1999 e hoje...

Semelhanças com campanha do Palmeiras na Libertadores em 1999 impressionam. Campeões elogiam Abel e garotos

Thiago Ferri e Vanderlei Lima Do UOL, em São Paulo Paulo Pinto/AE

A vitória do Palmeiras sobre o River Plate (ARG) por 3 a 0 começou com um lance que fez os torcedores imediatamente lembrarem da campanha do título da Copa Libertadores em 1999. A defesa de Weverton no chute de Carrascal, aos cinco minutos, foi comparada a que Marcos fez na finalização de Saviola, também no início daquela semifinal (aos quatro minutos), há 21 anos. O placar foi o mesmo que o jogo de volta daquele duelo, no Parque Antártica —o jogo é o da foto de Alex aí em cima.

Com a vantagem obtida na Argentina, o Verdão pode até perder por dois gols de diferença, hoje (12), às 21h30, no Allianz Parque, que mesmo assim volta à decisão da Libertadores. Além do River na semifinal e daquele lance dos dois goleiros, a busca pelo bicampeonato tem outras semelhanças com a primeira conquista.

Os próprios campeões de 1999 admitem isso. Nomes como Evair, Euller e Oséias mostram-se empolgados com aquilo que Abel Ferreira tem feito neste Verdão, com garotos em alta e uma base de jogadores experientes.

"O treinador achou um time para disputar a Libertadores, os jogadores estão entendendo a filosofia. Tem tudo para o bicampeonato chegar, o time está muito bem", elogiou o ex-lateral esquerdo Júnior.

Paulo Pinto/AE
Miguel Schincariol/CBF

Os dois goleiros de seleção

Decisivos contra o River Plate fora de casa, Weverton e Marcos são goleiros com histórico na seleção, mas com caminhos um pouco diferentes. O atual titular já chegou ao Palmeiras com convocações no currículo e até um título importante, a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 2016 pela seleção brasileira, a primeira do país. Enquanto isso, o ex-camisa 12 se firmou na seleção justamente por causa da Libertadores de 1999.

Eleito o melhor jogador daquela edição, Marcos iniciou o torneio como reserva do veterano Velloso. Só assumiu a titularidade ao longo da primeira fase, após lesão do antigo titular. Na campanha, porém, acumulou jogos históricos contra Corinthians, nas quartas de final, e River, na semi. Embora tivesse sido convocado em 1996, tornou-se figura recorrente na seleção brasileira só a partir de 1999. Homem de confiança de Luiz Felipe Scolari, foi o titular na conquista do pentacampeonato mundial, em 2002.

Já Weverton chegou ao Verdão sonhando com a Copa do Mundo de 2018, mas começou como reserva de Jailson e Fernando Prass e ficou fora da lista. Quando se fixou como titular, no segundo semestre daquela temporada, voltou a ser chamado por Tite. Em 2020, jogou duas partidas pelas Eliminatórias, contra a Bolívia e Peru. Ainda que bem avaliado pela atual comissão técnica, está atrás de Alisson e Ederson.

"O que mais chama a atenção no Palmeiras de hoje é a qualificação dos jogadores, começando pelo goleiro. Ele está demonstrando a sua qualidade, tanto é que está chegando aí à seleção brasileira", diz Oséas, autor do gol que levou a final da Libertadores de 1999 para os pênaltis, contra o Deportivo Cali.

Cesar Greco

Garotos que decidem

Patrick de Paula (21 anos), Gabriel Menino (20) e Danilo (19) foram muito elogiados pelo bom desempenho na partida de ida, apesar da pouca idade e da relevância do confronto. Em 1999, um garoto também brilhou: Alex, então com 21 anos de idade.

O meia fez quatro gols em 14 partidas ao longo da campanha e teve como jogo mais marcante a volta contra o River Plate. Depois de perder fora por 1 a 0, o Verdão fez 3 a 0 no Palestra Itália, com dois gols do armador.

Roque Júnior (22) e mesmo Marcos (25) eram os mais jovens em um time com média de 27 anos de idade. Junior Baiano (29), César Sampaio (31) e Zinho (32) já tinham até final de Copa do Mundo no currículo. "O nosso time tinha jogadores de Copa do Mundo, bem habituados a disputar competições grandes. Agora, tem os garotos", falou o ex-lateral Júnior.

Não que o Verdão não tenha jogadores rodados. Weverton tem 33 anos, Marcos Rocha, 32, e Luiz Adriano, 33. Mas é o desempenho dos três meio-campistas formados na base que chamou a atenção de quem estava em campo há 21 anos.

"Parecem veteranos (risos). Como os meninos, o Gabriel, o Patrick de Paula, o Danilo, como eles jogam, cara. A personalidade destes três que deram conta do recado. O Gabriel dando de chaleira, mostrando experiência, maturidade, que não é fácil, em uma semifinal de Libertadores, contra o River, um timaço, que chegou nos últimos anos. Foi o que mais me chamou a atenção", completou o antigo camisa 6.

Ormuzd Alves-27.fev.1994/Folhapress

Experiência e gols...

Outra semelhança entre os dois times são os gols de reservas de luxo. Ídolo alviverde, Evair tinha 34 anos quando foi campeão da Libertadores. É a mesma idade de Willian. Decisivo na histórica conquista do Paulistão de 1993, que tirou o clube da fila, o ex-atacante era peça importante em 1999, saindo muitas vezes do banco de reservas. Ele entrou no decorrer da final contra o Deportivo Cali (COL), fez o primeiro gol do Verdão. Atual camisa 29, William também foi goleador em temporadas passadas e campeão brasileiro em 2018. Atualmente, é o reserva de Luiz Adriano, mas divide com ele a artilharia da temporada: 18 gols para cada um.

Ale Cabral/AGIF

...saindo do banco

Além disso, no fim de semana, Willian igualou a marca de 28 gols de Evair pelo Palmeiras em Brasileiros. Para Evair, apesar da trajetória semelhante, o estilo é diferente. "O Willian é velocista. Logicamente, é oportunista fazedor de gols, mas é um velocista e eu nunca fui um. Eu fui homem de área. Depois de um determinado momento, saí um pouco mais da área pra armar, mas sempre fui mais lento", explicou Evair. "O próprio Luiz Adriano é velocista, também. Não tem um homem de área, o Palmeiras não tem um homem que jogue dessa maneira, mas todas as vezes em que William e Luiz Adriano jogam naquela função, sempre dão muito trabalho".

@LibertadoresBR

Dois furacões nas copas

O título do Palmeiras de 1999 teve grande participação de Oséas. O atacante fez o famoso gol espírita no fim contra o Cruzeiro, na decisão da Copa do Brasil de 1998, que garantiu a classificação à Libertadores. Um ano depois, fez o segundo do Verdão na final contra o Deportivo Cali, no Palestra Itália, levando a decisão para os pênaltis.

O baiano, que ficou marcado pelos gols importantes com a camisa alviverde, virou amuleto nos jogos de Copa. Mais ou menos como acontece com Rony, o principal jogador do Palmeiras na Libertadores de 2020. Em comum, também, a origem: os dois chegaram ao Palmeiras vindos do Athletico —em situações diferentes, é verdade.

Enquanto Oséas chegou sem tanta badalação em 1997, após o Palmeiras ver a contratação de Edmundo, dada como certa, naufragar, Rony chegou como o grande reforço do time para a temporada. E, se o baiano foi rápido ao virar titular (ele marcou logo em sua primeira partida), o paraense foi chamado de mico até a chegada de Abel Ferreira.

Após um início muito ruim, porém, Rony tem deixado a desconfiança para trás: eleito por quatro vezes o melhor em campo na Libertadores, o camisa 11 virou o jogador com mais participação para gols em toda a competição: 12 — são cinco gols e sete assistências, de acordo com dados do Palmeiras.

Para Oséas, Rony caminha para se tornar o melhor jogador desta edição da Copa. "Está mostrando a cada jogo [que pode ser o melhor da Libertadores]. Ele chegou sem fazer gols, mas hoje está mostrando a qualidade e a capacidade que tem. Eu não o conheço pessoalmente, mas já vi o grande trabalho que fez no Athletico-PR e agora demonstra no Palmeiras a sua qualidade e a sua capacidade. Eu torço sempre por ele", elogiou

Evelson de Freitas/Folhapress

Oséas: Rony e L. Adriano estão fazendo a diferença

UOL: O que achou do Palmeiras contra o River Plate? Surpreendeu o resultado?

Oséas: Antes do jogo, eu imaginava que o jogo ia ser muito difícil pro Palmeiras. O River Plate vem de uma sequência boa, chegando sempre na Libertadores. Mas, dentro de campo, as coisas foram fluindo naturalmente e o Palmeiras mereceu essa grande vitória. Lembrou um pouco nosso jogo contra o River Plate. Se bem que a gente tomou um sufoco imenso na Argentina, perdemos de 1 a 0, mesmo com o Marcos pegando tudo. Nós só deslanchamos no jogo de volta, com o Alex fazendo uma excelente partida. Aí, sim, veio a nossa vitória de 3 a 0.

Qual jogador do atual elenco vê com maior potencial de decisão?

Luiz Adriano e Rony são jogadores de qualidade, mesmo. O Rony é um jogador muito veloz, assim como o Luiz Adriano. O Palmeiras tem nos contra-ataques dois caras que não perdoam. Numa competição assim, um campeonato tão disputado, aparecem poucas oportunidades. Então, quando elas aparecem, tem que colocar para dentro. E isso eles estão fazendo muito bem.

Qual o peso do título de 1999 na sua carreira?

Ser campeão da Libertadores, uma competição muito difícil. A Parmalat montou uma equipe muito qualificada. Nós tínhamos uma equipe pronta pra ser campeã. Saía jogador e entrava jogador e a equipe não caía de nível, mantinha a mesma qualidade dentro de campo. O grupo era muito forte, mas também muito unida. As coisas fluíam naturalmente. Fomos campeões e ficamos na história do clube.

A torcida era o nosso décimo segundo jogador. Incentivava desde a hora que nós chegávamos ao vestiário. A gente sentia isso quando estávamos aquecendo no vestiário do Parque Antártica. Quando você entrava em campo, via a torcida vibrando com você e até nos erros estava ali, incentivando

Oséas, sobre a falta que a torcida palmeirense faz na Libertadores-2020

Joel Silva/Folhapress

O que é inesquecível naquele título?

O gol na final. Eu estou falando de mim, mas pro grupo são muitos momentos marcantes. Eliminar o rival, eliminar o Vasco no Rio de Janeiro... Essa vitória foi importantíssima: foi quando vimos que esse título ninguém tiraria de nós.

Você e o Evair se revezaram na primeira fase, mas no mata-mata você se tornou o titular fixo. Houve uma conversa com o Felipão sobre isso?

Por isso que eu falei que a nossa equipe sempre foi unida, não tinha aqueles ciúmes de jogador ficar no banco e outro ser titular. Quando eu estava de titular, o Evair estava torcendo, incentivando. A mesma coisa quando o Evair era titular. Como nós éramos atacantes, o nosso objetivo era colocar a bola pra dentro.

Se você tivesse ficado, o Palmeiras seria bicampeão da Libertadores em 2000?

Eu cheguei em 1997 e o Palmeiras e a Parmalat montaram uma equipe qualificada, trouxe um monte de jogadores pra ser campeão. Conquistamos a Copa do Brasil, a Mercosul e a Libertadores. Infelizmente, em 2000 saíram muitos jogadores e eu fui um deles. A nossa equipe era muito forte, muito unida e tínhamos um treinador que era um paizão mesmo. Não tenho dúvida que viria um segundo título da Libertadores em 2000.

Méritos ao chefe

Nelson Almeida/LANCE!

Com estilos totalmente diferentes, Felipão e Abel Ferreira chegaram ao Palmeiras sob a expectativa de colocar o Palmeiras na briga pelo título da Libertadores. No caso de Scolari, foi um projeto iniciado em 1997 e que deu resultado em 1999. O português tenta conquistar a taça com pouco mais de dois meses no Brasil. Assim como o gaúcho recebeu muitos méritos pela equipe e pelo ambiente que criou naquele título, Abel tem sido exaltado por aqueles que levantaram a taça da Libertadores há 21 anos.

Cesar Greco

"Chama a atenção a proposta de jogo do seu treinador (Abel Ferreira) e os atletas colocando em prática. Você vê que o treinador joga de acordo com o adversário, monta o seu sistema e os atletas têm conseguido desempenhar essa ideia do Abel, que com certeza foi treinada. Você vê claramente que o que se faz dentro de campo é porque estão se empenhando nos treinamentos. Estou gostando do início do Abel, tem tudo para poder trazer novas ideias e propostas de parte tática para o nosso futebol", analisou Euller.

Folhapress Folhapress

Mesmo final?

Assim como aconteceu na era Parmalat, a conquista da Libertadores é vista como o auge na parceria entre Palmeiras e Crefisa. Para os campeões, esta equipe tem potencial para seguir o mesmo caminho e levar o bi.

"O Palmeiras tem sido regular e isso tem feito a diferença. É uma equipe muito copeira, e acho que está pronta (para ser campeã). É claro que há que se confirmar o que foi feito na Argentina diante do River Plate para ir para uma final", finalizou Euller.

"Eu tenho convicção de que o Palmeiras vai ser campeão. Tenho a certeza de que tem grupo e elenco para ser campeão, sim. Tanto se pegar o Santos, quanto se pegar o Boca Juniors na final. Eu só sinto não poder ir lá no Maracanã assistir. Vou ter que acompanhar pela TV", concluiu Evair.

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