 15 e 20 mulheres eram convocadas à residência do empresário entre quinta-feira e domingo, toda semana. A remuneração pelo período era entre R$ 3 mil e 4 mil reais, com acréscimos por cada dia de permanência a mais.
Durante a estadia, era obrigatório que todas se apresentassem pontualmente para as três refeições e vestissem roupas sensuais determinadas pelo anfitrião - uso de minissaias era requisitado. A orientação era para que se referissem a Klein por termos como "príncipe", "amor" ou o apelido "Zinho".
As mulheres eram pressionadas a se enquadrarem em um perfil cultural, fazendo aulas de balé, canto, lendo determinados livros escolhidos pelo empresário, assistindo aos vários DVDs piratas e encenando ou debatendo depois com Klein.
A ordem era para que houvesse controle rígido do peso e submissão a uma série de tratamentos estéticos e médicos, que variavam de idas ao salão de beleza a intervenções com cirurgião plástico, sempre realizadas em uma das propriedades do empresário. O biótipo preferido era de mulheres magras e jovem, "sem peito e sem bunda", na descrição de uma das mulheres que denuncia o esquema.
A defesa de Klein afirma que as práticas são naturais nas relações "sugar daddy" e que os procedimentos eram presentes, parte do fetiche. "Nesse campo de exercício regular de direito, o Sr. Saul Klein por anos celebrou festas periódicas das quais participaram diversas mulheres com as quais mantinha laços 'daddy-baby'. O maior deleite do Sr. Saul Klein nesses encontros vinha da interação pura e simples com moças interessantes e bonitas - conversas, jogos, danças, leituras, compartilhamento de experiências ligadas à arte e à gastronomia etc. Essa era a fantasia dele: estar cercado de mulheres agradáveis, com quem pudesse livremente passar horas de prazer mental e físico", diz.
À noite, a rotina dava lugar a festas, que tinham no anfitrião o único participante do sexo masculino, das quais as mulheres participavam obrigatoriamente em trajes de banho ou nuas, e eram estimuladas a manterem relações sexuais entre si. Algumas eram selecionadas para a prática de atos sexuais com o empresário - havia um rol de preferidas que eram escolhidas com frequência, sempre mais de uma. Relatos de mulheres que frequentavam a residência de Klein dizem que ele tinha predileção por sexo anal, se incomodava com qualquer expressão de dor e realizava todos os atos sem a utilização de preservativo.
À reportagem, as mulheres não citaram ameaças ou emprego de violência física para forçá-las a atos sexuais. Os relatos são de pressão psicológica feita por encarregados de manter o suposto esquema, lembrando os valores já gastos pelo empresário com as garotas e avisando a quem se recusasse que teria que deixar o local e nunca mais retornar - a essa altura, várias das mulheres eram financeiramente dependentes da situação. Essas conversas, por vezes, aconteciam em meio a presença de seguranças.
Os advogados do empresário não negam que tenha havido relações sexuais, mas afirmam que elas nem sempre ocorriam e, sempre que existiram, foram consensuais.
Nessas festas poderiam, ou não, ocorrer relações sexuais, sendo comum que tais eventos se esgotassem apenas em divertimento não-sexual. Quando ocorreram, porém, foram absolutamente consensuais, afinal, os participantes eram maiores, desimpedidos, e estavam ali de livre e espontânea vontade - e, saliente-se, todas queriam voltar aos eventos, em franca demonstração de que estavam de acordo com o que ali acontecia.
Em alguns finais de semana, as festas eram transportadas para um luxuoso sítio no interior de São Paulo, apelidado de "o Spa" pelas mulheres. Ali, o número de garotas dobrava, e cerca de 30 participavam dos eventos. O uso de telefones celulares ou qualquer tipo de contato com terceiros no mundo exterior era, segundo as mulheres, estritamente proibido (o empresário contesta essa versão). De segunda a quarta, apenas cinco ou seis mulheres permaneciam nas propriedades de Klein.