O Palmeiras caiu ontem (7) na semifinal do Mundial de Clubes para o Tigres (MEX) e acabou deixando um sabor agridoce na boca do torcedor, que há uma semana vibrava com a conquista da Copa Libertadores.

O saldo, contudo, não deixa de ser muito positivo em uma temporada na qual o Verdão já levantou duas taças — foi campeão paulista, também — e nos próximos dois meses ainda disputará a final da Copa do Brasil, contra o Grêmio, e a Recopa Sul-Americana, diante do Defensa y Justicia.

Mais do que isso, há a percepção de que o Palmeiras construiu uma base para estar em breve novamente competindo pelo título mundial. Já classificado para a próxima edição da Libertadores, com final marcada para 20 de novembro, o Verdão tem o tricampeonato continental como alvo e assim estaria novamente no torneio da Fifa, que tem a próxima edição marcada para dezembro, no Japão.

"Temos uma equipe com muita margem para crescer. Neste tipo de jogos ganhamos experiência e aprendizagem, que temos de estar no nosso máximo de concentração e no máximo de performance. Sabemos enquanto equipe que podemos fazer melhor na performance individual, mas chegamos aqui com mérito próprio, com mescla de gente jovem e experiente", afirmou Abel Ferreira, após o jogo contra o Tigres.

Na quinta (11), o Verdão ainda terá de duelar com a equipe derrotada do confronto entre Al-Ahly (EGI) e Bayern (ALE), pelo terceiro lugar deste Mundial. Mas a expectativa é de que o jogo seja um "até logo" do atual campeão da Libertadores ao principal torneio de clubes do mundo. E com a esperança de ter um resultado melhor na próxima vez.

Cesar Greco

O resultado não foi o que a gente imaginava, mas a equipe lutou como sempre, fez o seu melhor. Faltou um pouco de sorte, um pouco de capricho no fim para fazer o gol, mas entregamos o melhor. Temos muito pela frente, final de Copa do Brasil, Recopa e não podemos esquecer do que nos trouxe até aqui, que foi o título da Libertadores. Chegamos por mérito, não fizemos nosso melhor resultado, mas é ter tranquilidade, descansar bem, pensar no próximo jogo e depois voltar para casa e seguir o ótimo trabalho que está sendo feito até aqui

Weverton, depois da derrota para o Tigres

Experiência e irreverência

Abel Ferreira diz que o Palmeiras conseguiu unir "experiência e irreverência" neste elenco, ao juntar lideranças técnicas de mais idade, como Weverton (33 anos), Gustavo Gómez (27), Felipe Melo (37) e Luiz Adriano (33), com garotos.

Na partida contra o Tigres e na final da Libertadores, Danilo (19 anos) e Gabriel Menino (20) foram titulares, e Patrick de Paula (21) entrou no segundo tempo. Gabriel Veron (18) é outro menino visto com muito potencial, mas que acabou cortado do Mundial, por lesão.

O sucesso destes garotos é um dos alicerces para o Palmeiras tentar se manter no topo da América nas próximas temporadas. O assédio europeu deve aumentar — Patrick, por exemplo, foi observado no Maracanã por Benfica (POR) e Manchester City (ING).

Apesar de negócios que envolverão altas cifras — as multas de Danilo e Patrick são de 100 milhões de euros (R$ 646 milhões), e 60 milhões de euros (R$ 387 milhões) as de Menino e Veron —, a ideia do Palmeiras é manter a maioria deles agora. O clube os vê em um início de ciclo.

O meu desejo pessoal é não vender os meninos neste momento. Nós temos que terminar o ciclo para pensar em vender os meninos. Por outro lado, não temos o controle da pandemia, de tudo que está acontecendo hoje. Garantir que a gente em hipótese nenhuma vá fazer uma negociação, a gente não pode. Mas posso expor meu desejo, de manter os meninos para cumprir um ciclo. E este ciclo está no início.

Maurício Galiotte, presidente do Palmeiras

Temos tudo: estrutura, arena maravilhosa, patrocínio muito importante, uma torcida participativa, grande e comprometida, com ótimos profissionais que têm estrutura de trabalho. Temos todos os atributos para poder continuar ganhando e sempre protagonista. Porque o título a gente ganha alguns, mas temos a obrigação de sempre estar disputando, sempre entre os melhores. Por toda a nossa grandeza e os atributos.

Maurício Galiotte

Tempo para, enfim, dar sua cara

Apesar dos ótimos resultados, Abel Ferreira completou apenas três meses no Palmeiras com pouquíssimo tempo de treino. O técnico já disse que desde a chegada ao Brasil seu trabalho dependeu muito de vídeos e basicamente da recuperação de atletas e prevenção de lesões.

Por conta da pandemia do novo coronavírus, o calendário de 2020 entrou em 2021 e não haverá pré-temporada neste ano. Mas com 71 jogos realizados até aqui, é difícil imaginar que o time começará o Paulistão em março com sua força máxima.

Abel terá, portanto, tempo para colocar suas ideias em prática. Muitas vezes, o que se viu foi o técnico se adaptando às condições ao longo da temporada, tendo de passar por um surto de covid no elenco e jogos encavalados.

"Nem quando ganhamos está tudo bem e nem quando perdemos está tudo mal. O processo está lá, queremos sempre pressionar alto, com a equipe na máxima força, com um jogo propositivo para ter um desequilíbrio na defesa do adversário, mas há um rival do outro com as mesmas intenções", falou Abel.

"O que nos trouxe até aqui? É isso que vai nos levar [adiante], vai nos fazer aprender com o que aconteceu aqui hoje [ontem]. Aprender com as coisas boas que fizemos e seguirmos firmes e fortes. É preciso sentir a dor da derrota, mas perceber que no dia seguinte temos de trabalhar mais e melhor. Só assim os campeões se fazem", acrescentou.

Reforços pontuais

O Palmeiras esfriou conversas por reforços diante das seguidas decisões que teve (e terá) nas semanas recentes. Mas agora o clube buscará nomes no mercado da bola para tornar o grupo maior. Com Abel Ferreira, chegaram Kuscevic (um jogador que negociava antes da chegada do técnico), Alan Empereur (por indicação do português) e Breno Lopes (após a lesão de Wesley).

Contra o Tigres, o Verdão sentiu falta especialmente de jogadores de velocidade. Veron teve de ser cortado do Mundial por uma lesão muscular na coxa esquerda, enquanto Breno Lopes não pôde ser inscrito e o próprio Wesley está em fase final de recuperação após passar por uma cirurgia no joelho.

Independentemente de quem chegar, o Palmeiras não abrirá mão da filosofia que deu certo nesta temporada: investir pontualmente em quem possa fazer a diferença, sem tirar espaço dos garotos e viável financeiramente.

Foram essas as premissas que fizeram o clube não enviar uma proposta oficial por Hulk, que fechou com o Atlético-MG. Após constantes sondagens, o clube entendeu que o jogador era caro demais para o orçamento alviverde ao ouvir o que o estafe do jogador queria.

Força financeira

O Palmeiras tem um déficit de R$ 135 milhões até o mês de novembro pelos efeitos da pandemia, mas ainda é um dos clubes mais saudáveis financeiramente do Brasil. Além do patrocínio da Crefisa e Faculdade das Américas, que gera R$ 81 milhões por ano ao clube, o Verdão tem se dado bem com as premiações de títulos.

Só a conquista do Libertadores significa mais R$ 92 milhões, e a Copa do Brasil pode dar mais R$ 38 milhões (R$ 32 milhões da CBF e R$ 6 milhões da Crefisa).

O próprio Mundial ainda vai turbinar os cofres do clube. Caso termine em terceiro lugar, vai ganhar US$ 2,5 milhões (R$ 13,4 milhões) da Fifa; o quarto ainda recebe US$ 2 milhões (R$ 10,7 milhões). Ou seja, ainda em que 2021 ainda seja um ano de dificuldades, especialmente pela ausência de torcedores no estádio, o Verdão deve amenizar boa parte do prejuízo do último ano.

O momento ainda é de lamentação, mas o Palmeiras tem um caminho bem definido a seguir para continuar na rota das conquistas e voltar em futuro próximo a esse Mundial.

Opinião dos colunistas

Ricard Perrone

O Palmeiras é organizado dentro e fora de campo. Além disso, numa temporada de pandemia, faturou alto com premiações. Para completar, alguns rivais tradicionais, como Corinthians e São Paulo, ainda tentam se organizar. Esse cenário faz com que a tendência seja o Palmeiras continuar brigando pelos principais títulos, como o da Libertadores. A chance de voltar ao Mundial é grande.

Danilo Lavieri

O Palmeiras está no caminho para sempre disputar todas as competições que entrar, mas isso não garante título da Libertadores, e o Flamengo é exemplo disso. O Palmeiras tem boa condição financeira, um estádio rentável, uma excelente categoria de base, um bom trabalho de Abel, mas precisa contratar em algumas posições para se manter entre os favoritos.

Rodrigo Coutinho

Há um grande potencial de crescimento com a manutenção do Abel e iniciando uma temporada do zero. Acredito que, com mais tempo de trabalho, Abel Ferreira possa desenvolver mais a equipe ofensivamente. Senti falta de uma estratégia mais corajosa em todos esses jogos decisivos. Creio que possa sim ser cobrado por isso, mas na medida certa.

Volto logo?

Ricard Perrone

Danilo Lavieri

Rodrigo Coutinho

Curtiu? Compartilhe.