"Fazer da profissão um meio de missão". Mais do que simplesmente ir a campo e defender a camisa do seu time, um grupo crescente de jogadores carrega consigo objetivos que vão além das quatro linhas. Na constante peregrinação do mundo dos boleiros, eles não carregam apenas chuteiras, caneleiras e seus adereços favoritos. Talvez seja mais importante levar a palavra de fé, por onde quer que passem. Esse é o objetivo de uma comunidade que, à sua maneira, segue os passos do tradicional movimento iniciado nos anos 80 conhecido como Atletas de Cristo.
"Levando a sério a ordem de pregar o Evangelho a todas as pessoas, e em fazer de tudo para que todos possam de algum meio receber Cristo, levando o evangelho a atletas de todas as modalidades. Além dos atletas, Deus tem alcançado todo o entorno do atleta; esposas, fãs, treinadores e familiares".
O texto acima é uma apresentação da Igreja Viva 24 Horas, mais especificamente de um dos Ministérios criados por ela, denominado Missão no Esporte. Como o nome já diz, é um ramo dedicado a esportes em geral. Mas, é claro que o mais popular deles, o futebol, acaba, naturalmente, ganhando um espaço maior. A igreja foi fundada em Duque de Caxias (RJ) em 1982 e hoje tem filiais espalhadas não só pelo Brasil, como por outros países, como o Chipre. Mas independentemente de sedes físicas, o ensinamento que prevalece entre seus frequentadores é: "A igreja somos nós, não o templo".
"Assim como a gente conheceu de uma pessoa, a gente também quer apresentar a outras. Eu costumo falar que, quando você vai num restaurante bom, você indica para outras pessoas. Com Cristo é a mesma coisa. Você tem que passar para outras pessoas que precisam, que não fazem parte de nenhum ministério", conta o meia Lincoln, ex-Grêmio e hoje no futebol português.
Ser evangélico no meio do futebol, porém, nem sempre foi visto com leveza. Como lembra o técnico Jorginho, um dos dos representantes simbólicos dos Atletas de Cristo desde a década de 80:
Naquela época [anos 80 e 90] existia um preconceito muito grande. Não era comum um atleta, por exemplo, falar sobre Deus, falar sobre a Bíblia."
O ex-lateral também testemunhou como, décadas depois, a procissão da fé próxima aos gramados virou polêmica. Foi o que aconteceu após a eliminação da seleção pela Holanda na Copa de 2010. Auxiliar de Dunga, Jorginho foi contestado por envolver profissionais evangélicos na delegação nacional.
Mas como os atletas cristãos são vistos hoje no meio do futebol? Ainda há preconceito, e ele é menor se formos comparar com os anos 80 e 90? E quais os benefícios que um suporte psicológico deste tipo traz aos jogadores e, consequentemente, aos clubes? O UOL Esporte ouviu diversos personagens dessa corrente para entender se há um novo cenário ao fundo.