Na comunidade dos Coelhos, um bairro pobre na região central do Recife, nasceu um garoto nos anos 1980. Brivan Marques, carinhosamente apelidado de Evinho, foi diagnosticado ainda bebê com paralisia espástica —uma doença neuromotora que o impede de mover braços e pernas voluntariamente.
Evinho foi uma criança protegida, mas não bloqueada: o pai deixava-o sentado na rua para que ele pudesse jogar futebol com outros garotos —ele adorava. Na adolescência, o irmão mais velho, Britshvan Marques, o Van, o levava para as peladas. Enquanto esperava sua vez de jogar, Van ficava com o garoto no colo. Quando entrava em campo, outro colega segurava Evinho, que assistia, fascinado, ao irmão jogar bola. Mesmo sem andar ou correr, o menino vivenciava o esporte que se tornaria sua grande paixão.
Aos 14 anos, torcedor assíduo do Santa Cruz e fã do italiano Milan, Evinho decidiu que queria dirigir um time. Convocou os pais e o irmão para ajudá-lo a criar um projeto social para levar o esporte que ele tanto ama para as crianças carentes de sua comunidade. As condições financeiras dos pais eram precárias, mas eles nem cogitaram dizer não ao filho. Em 14 de abril de 1998, nascia um novo Evinho e, junto com ele, o time Milan dos Coelhos, em homenagem justamente ao time italiano.
Correram atrás de uma bola, de coletes e de um espaço. Ainda hoje, mais de duas décadas depois dessa conversa, o time continua com poucos recursos. Aos trancos e barrancos, sobrevive, tira crianças e adolescentes do tráfico e faz Evinho viver o sonho todos os dias. Ao longo de 22 anos, mais de três mil crianças já foram atendidas pelo projeto. O único sonho que ele ainda não viveu —mas morre de vontade de realizar— é conhecer o inspirador Milan da Itália.