Nesse ponto da investigação, tínhamos duas certezas:
- O acidente aconteceu em Brasília;
- Foi grave.
E uma suspeita sem comprovação: o acidente poderia envolver uma mulher.
O próximo passo foi buscar pessoas ligadas ao Gama, clube que Orlando treinou, que, talvez, tenham se encontrado com ele naquela última viagem. Pensando nisso, chegamos em Antônio Alves do Nascimento Neto, presidente do Gama entre 1998 e 1999.
O relato que ele fez tem um nível de detalhes muito mais alto do que o de outras pessoas. Envolve horários, locais, pontos da lesão que não tinham sido ainda levantados. O Centro de Educação Jurídica da Universidade do Novo México, nos EUA, ensina que a credibilidade das testemunhas pode ser determinada pela “robustez do depoimento, quantidade de detalhes e a precisão sobre acontecimentos do passado”.
Tudo isso levou a reportagem a acreditar que a versão de Antônio Alves é a mais próxima do que realmente aconteceu entre todas as que ouvimos. É ela que você vai ler a seguir:
“É o seguinte: a mídia não publicou nada e a história toda ficou obscura. O que aconteceu foi isso aqui:
O Orlando Lelé estava sendo homenageado nos 100 anos de Vasco da Gama, em 1998. Ele foi receber a homenagem no Rio de Janeiro. Mas ele tinha uma amante aqui. E ele pegou essa mulher e foi receber a homenagem no Rio. Era para ela voltar sozinha do Rio, depois de ficar com ele por dois ou três dias. Mas o Orlando resolveu vir entregar ela aqui.
Eles chegaram às 7 horas da noite e começaram a tomar uma cervejinha. Tomaram a cervejinha, adormeceram e coisa e tal... Foram dormir. Certo momento da noite ele resolveu ir ao banheiro. Só que o Orlando tinha um vício muito sério: trancar a porta do banheiro. Mesmo em casa, sozinho, ele virava a chave. Era uma mania.
Nessa noite, ele devia estar sonolento ou bêbado. E caiu. Quando caiu, bateu a parte de trás da cabeça no bidê e desmaiou. Ficou sem voz, não conseguia gritar pelo socorro. Por volta das 5 horas da manhã, a mulher viu a porta trancada, bateu, bateu e só ouviu o sussurro. Chamou o corpo de bombeiro, que veio e abriu a porta. Aí começou a grande tragédia dele”.