Ninguém vai tirar Rogério Micale da história das seleções brasileiras, assim como ninguém vai remover de seu currículo a conquista daquela tão aguarda medalha de ouro olímpica. Agora, ao menos por ora, parece ser igualmente difícil que o técnico relembre a maior glória de sua carreira sem que venha acompanhada uma certa sensação de amargor.
Se a pandemia do novo coronavírus não tivesse terminado por adiar os Jogos de Tóquio-2020 para o ano que vem, estaríamos nos aproximando do encerramento de um ciclo olímpico. Nesse período a trajetória do treinador foi tão sinuosa que, por tudo que aconteceu desde então, parece ter durado mais que um quadriênio.
Em entrevista ao UOL Esporte, Micale, 51, deixa registrado o orgulho de ter contribuído com um título inédito para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Mas também há uma boa dose de mágoa. Hoje treinador do sub-20 do Cruzeiro, o soteropolitano foi demitido pela entidade apenas seis meses depois da façanha. Bastou uma campanha pífia pelo Sul-Americano sub-20. A falta de respaldo por parte da CBF, em tão curto tempo, e o distanciamento de Tite incomodam.
Com o Brasil agora mirando a Copa do Mundo no Quatar-2022 (se a pandemia permitir), é interessante lembrar que foi Micale quem escalou pela primeira vez um trio de ataque com Neymar, Gabriel Jesus e Gabigol. Uma formação que certamente seria uma das favoritas se a linha ofensiva fosse escolhida numa eleição popular, agora com Gabigol fiado como o maior artilheiro do país pelo Flamengo.
"Levei o Jesus para o Mundial de 2015 com dois anos a menos da idade limite [sub-20], mas via o potencial que ele tinha para ser 'olímpico' e de seleção principal. Depois de quatro anos, agora há a possibilidade de aquele trio [Jesus, Gabigol e Neymar] ser do time principal, isso é um legado", disse Micale, em conversa exclusiva com a reportagem do UOL Esporte na qual mostra orgulho do trio que escalou há quatro anos.
Você é o primeiro que me pergunta isso, sabia [sobre Jesus, Gabigol e Neymar juntos quatro anos depois]? Eu era o menos conhecido de toda a Olimpíada. O que me deixou mais conhecido é, depois de quatro anos, ter passado essa geração. Olha os jogadores que o Tite tem usado, como Gabriel Jesus, Richarlison e David Neres. Esse é o grande legado do processo formativo. Muitas vezes, porém, quem dirige clube e CBF não entende ou simplesmente não sabe."