Há uma discrepância, entretanto, ao se comparar a política externa pública e a dos bastidores. Se há divergências e relação vetada nos discursos oficiais, em virtude da defesa dos árabes em relação à cobrança do território palestino, nos bastidores Qatar e Israel possuem interesses em comum - e até trabalham unidos em algumas destas questões.
"No momento atual é importante para o Qatar ter Israel como aliado. O Qatar sabe que para manter boas relações com os Estados Unidos, que de alguma forma garante a segurança do Qatar, precisa ter boas relações com Israel", afirma o estudioso da região, que vê colaboração dupla nesta questão, o que impediu até agora, por exemplo, uma cobrança do grupo responsável por controlar o PSG pela diplomacia de Neymar para com Netanyahu.
"Para Israel, o Qatar é visto como um ator útil, porque, através do dinheiro enviado pelo Qatar ao Hamas, Israel tem a certeza que o Hamas vai continuar controlando a Faixa de Gaza. O papel do Hamas é importante para Israel, porque grupos menores são muito mais radicais do que o Hamas. Israel precisa da permanência do Hamas e quem financia isso é o Qatar", relata José Antônio Lima, que vê forte interesse de Israel na ida de Neymar ao país.
"Esse convite feito pelo Jair Bolsonaro e pelo Benjamin Netanyahu a dois dos principais esportistas brasileiros [Neymar e Gabriel Medina] está inserido em contexto que Israel está realizando uma campanha de relações públicas. Importante lembrar que Israel, de alguma forma, é quase uma pária internacional, porque mantém uma ocupação ilegal na Cisjordânia e mantém um bloqueio extremamente rígido na Faixa de Gaza, os territórios palestinos", encerra.