O menino era fracote. Tinha 14 anos, não chegava aos 50 quilos e tinha as canelas finas queimadas pela entrega das marmitas quentinhas dos tempos em que morava em Jacarezinho. Mas ele jogava muita bola, era valente e integrava o time do Santos do bairro em que morava em Sorocaba. Tinha herdado um pouco do futebol de seu pai, conhecido como "Pé de Pena", tal a elegância com que tocava a bola nos campos do interior do Paraná.
Pois foi no campo do Santa Rosália que, em uma partida decisiva do campeonato amador sorocabano, o filho do Pé de Pena subiu para tentar alcançar a bola cruzada. Antes de acertar o cabeceio, foi atingido na testa pelos cravos de couro da chuteira do zagueiro do Fortaleza.
Já faz 64 nos que a cena aconteceu, mas Ademirzinho lembra direitinho do sangue descendo pelo seu rosto. Do seu olhar para o juiz da partida, o temido Dito Branco. E das palavras proferidas pelo árbitro, quando ele tentou reclamar que sofrera um pênalti.
"Limpa o sangue e vai para a guerra!"
Naquela manhã, o menino que carrega a cicatriz na testa até hoje percebeu que o futebol não era para qualquer um. E ele aprendeu também muito com o companheiro Nelson Oliveira, o centroavante Maquinão, quase 80 quilos e 1,80: um tanque.
"O Maquinão me disse uma vez que o nosso time, já no São Bento, tinha medo de que os adversários me quebrassem. Ele disse que olhavam para mim e só viam o beiço, um menino magrinho e o joelho pontiagudo. Então, eles me ensinaram a bater também, a me defender.
E foi aí que o menino se transformou no Paraná, o ponta-esquerda que não se escondeu de ninguém na partida em que o Brasil perdeu de Portugal de 3 a 1 - uma verdadeira batalha campal realizada na Copa do Mundo de 1966, no dia 19 de julho, no Goodison Park, em Liverpool.
Aquele jogo em que o Rei Pelé passou boa parte dos 90 minutos mancando e tocando a bola somente com a perna esquerda, com o joelho direito enfaixado por Mário Américo e graças a uma infiltração feita no intervalo da partida pelo doutor Hilton Gosling.