Quando jovem, o velocista Claudinei Quirino vivia em um orfanato. Um dos traumas que ele carregou pela vida foi o medo de dormir em beliche, porque sempre tinha alguém para derrubá-lo no chão. Os outros traumas, o técnico José dos Santos Primo ajudou a curar.
"Eu saí do orfanato, comecei a treinar em Lençóis Paulista e ele me viu correndo e me levou para Araçatuba. Cheguei lá e era um momento de muita rebeldia minha. Eu tinha uma raiva contra o mundo. Contra todo o mundo. Eu treinava para destruir qualquer pessoa que passasse na minha frente". Essa fúria contra a humanidade foi domada pelo velho Primo, que assinou um documento no orfanato se responsabilizando pelo comportamento do jovem Claudinei, permitindo que aquele garoto se tornasse um dos maiores velocistas brasileiros da história.
Quando você mora no orfanato, você adquire várias coisas, né? E o mundo parece que era meu inimigo. Eu não acreditava em mim, eu achava que eu seria um bandido. Vi uma oportunidade ali no esporte, mas sempre com um pezinho atrás. O Primo foi uma das primeiras pessoas na vida a acreditar em mim".
Claudinei Quirino, dono de uma medalha olímpica e três em mundiais de atletismo
Primo conhecia o mundo e as pistas. Representou o país em competições na década de 50 e foi o garimpeiro que burilou várias gerações de esportistas. Era simples. Muitas vezes comprava remédio e comida para seus meninos e meninas com o dinheiro que poderia dar um pouco de conforto em uma vida modesta. Tinha 85 anos quando morreu de câncer, há uma semana. Poucos souberam.