O ritual é diário. O piloto Elísio Netto, de 20 anos, sai do quarto com um travesseiro debaixo do braço, ajeita a cadeira de plástico no meio da sala de casa e liga o ventilador. Ele coloca o travesseiro nas costas e senta-se. O computador inicia rápido, já no simulador de corrida que indica quase 800 horas de treinos durante os seis meses de pandemia.
Ao piloto, faltam pistas, pneus e carros reais. Todo treinamento tem sido feito virtualmente. Elísio sequer tem um kart. Para competir, a família aluga um veículo e paga entre R$ 4 mil e 6 mil, dependendo da região. Mal dá para conhecer o veículo. É alugar, colocar na pista e correr, torcendo para não quebrar ou bater, já que o prejuízo fica por conta do piloto. Se vem o pódio, ótimo. É uma medalha ou um troféu a mais para enfeitar a sala de casa.
Mas resultado (ainda) não vira dinheiro. E Elísio não tem o "dólar no motor", que é como chamam nas pistas de corrida quem tem verba para bancar a carreira. Para o alagoano, existe o "paitrocínio" do seu Francisco Elisberto, que não tem nem de perto o poder de investimento que os rivais do filho, "que chegam de BMW e helicóptero", têm. Ex-funcionário dos Correios, ele investiu o que tinha e o que não tinha para o filho alcançar sucesso no automobilismo.
Chamado de "promessa" por Wilsinho Fittipali, irmão de Emerson e ex-piloto de F1, o jovem vive com os pais em Belém, cidade com 5 mil habitantes no interior de Alagoas. Já foi vice-campeão paulista de F-Vee Junior, uma categoria escola de monopostos, em 2018. Nesse ano, ganhou uma das corridas na única etapa que disputou do torneio, já na categoria principal. Mas isso foi em fevereiro. Além da falta de dinheiro para ir às competições, a pandemia prejudicou os planos. Hoje, ele só compete pela internet — ainda assim, é o vice-líder da Copa Sul-Americana de Fórmula Truck (virtual) usando um setup (conjunto de computador, volante e caixa de acelerador e marchas) doado.