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O futebol nos Estados Unidos segue crescendo, mas os jogadores brasileiros continuam desconfiados com a MLS

Bruno Grossi e Marinho Saldanha Do UOL, em São Paulo e Porto Alegre

O sonho americano não faz parte dos planos de jogadores de futebol brasileiros. Qualquer promessa verde-amarela mantém na ponta da língua que o grande objetivo da carreira é chegar à Europa. Mesmo que Europa signifique jogar em um mercado alternativo, mesmo que em países de condições climáticas e geopolíticas hostis.

Enquanto isso, nossos vizinhos da América do Sul encontraram na Major League Soccer, a liga profissional de futebol dos EUA, uma alternativa para exportar jovens talentos. Por lá, esses garotos se desenvolvem em campos melhores e com uma qualidade de vida muito superior a encontrada em Ucrânia ou Belarus — alguns exemplos dos países que costumam receber brasileiros. Para quem nasceu por aqui, falta de competitividade e salários menores servem de justificativa para o olhar desconfiado. Mas será que essas ideias ainda valem?

Ao longo desta década, brasileiros no auge da carreira viraram a cara para as ofertas americanas. Foi assim com Paulo Henrique Ganso, procurado pelo Orlando City quando jogava no São Paulo, e com o lateral Zeca, que começava a explodir no Santos.

Enquanto os brasileiros falavam não, o campeonato de futebol mais importante dos EUA encontrou cada vez mais protagonistas sul-americanos. Argentinos, uruguaios, colombianos e até venezuelanos conseguem se transformar em ídolos e começam a usar o país como trampolim para voos mais altos na Europa. E isso tem sido usado como novo argumento para finalmente tentar atrair brasileiros mais relevantes para os próximos anos na MLS.

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Qual o perfil do brasileiro que já decidiu desbravar a MLS?

Na edição de 2019 da MLS, 20 brasileiros estiveram, em algum momento, no elenco principais das 24 equipes que participaram da temporada. Esse número faz do Brasil o segundo país sul-americano com mais representantes na competição. A questão é a diferença de perfil dos atletas que, até ano passado, aceitavam desbravar o soccer.

A Argentina, principal exportadora para os EUA, já começou a enviar jovens promissores (e até alguns protagonistas) para os EUA. São os casos de Ezequiel Barco, sensação do Independiente que derrotou o Flamengo na final da Copa Sul-Americana de 2017, e de Pity Martínez, ex-camisa 10 do River Plate que dominou o continente até 2018. Há ainda Cristian Pavón, revelação do Boca Juniors que disputou a última Copa do Mundo.

Entre os brasileiros, a figura mais conhecida até a última temporada era Ilsinho, lateral que foi revelado pelo Palmeiras e explodiu no São Paulo. O zagueiro Bressan, que saiu criticado do Grêmio, era outro mais famoso. Os demais se dividem entre revelações que perderam espaço em clubes grandes do Brasil, como lateral Auro, ex-Sâo Paulo (foto abaixo), e atletas que nunca alcançaram muito prestígio no futebol verde-amarelo.

O brasileiro com mais gols na última MLS, por exemplo, foi o atacante Heber (foto acima). Ele se destacou apenas pelo Figueirense antes de se tornar peça importante do New York City. Um dos que mais jogou em 2019 foi o meia Felipe Martins, do DC United. No Brasil, ele só jogou pelo Campo Grande, do Rio de Janeiro.

Entre os brasileiros, infelizmente, não houve nenhum grande caso que tenha feito a diferença. Temos bons jogadores, como Heber, Artur, Judson, Ruan, mas nenhum grande sucesso. O Kaká, na época, poderia ser, mas o Orlando não chegou no playoff. Os americanos veem isso: brasileiro ainda não deu certo

André Zanotta, diretor-técnico do FC Dallas e ex-Grêmio

As limitações para trazer mais brasileiros passam pelos valores da compra, que ainda são muito altos. Só que isso uma hora vai ser equacionado. E os próprios atletas vão entender que os Estados Unidos são um passo importante para a Europa. Os outros sul-americanos vão abrir os olhos deles

Alexandre Leitão, CEO do Orlando City

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Ilsinho: quem pesquisar terá respostas suficientes

Por que os brasileiros ainda têm resistência para considerar o mercado americano como uma oportunidade válida de carreira?

Ilsinho, jogador do Philadelphia Union - Acho que são dois motivos. Primeiro, a liga mesmo. Ela já percebeu que é mais barato comprar jogadores de outros países sul-americanos. O brasileiro mais novo, como Vinícius Júnior ou Rodrygo, fica muito visado e o americano não consegue competir. E, em segundo, tem o fato de que o brasileiro ainda foca na Europa. Eles ouvem falar dos Estados Unidos e têm a impressão de ser uma liga de férias. Mas isso está mudando.

Você já vai para a quinta temporada da MLS. Também tentou a sorte na Europa em um país alternativo, a Ucrânia. O que pode falar sobre as diferenças?

É tudo diferente. Na Ucrânia, a gente ficava muito restrito a conviver com quem trabalhava com a gente como tradutor, ajudando no dia a dia. Tirando ir no mercado e abastecer o carro, eu não conseguia fazer nada sozinho. Aqui nos Estados Unidos, eu vivo uma vida além do futebol. Levo meu filho para treinar, minha filha para nadar, eles estudam em uma boa escola. É uma oportunidade de vida. Os brasileiros ficam presos ao velho sonho europeu. Preferem se arriscar indo pra Hungria, Ucrânia, Belarus, a tentar viver melhor nos Estados Unidos.

A liga, de fato, é competitiva? Há como crescer no futebol na MLS?

A evolução técnica é notória desde que cheguei, em 2016. A liga controla bem o dinheiro, os clubes estão se estruturando sem ficar gastando a torto e direito. Assim, estão ficando mais competitivos. A liga cresce muito e ainda vai crescer demais pelo trabalho de marketing que faz. Os estádios são bons, as cidades são seguras, a estrutura é moderna. A diferença para o que vivi na Ucrânia é absurda, para mim e para minha família. O jogador que tiver uma proposta dos Estados Unidos e pesquisar um pouquinho vai ter as respostas suficientes. Mas é preciso pesquisar, ir atrás.

Divulgação/Orlando City

Em 2020, o perfil dos brasileiros muda, mas pensamento segue

A lista de brasileiros na MLS já tinha perdido Lucas Venuto para o Santos no ano passado e teve mais duas baixas confirmadas (por enquanto) para a temporada que começa amanhã (29 de fevereiro): Marcelo, que estava no Chicago Fire, foi para o Paços de Ferreira, de Portugal, enquanto Victor PC saiu do Vancouver Whitecaps para jogar em uma liga secundária nos Estados Unidos.

Por outro lado, cinco jogadores brasileiros já foram contratados. E eles mostram que já há uma mudança de perfil. Os cinco — Júnior Urso, Thiago Santos, Antônio Carlos, João Paulo e Matheus Rossetto — chegaram a ser titulares em times da Série A do Brasileirão nas últimas temporadas e ainda têm uma vida útil de alguns anos como atletas.

A reportagem conversou com Júnior Urso, um dos novatos. E ele confirmou a visão do brasileiro: o sonho ainda é a Europa, mas os EUA valem pela "qualidade de vida". "A maioria dos jogadores brasileiros pensa em jogar nos grandes clubes do Brasil e após isso ir para a Europa, para a seleção brasileira. Não que seja impossível de acontecer nos Estados Unidos, mas o foco dos jovens acaba sendo a Europa. A MLS tem crescido bastante", diz o volante.

"Eu acredito que conciliaram dois desejos. A proposta do Orlando com minha vontade que sempre foi de viver neste país. Tenho também a oportunidade de dar um estudo, um futuro melhor para minha filha, para minha família. Esses foram os reais motivos que me trouxeram, mas tenho vários sonhos como jogador, que incluem o Orlando. O clube tem muitos sonhos e muitos tabus a serem quebrados, então quero fazer parte disso e marcar meu nome na liga e nesse clube tão jovem", continua. "Orlando, apesar de ser uma cidade turística, é um ótimo local para se morar. Um lugar tranquilo, com ótima segurança, estrutura. Então já estou me sentindo em casa aqui. Está sempre com muitos brasileiros a cidade, então tem vezes que parece até que estou no Brasil. Mas a cidade e o país têm uma estrutura fantástica e ja vem sendo uma ótima experiência".

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Sul-americanos já se transformaram em protagonistas

Enquanto os brasileiros ainda se mostram receosos em explorar o futebol dos Estados Unidos, outros sul-americanos já conquistaram status de estrelas na MLS. Um exemplo claro disso é o atacante venezuelano Josef Martínez, que marcou 28 gols no ano passado pelo Atlanta United, um dos times mais badalados da competição e que ainda conta com o brilho dos argentinos Barco e Pity Martínez (foto acima).

Outro exemplo de captação de valores sul-americanos é o Los Angeles FC, franquia que vai para a terceira temporada na MLS. O atacante uruguaio Diego Rossi se tornou protagonista aos 21 anos. Seu sucesso fez o time procurar seu compatriota Brian Rodríguez, revelação recente do Peñarol. O volante colombiano Eduard Atuesta também faz sucesso por lá.

No campeão Seattle Sounders, que venceu o Toronto FC do brasileiro Auro na final, o protagonismo tem sido do meia uruguaio Nicolás Lodeiro, que jogou no Corinthians e trocou o Boca Juniors pelos EUA em 2016. Os 15 gols do peruano Raúl Ruidíaz, que chegou a jogar no Coritiba em 2012, também foram essenciais para o título.

"Os argentinos perceberam esse mercado antes dos brasileiros. Recebo muitas ligações de agentes argentinos que veem a MLS como um passo importante para a carreira do jogador. O brasileiro ainda não vê isso. Um jogador como o Pity Martínez tinha proposta da Europa, mas preferiu o Atlanta. O Pavón tinha Europa e preferiu o Galaxy. O mercado é visto de forma diferente por eles", explica André Zanotta.

Shaun Clark/Getty Images

Para brasileiros, MLS ainda é "liga da aposentadoria"

Os brasileiros que ainda olham com desconfiança para os Estados Unidos reclamam de falta de competitividade e tratam a MLS como um torneio de despedidas, de aposentadorias. Por muito tempo, de fato, essa foi uma estratégia oficial para chamar a atenção do mundo da bola. A ida de David Beckham para o LA Galaxy na década passada era o maior exemplo disso. Mas esse roteiro tem mudado.

"Essa percepção já está errada. Por mais que ainda venham jogadores de idade avançada, como Ibrahimovic e Rooney no ano passado, é cada vez maior a quantidade de atletas de 27 e 28 anos que entendem que a liga cresceu e é mais competitiva e organizada, que o país oferece uma qualidade de vida melhor para a família", opina Alexandre Leitão, brasileiro que é CEO do Orlando City.

Na MLS há quatro temporadas, Ilsinho ainda se incomoda com o a resistência mostrada por brasileiros sobre a liga. O ex-jogador do São Paulo fala em "preconceito" e acredita que os americanos, em breve serão um "fantasma" para os europeus no mercado.

Kevin C. Cox/Getty Images

MLS começa a exportar talentos para o futebol europeu

Se antes a MLS só recebia astros do futebol europeu em fim de carreira, agora começa a fornecer mão de obra para o Velho Continente. O Chelsea, por exemplo, contratou o zagueiro Matt Miazga do New York Red Bulls. O Manchester City usa o New York City como fábrica de novos talentos e já tirou o goleiro Zack Steffen do Columbus Crew.

As transações começaram com britânicos ou nórdicos, passaram por europeus de outras nacionalidades e já chegaram aos sul-americanos da MLS. O primeiro grande caso foi o paraguaio Miguel Almirón (foto acima), que havia brilhado pelo Lanús na Libertadores de 2017, foi comprado pelo Atlanta United e hoje é titular do Newcastle na Premier League.

Pity Martínez, outro sul-americano garimpado pelo Atlanta, tem sido especulado com frequência por times da Europa. E o uruguaio Diego Rossi, do Los Angeles FC, esteve muito perto de ser vendido para a Fiorentina no ano passado.

"O brasileiro ainda não entende a MLS como um passo importante para a carreira. Outros sul-americanos já enxergam como uma oportunidade. E cada vez mais a Premier League e a Bundesliga olham para a MLS. É só ver que o Tottenham e o Bayern de Munique já contrataram jogadores da liga, o Almirón está crescendo no Newcastle", ponderou o CEO do Orlando City, Alexandre Leitão.

André Zanotta, do Dallas, compartilha dessa visão: "Nós vendemos dois jogadores para Europa ano retrasado. Um para o Bayern, outro para o Augsburg. Um da nossa base e outro que veio com 20 anos e está com 24. Isso mostra que o jogador, mesmo jovem, que sonha com a Europa, pode usar a MLS como um trampolim. Eles entendem que o jogador sul-americano que se adaptou aos Estados Unidos, à língua, ao estilo, ao clima, pode se adaptar mais rapidamente lá. E o europeu fica mais seguro de fazer o investimento".

Justin Casterline/Getty Images Justin Casterline/Getty Images

Ex-volante do São Paulo pode até ser naturalizado

A MLS pode oferecer outro tipo de vitrine. É o que vive o brasileiro Artur. O volante concluiu a formação de base no São Paulo e foi vendido ao Columbus Crew em 2018, após uma temporada de empréstimo no clube. Ele foi o segundo brasileiro que mais atuou na última temporada americana, é tratado como figura importante da competição e está cotado até para se naturalizar e ser convocado pela seleção dos Estados Unidos.

O técnico Gregg Berhalter, responsável por levar Artur ao Columbus, hoje comanda a seleção. Ele já fez um convite informal ao jogador, que se animou e está prestes a conseguir a cidadania — como se casou com uma americana, o trâmite acabou ficando mais fácil.

"Eu saí muito cedo do Brasil, com 20 anos, ainda inexperiente e sem oportunidades. Não estava cascudo ainda. Foi aqui que aprendi mais, principalmente com o Gregg. Sei que meu caso pode fazer com que mais brasileiros olhem para cá, ajuda a convencer de que é uma boa oportunidade. E os próprios times vão olhar mais para os brasileiros", acredita Artur.

Os times se reforçam mais a cada ano e não dá mais para prever quem vai ganhar. Individualmente, melhorei na marcação e no posicionamento tático. Agora, consigo analisar com mais precisão meu time e os adversários que vou enfrentar, como vai ser melhor sair jogando...

Artur, volante do Columbus Crew

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O outro lado: inflação de brasileiros assusta os americanos

A ausência de brasileiros relevantes na MLS tem origem financeira. Até pouco tempo, as franquias tinham um teto salarial baixo, de até 70 mil dólares mensais — hoje está em 109 mil dólares. Só se podia ultrapassar esse teto com "designated players", atletas de peso mundial que eram usados de chamariz para a liga, que ajudava a bancar essas contratações. Foi o caso de Kaká no Orlando City, por exemplo, que ganhava quase R$ 2 milhões por mês. Zlatan Ibrahimovic teve o maior salário de 2019, com R$ 2,6 milhões mensais. Isso gerava um abismo técnico entre a base dos times e suas estrelas.

Recentemente, foi criada uma categoria intermediária de contratações, denominada "target alocation money", ou simplesmente TAM, que passou a permitir que as franquias explorassem jogadores que ainda não haviam explodido como astros internacionais, mas já estavam prontos para jogar. Nem estrela, nem um total desconhecido.

"Os 'TAM' passaram a ser procurados na América do Sul e o aumento do dólar tornou os times mais competitivos no mercado. Isso nasceu de uma estratégia elaborada pelo Boston Consulting Group. Era preciso de reforços no meio do investimento, diminuindo a distância entre o teto base e os grandes astros. Os salários também já não são problema por causa do dólar, então o problema mesmo é o valor para comprar um jogador brasileiro, que ainda é muito inflacionado no mercado", explicou Alexandre Leitão.

Esse espaço na folha salarial para abrigar os jogadores intermediários é criado de diversas formas. Como o pacote total de receitas e despesas de um clube não pode ser alterado, os clubes negociam entre si e com a liga a troca de itens, como escolhas no draft — o sistema de captação de jovens — ou vagas de estrangeiros no elenco. O curioso é que a alta do dólar já faz com que esses atletas intermediários ganhem o equivalente a nomes importantes no Brasil, ultrapassando a casa R$ 500 mil por mês.

Todos os clubes têm o mesmo limite de salário. Então, além de ter a situação de não termos muitos exemplos de brasileiros aqui que fizeram a diferença, é necessário ser cirúrgico na contratação

André Zanotta, diretor técnico do FC Dallas

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Na base, salários baixos afastam os brasileiros

No topo da pirâmide da MLS, dinheiro não é mais motivo para afastar brasileiros. Na base, ainda é.

Os times americanos ainda pagam muito pouco para seus jovens do sub-20, o que pode ser explicado pelo ainda recente investimento na formação de atletas. Como na maioria das ligas de outras modalidades, o futebol dos EUA ainda baseia sua formação nos times de escolas e universidades.

Para os americanos, o draft ainda é uma grande oportunidade, mas entre os brasileiros que jogaram a MLS de 2019, apenas um chegou ao profissional depois de passar pelo futebol universitário: André Shinyashiki, eleito o melhor novato da temporada ao marcar sete gols em 31 partidas pelo Colorado Rapids. Ele é filho do psiquiatra autor de best-sellers Roberto Shinyashiki.

O "college", que é tratado como porta de entrada por milhares de brasileiros por aliar a chance de melhorar os estudos e trabalhar com o esporte, tem servido muito mais para abastecer os times "B" ou sub-20 das franquias da MLS que disputam as ligas secundárias de futebol nos Estados Unidos.

Financiados pela MLS, pela federação americana ou por empresas, já existem alguns projetos de formação parecidos com o que acontece no resto do mundo. Em alguns casos, porém, é preciso pagar para fazer parte das categorias de base. Há bolsas para quem tem bom desempenho escolar ou condição financeira mais baixa. No site do DC United, de Washington, por exemplo, o investimento para participar das categorias até sub-14 é de 2,5 mil dólares. Para as categorias sub-16 e sub-18, o valor cai para 1,5 mil dólares.

Para comparar, em um time grande como o São Paulo, garotos que estão na transição do sub-20 para o profissional ganham de R$ 5 mil a R$ 15 mil.

Soobum Im/Getty Images Soobum Im/Getty Images

A "Discovery List"

Uma das mecânicas mais inusitadas da MLS quando o assunto é o mercado da bola se chama "Discovery List". Cada equipe pode apresentar até sete nomes considerados promissores de qualquer lugar do mundo para a direção da liga. Com isso, passa a ter uma espécie de exclusividade por esses atletas dentro da competição. Se outro time da MLS quiser esse jogador "reservado" por outro clube, é preciso discutir a liberação com as três partes (dois clubes e a liga).

Caso o jogador recuse o clube que tinha a preferência e a liga não autorize a negociação com a outra franquia, esse atleta não vai para nenhum dos times da competição. Para exemplificar: se o Seattle Sounders colocar um jovem como Pedrinho na "Discovery List" e depois o Chicago Fire quiser contratar o corintiano, a negociação precisa ser aprovada pela MLS. Se a liga entender que o Seattle se prejudicaria ao ver Pedrinho em um adversário, a transação é barrada.

Hoje, essa lista é limitada a atletas de até 27 anos. Mas nem sempre foi assim. O marfinês Didier Drogba foi "selecionado" pelo Chicago Fire em 2015, mas acabou jogando no Montreal Impact por duas temporadas. O espanhol Fernando Torres, que nunca jogou na MLS, também já teve seu nome na "lista de descobertas".

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Brasileiros ganham espaço na gestão de clubes

Além de jogadores, a MLS já recebe profissionais brasileiros de outras áreas. Há membros de comissões técnicas, como fisioterapeutas e preparadores físicos, e também dirigentes, como Alexandre Leitão e André Zanotta, entrevistados para esta reportagem, e o presidente e proprietário do Orlando City, Flávio Augusto da Silva. Para quem trabalha na gestão, a aventura nos Estados Unidos ainda requer uma preparação diferente da exigida em outros países diante das regras mais específicas da MLS.

"É muito diferente. Eu ainda vou demorar um tempo para ter pleno conhecimento. O que eu mais aprendi foi com a prática. Por exemplo: a gente teve um jogador que tinha passaporte europeu e saiu com 16 ou 17 anos. Quando voltou, o Atlanta tinha interesse nele, mas ele precisou voltar para a liga e para o Dallas e nós negociamos com o Atlanta mesmo sem ser nosso jogador", conta Zanotta.

"Todas as negociações são públicas, os salários são públicos, tudo divulgado. No caso deste jogador, nós pegamos 200 mil dólares em 'allocation money' e mais uma vaga de estrangeiro para as próximas duas temporadas. Então, em 2020, em vez de oito vagas de estrangeiro, nós temos nove, e o Atlanta sete. Também negociei um jogador com o DC United em troca da primeira vaga de draft deles para pegar um jogador promissor norte-americano. Tudo pode ser negociado", completa.

O profissionalismo tem sido real e verdadeiro. Os clubes americanos, ao contrário dos brasileiros, não têm nenhuma influência política. Aqui, quando estávamos mal, a torcida organizada praticamente me consolava, dizia que sabia que o trabalho era a longo prazo, dava força

André Zanotta, diretor técnico do FC Dallas

Existia a ideia de que seria complicado trabalhar por causa das regras diferentes, mas não é impossível aprender. A liga é cada vez mais profissional, com novos patrocinadores, novos contratos de TV. O contrato com a Adidas ficou oito vezes maior. E a Copa de 2026 deve atrair ainda mais olhares

Alexandre Leitão, CEO do Orlando City

Steven Ferdman/Getty Images Steven Ferdman/Getty Images
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