'Eu precisava jogar'

Pedro se abateu por falta de sequência e cogitou deixar o Flamengo, mas se reencontrou e luta por vaga na Copa

Bruno Braz Do UOL, no Rio de Janeiro Lucas Seixas / UOL Esporte

Pedro recebeu o UOL Esporte para entrevista exclusiva no Ninho do Urubu com um sorriso no rosto. Quatro dias antes, o técnico da seleção brasileira, Tite, havia mais uma vez o elogiado e dado sinais de que pensa em levá-lo para a Copa do Mundo.

Conhecido por comemorar os gols com uma reverência, o atacante de 25 anos vive um momento no qual se acostumou a ser reverenciado pelas boas atuações. Humilde, não se deslumbra, mas mantém a tranquilidade de alguém que sempre teve certeza de que a tão sonhada e demorada sequência dentro de campo traria à tona o desempenho e reconhecimento.

Essa angústia e espera quase custaram caro ao Flamengo. Sem enxergar uma luz no fim do túnel quando amargou a reserva sob o comando de Paulo Sousa, o centroavante se abateu e cogitou deixar o Rubro-Negro, mas quiseram o destino, e o próprio clube, que ele permanecesse. Com a chegada de Dorival Júnior e uma grande dose de esforço particular - contratou até um "coach tático" para ajudar no posicionamento em campo - a reviravolta aconteceu.

Golaços, assistências, participações em lances de gol e regularidade, além do porte físico e da movimentação de centroavante clássico, compõe o que Tite chama de "característica única", e que pode credenciá-lo para a Copa do Mundo. O Qatar está logo ali?

"Se tiver que acontecer, vai acontecer...", diz Pedro.

Lucas Seixas / UOL Esporte

Pedro fala com exclusividade ao UOL Esporte no Ninho do Urubu

Lucas Seixas / UOL Esporte

'Na janela vou ter que ver o que é melhor para mim'

A vontade inicial de Pedro sempre foi ficar no Flamengo e escrever sua história no clube do coração. No entanto, antes da chegada de Dorival Júnior, o plano por pouco não saiu dos trilhos. Não foi por conta do desempenho dentro de campo, onde sempre correspondeu, mas pela falta de oportunidade de uma sequência como titular. O estopim foi ficar no banco e não entrar na decisão da Supercopa do Brasil, em fevereiro deste ano, contra o Atlético-MG.

"Fiquei muito frustrado na época", diz Pedro. "Afetou dentro de campo, eu ia para os treinos e jogos e acabava pensado que não ia dar certo aqui no Flamengo. Esse era o pensamento que eu tinha. E uma coisa que eu tenho muito forte em mim é o mental, emocional, e eu tinha perdido naquela época. Eu vinha para os treinos meio abatido, para baixo, e isso acabava afetando o rendimento".

Foi quando pensou em respirar novos ares...

"Naquele momento passou pela minha cabeça que eu precisava jogar. Estou sempre querendo jogar e mostrar meu trabalho porque sei que tenho capacidade de chegar muito longe. E eu pensava: 'Pô, não vai dar certo, na janela vou ter que ver o melhor para mim, para minha carreira'", se recorda.

Neste meio tempo, surgiu o interesse do Palmeiras, mas segundo Pedro, nunca houve uma conversa direta entre ele e a diretoria alviverde:

"Não, nunca teve. A diretoria não liberou. Aqui no Flamengo sempre tive isso comigo: só vou fazer algo a partir do momento que o Flamengo liberar ou não. Então foi de clube para clube, não chegou até a mim".

FRANCISCO STUCKERT/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

'Dorival é um cara mais paizão'

"Se for ver, meus números sempre foram bons pelo Flamengo". É desta maneira que Pedro argumenta sobre sua trajetória pelo clube até aqui. Ela é de fato curiosa: mesmo contribuindo de forma efetiva e bancado por números, o atacante demorou para se firmar como titular. As oportunidades em sequência vieram em dois momentos: com o espanhol Domenec Torrent, que comandou a equipe em parte de 2020, e agora, com Dorival Júnior. Sobre o atual treinador, Pedro é só elogios:

"Dorival é um cara mais paizão, conhece. Trabalhar no Flamengo com esses grandes jogadores não é fácil. É um cara que tem ajudado muito em campo e fora também, um companheiro, então procuramos ajudar ele da melhor forma. Chegou e está nos ajudando bastante".

Sobre a passagem decepcionante do português Paulo Souza, o atacante faz uma mea-culpa em nome do grupo.

"Não estávamos vivendo um grande momento. Paulo Sousa chegou e colocou o Flamengo para jogar, mas não estava encaixando. Não sei o que aconteceu, mas não estávamos conseguindo jogar bem. Pode ser por característica nossa, mas a culpa não é só do Paulo Sousa, é nossa também, que entra em campo", avalia o camisa 21.

Se for ver, ninguém dava nada pelo Flamengo e hoje estamos nas três competições, então isso mostra o trabalho do Dorival e da equipe. Sabíamos que estávamos num mal momento, mas sabíamos da nossa qualidade. Foi conversa entre nós jogadores e o Dorival para voltarmos a ser o Flamengo que fomos. A conversa foi boa e colocamos em prática também. É um Fla que esta jogando bem.

Pedro, Elogios a Dorival em entrevista exclusiva ao UOL Esporte

Lucas Seixas / UOL Esporte

Pedro tem 'coach tático'

A transformação de Pedro como jogador durante 2022 também passou por um esforço dele para acrescentar armas ao seu jogo. Um analista particular, que é uma espécie de "coach tático", lhe dá orientações sobre como superar zagueiros. Além disso, profissionais dão atenção individual ao seu físico. Com isso, tornou-se um atacante que ajuda na marcação e tem mais armas ofensivas.

"Faço trabalho geral por fora, técnico, tático... Não posso citar [o nome do profisional]. Ele é bem reservado", conta sobre o "coach tático", que foi indicado pelo companheiro David Luiz.

Nas aulas, o analista lhe dá dicas sobre como se posicionar, como se desmarcar de zagueiro, entre outros pontos.

"Os zagueiros estão sempre querendo me marcar dentro da área e aí vejo com ele um jeito mais fácil de sair deles, de não me verem, não me enxergarem. São detalhes que fazem diferença no jogo. Manipular o zagueiro, observar o jogo antes da bola chegar. São situações que fazem diferença no jogo e fazem o trabalho ficar mais fácil", descreve o jogador.

Além do analista tático particular, Pedro também conta com serviços particulares de preparação física e fisioterapia:

"Eu trabalho diariamente, aqui no Flamengo, e também fora do clube. Trabalho em casa para aperfeiçoar o físico e faço fisioterapia também. Tenho evoluído muito nos dados do GPS, no dia a dia dos treinos e jogos. O futebol de hoje precisa disso. Está todo mundo defendendo, atacando... O futebol está mais rápido e exige mais da parte física".

Arquivo Pessoal

Autocobrança vem desde a base

Uma das principais características de Pedro é a autocobrança por metas, desafios, gols e títulos, algo que carrega desde pequeno. Com passagem nas categorias de base do Flamengo, Pedro possui uma foto um tanto quanto curiosa onde aparece com uma cara de emburrado com os companheiros, mesmo tendo sido campeão no futsal do Rubro-Negro.

"Aquilo ali foi porque não consegui ser o artilheiro do campeonato. Eu estava chateadão depois do jogo. Cabeça de moleque ainda [risos]. A gente foi campeão, mas eu não fui artilheiro, então eu fiquei um pouco emburrado [risos]", explica, complementando:

"Já vem de criança essa cobrança. No futebol precisa disso, virar homem muito rápido. Aquilo ali foi uma cobrança minha mesmo".

Pedro, porém, faz questão de frisar que, hoje em dia, lida melhor com esta autocobrança:

"Hoje é diferente. Tenho pensamento mais coletivo. O mais importante é a vitória, o título, e os gols saem naturalmente. O foco principal é o coletivo".

Curiosidades de Pedro

  • 'Cria' do Méier

    Pedro é "cria" do bairro do Méier, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Durante anos, morou em um prédio na rua Aquidabã e ainda mantém amigos na região.

  • Passou pela base do Fla

    Pedro já havia sido do Flamengo anteriormente, só que na base. Ele atuou tanto no futsal quanto no campo, e foi dispensado quando tinha 14 anos.

  • Duque Caxiense

    Após a dispensa no Fla, se destacou no modesto Duque Caxiense, onde foi artilheiro e campeão na Série C do Rio, e acabou se transferindo para a base do Fluminense.

  • Precisa de pouco tempo

    Segundo a plataforma especializada "Sofa Score", Pedro é o atacante da Série A do Campeonato Brasileiro que precisa de menos minutos em campo para participar de gols.

Sergio Moraes/Reuters

E não é que dá para jogar com Gabigol?

Sem dúvida alguma, a pergunta que Pedro mais conviveu desde que chegou ao Flamengo foi: "Dá para atuar junto com Gabigol?". E à exceção de Domenèc Torrent, todos os outros treinadores que passaram pelo clube pareciam optar por responder com um sonoro não. Na disputa, o camisa 21 era preterido na maioria das vezes. Dorival Júnior chegou e provou que, além de possível, pode ser bastante benéfico ter a dupla no ataque.

"Sempre perguntavam [risos], mas brincadeiras à parte, é como o Gabriel sempre fala: o problema vai ser para o adversário. Estamos juntos, queremos dar o melhor para o Fla, e isso de jogar junto ou não só depende do treinador. Sempre nos demos bem dentro e fora de campo", diz Pedro, lembrando do voto de confiança depositado por Dorival:

"O Dorival confiou na gente. Ele sempre nos pediu para ajudarmos também defensivamente, porque sabe que ofensivamente podemos dar resultado. O que ele mais pediu era focar e se empenhar com o grupo, porque ofensivamente eu e Gabriel nos entendemos muito bem com Arrascaeta e o Ribeiro. O professor Dorival me deu essa confiança, essa possibilidade de ter a sequência que tanto esperei".

Mudanças táticas com Dorival

  • 1

    Dupla 'raíz'

    Com Dorival, Pedro tem atuado como uma verdadeira dupla com Gabigol. Ele pela esquerda e o camisa 9 pela direita. Com Paulo Sousa jogava centralizado.

  • 2

    Gabigol sai mais da área

    Com Pedro, Gabigol tem mudado um pouco sua característica no Flamengo e sai mais da área, servindo mais o seu companheiro de ataque.

  • 3

    Homem da bola longa

    Dorival Júnior tem orientado Pedro a ser o homem a escorar pelo alto as bolas longas lançadas pelo goleiro Santos durante as partidas.

  • 4

    Ajuda na marcação

    Um voto de confiança pedido por Dorival foi que Pedro ajudasse no sistema defensivo, principalmente nas bolas aéreas, que é uma de suas qualidades.

Lucas Seixas / UOL Esporte

Da frustração olímpica ao sonho próximo da Copa

Quando André Jardine fez a convocação da seleção olímpica, o nome de Pedro estava na equipe que, posteriormente, conquistaria o ouro. O calendário, entretanto, era apertado, e o Flamengo não o liberou para a disputa no Japão, seguindo normas da Fifa. O centroavante não esconde que ficou chateado com o episódio, mas o vê como superado até pela chance de voltar à seleção.

"Se eu falar que não [ficou chateado], vou estar mentindo. Fiquei um pouco chateado na época, porque eu queria estar na seleção, mas a diretoria foi bem clara comigo, sempre deixou bem claro que não iria me liberar, e o que me deixou mais chateado é que, na época, no momento das Olimpíadas, joguei só um jogo como titular no Flamengo, se eu não me engano. Mas isso já é passado", disse.

O mundo, porém, deu voltas e, com grandes atuações, Pedro tem recebido elogios do técnico Tite e surge no sprint final como candidato a abocanhar uma vaga no ataque da seleção para a Copa do Mundo.

"Fico muito feliz com essas falas do professor Tite. É um sonho, para mim, vestir a camisa da seleção, e quando ele fala isso, me dá uma esperança ainda maior, mas continuo trabalhando da mesma maneira".

Lembro junto da família, pintando rua, aquela festa de parar todo Brasil em cada jogo da seleção. E hoje poder ter essa chance de estar na Copa é um sonho de criança, um sonho não só meu como de toda minha família. Espero poder concretizar.

Pedro, Sobre as lembranças de infância da Copa

Hoje estou bem tranquilo em relação a isso. No início estava um pouco mais ansioso, mas agora sei que vai acontecer naturalmente. Se tiver que acontecer, vai acontecer, então prefiro focar dentro de campo e dar o melhor a cada dia.

Pedro, Sobre possível ansiedade pela convocação

Fico muito feliz de ver a galera me pedido na seleção. Vejo não só os torcedores do Flamengo, mas de outros clubes também. E isso me alegra bastante, me motiva ainda mais em lutar para ter esse espaço na seleção.

Pedro, Sobre os pedidos dos torcedores sobre sua convocação

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