Quase-parças

Histórias dos amigos de infância de Neymar revelam um jovem tímido, competitivo, chorão e cheio de regalias

Talyta Vespa Do UOL, em São Paulo Juca Varella/Folhapress

Neymar tinha por volta de 11 anos. Morava com os pais e a irmã em uma casa de tamanho médio que tinha um campinho minúsculo no quintal, na Praia Grande, litoral paulista. Todos os dias, acordava bem cedo, para ir a Santos e iniciar a lista de compromissos que, mesmo criança, já encarava: escola, futsal, futebol. Tudo na cidade vizinha.

A saída de casa costumava ser precedida por uma ligação para o telefone fixo de Danilo Carvalho, com quem treinava futsal e futebol. "Tô saindo", gritava, e corria para o ponto de ônibus enquanto o amigo, do outro lado do litoral sul, em São Vicente, agarrava a mochila sem pressa. Exatos quarenta minutos depois — se a sorte não fosse prejudicada por questões de trânsito —, o ônibus que levava Neymar apanharia, também, Danilo.

"Quando a gente se desencontrava, eu ficava triste. Ia para o Santos sozinho. Esperava. Em algum momento, ele chegava, né? Mas legal, mesmo, era quando a gente dava a sorte de ir junto. Eu me esforçava: contava os minutos e, quando achava que o ônibus que vinha vindo era o dele, entrava. A gente jogava junto, estudava na mesma escola; virava e mexia, Neymar dormia na minha casa. Éramos grudados", relembra Danilo.

Hoje, o ex-grude do jogador trabalha no setor de reservas de um hotel em Águas de Lindóia, no interior de São Paulo. À noite, ele cursa o terceiro ano da faculdade de Ciências Contábeis. O salário que ganha passa longe da mesada que o jornal espanhol "Mundo Deportivo" insinuou que a estrela do Paris Saint-Germain paga ao seus "parças": R$ 50 mil.

Foi por pouco que Danilo não virou um deles.

O mesmo (não) aconteceu com outros amigos de infância do camisa 10. Os "Quase-Parças" com quem o UOL Esporte conversou seguiram caminhos diferentes. "Fazer o que, né?", brinca Luis Ricardo, o Luisinho. "Se Neymar me chamasse para ser parça, largava tudo e ia".

As muitas horas de conversa com seis protagonistas da infância de Neymar ajudam a traçar um perfil do menino Ney quando ele era, de fato, um menino. A vida pré-fama também permite compreender quem é hoje o principal jogador da seleção brasileira.

Quem são os quase-parças

"Aquele ali é o Juninho?"

Neymar foi "Juninho" até começar a despontar pelo Santos em um longínquo 2009. Neymar, mesmo, era o pai dele, a quem o advogado Raphael Ferrari descreve como "exigente e amigão, ao mesmo tempo". Ele conta que a estreita relação entre pai e filho existe desde a infância do jogador: antes de tomar qualquer decisão, Neymar consultava o pai.

"Meu irmão e Neymar jogavam futsal pelo Gremetal [clube em Santos] quando tinham uns dez anos. O sonho dos dois era furar a orelha, mas nossos pais não deixavam, diziam que eles eram muito novos. Um dia, fomos assistir a um jogo deles. De repente, o Neymar aparece em quadra cheio de esparadrapo. Tinha tapado o pulso e a orelha, para fingir que tinha brinco. O pai dele olhou, olhou, e perguntou para o meu, que, hoje, é advogado do Instituto Neymar Jr: 'Márcio, aquele ali é o Juninho?'. Chamou o moleque até a grade e deu-lhe uma bela bronca: 'O que é isso? Tire isso agora! Você não é estrela, tem que mostrar a que veio'".

Nem o corte moicano Neymar pai deixava o filho fazer. Para Raphael, a regra era clara: "Se você fizer esses penteados, vai chamar muita atenção. Quando for campeão paulista, vai poder cortar. Quando ele foi campeão pelo Santos pela primeira vez, foi correndo fazer o corte", conta Raphael, lembrando do título de 2010.

Neymar, desde criança, era muito visado, conta o amigo. Por isso, o pai insistia para que, antes de criar o próprio estilo, ele se firmasse no futebol. "Seu Neymar não queria que ele chamasse atenção e as pessoas achassem que ele era mala —o que não era. A gente sabe que ele é humilde", conta. "Acho que as pessoas sentem um pouco de inveja da relação entre os dois. O pai dele está sempre presente, minimiza eventuais polêmicas. É uma relação fantástica".

Raphael e Neymar conviveram durante a adolescência. O craque entrou para a família do advogado quando começou a jogar com o irmão dele, Felipe, que, hoje, disputa a série A3 do Paulistão pelo Linense. "Ele vivia lá em casa porque morava na Praia Grande, e tudo o que a gente fazia era em Santos. Eu tinha um triliche no quarto. Meu irmão dormia na cama de baixo, eu, na do meio, e Neymar ficava com a de cima", conta Felipe.

Logo que despontou no Santos, ele conseguiu comprar um apartamento —que ficava bem próximo à Vila Belmiro. Daí, o ponto de encontro dos parcinhas foi transferido para lá. Felipe lembra que o espaço era grande: Neymar tinha um quarto só para ele, no andar de cima do duplex. Rafaella, a irmã do craque do PSG, tinha o dela, e os pais, o deles. Na casa, tinha uma piscina em cujo deck os meninos passavam a tarde batendo bola. "No quarto dele tinha um triliche igual ao que tinha em casa. A gente se apertava ali", diz.

Neymar não parava de jogar bola nem para comer. Toda vez que Nadine cozinhava, era um parto. "Ela era linha dura com ele", conta Raphael. "A gente não queria tomar banho, nem comer. Queria ficar jogando bola o dia inteiro. Quando batia a fome, Neymar só queria comer lanche. A comida da dona Nadine era muito boa. Lembro que ela fazia um lanche legal de hambúrguer com alface, presunto, queijo e tomate. Ainda assim, a gente só sentava para comer se tivesse uma bola debaixo da mesa, que passava de pé em pé durante a refeição".

Em quadra ou em campo

Era com a bola no pé que Neymar dava trabalho, não só para os adversários ou para a mãe. Ele despertava a ira dos pais das crianças que o enfrentavam. Danilo, aquele com quem Neymar tentava pegar o mesmo ônibus todos os dias, relembra um jogo de futsal contra o clube Primeiro de Maio, em São Paulo. "O pai do menino que marcava o Neymar estava muito puto. Ele driblava o filho do cara lindamente, o tempo todo. E ele gritava: 'Ele só sabe de esquerda, tapa a esquerda'. O menino fez isso, aí o Neymar caiu para a direita. Ele ficou transtornado".

"É verdade, os caras ficavam putos", conta Luís Ricardo, outro quase-parça de infância. "Meu pai morreu muito cedo, então meu irmão, dez anos mais velho, assumiu esse papel. Ele, o pai do Neymar e o pai do Dudu, outro amigo nosso, eram muito unidos — e muito exigentes. Eles gritavam com a gente, xingavam quando jogávamos mal. Teve uma vez que perdemos um jogo para o Santos — a gente jogava no Gremetal — e voltamos, na perua azul do pai do Neymar, levando bronca da Vila Belmiro até a Náutica", relembra. Entretanto, quando os meninos mandavam bem, a comemoração era à altura do jogo: Neymar pai levava o grupo para almoçar. "Comíamos o restaurante inteiro."

Luisinho, que, quando criança, jogou contra o camisa 10, relembra a dificuldade na marcação. "Eu jogava no Portuários e ele, no Gremetal, quando tínhamos uns seis anos. Fomos jogar um amistoso e, como o time deles era muito técnico, eu tive que marcar pesado. O jogo começou a pesar e eu, sem querer, quebrei o dedinho do pé esquerdo do Neymar, acredita? Como que eu ia virar parça depois disso?", ri. "Depois desse torneio, fui convidado para ir para o Gremetal. E aí, Neymar e eu ficamos bem amigos".

"Neymar sempre foi diferenciado. Era ele quem decidia as partidas; em todo o time em que estava, era o principal jogador. Joguei com ele desde os tempos de Tumiaru, de São Vicente, até o Santos, passando pela Portuguesa Santista e pelo Gremetal. Deixei o futebol quando vi que não conseguiria ser profissional e comecei a faculdade de Direito. Neymar sempre soube que queria viver de futebol. Ele já vivia", conta o hoje empresário Eduardo Ribeiro, o Dudu.

"Não gostava de perder nem no par ou ímpar"

"Sempre que viajávamos para jogar, sentávamos um ao lado do outro no ônibus. Neymar sempre foi chorão, não gostava de perder. Uma vez, fomos jogar no Paraná, dentro de uma faculdade, e tinha um gramado de futevôlei lá. A gente foi brincar, e Neymar perdeu do Joclécio, que hoje é parça. O Jô começou a correr cantando o tema da vitória do Senna, e ele ficou louco. Começou a chorar, queria brigar, de tão competitivo que era", relembra Luís.

Segundo Raphael, perder não era aceitável nem no par ou ímpar na cabeça do jovem Neymar. "Um dia, estávamos em casa, Neymar, eu, Joclécio e meu irmão jogando videogame —futebol, é claro. Ele perdeu e a gente começou a zoar. Cara, ele ficou muito puto, bravo, mesmo. Saiu da minha casa batendo as portas. Foi embora. Depois, voltou e se desculpou", conta, em meio a risadas.

Além de competitivo, Raphael define o camisa 10 como supertímido. Um dia, depois de ter dormido em sua casa, Neymar se levantou e foi direto tomar banho. Os irmãos Raphael e Felipe continuavam dormindo. De repente, Neymar entra no quarto tremendo de frio e se cobrindo com o edredom. "'Que houve?', perguntei. Ele disse que o chuveiro tinha queimado e ele tinha tomado banho frio. Comecei a rir. 'Você não avisou a ninguém?'. 'Não, tomei gelado mesmo'. Não acreditei naquilo".

"Às vezes, ele ficava com fome e não falava, de tanta vergonha que tinha. Ele gostava muito da comida da minha mãe, mas não pedia. Falava algo do tipo 'Ah, tia, saudade daquele brigadeirão que a senhora faz'. Ela entendia o recado e fazia", conta.

Regalias de um estudante diferente

Raphael conheceu Neymar ainda no Liceu São Paulo, colégio que fica na Vila Matias, bairro próximo à Vila Belmiro, onde estudou do primário até a sétima série — ano em que reprovou, em matemática por meio ponto. Com a reprovação, Neymar perderia a bolsa de estudos, conquistada pelo futebol jogado nos campeonatos dos quais a escola participava.

Os amigos entraram em ação para tentar reverter o impacto no futuro do jogador. O pai de Raphael e Felipe acionou a dona de outro colégio tradicional de Santos, o Lupe Picasso, e negociou para que Neymar passasse de ano desde que fizesse trabalhos complementares e provas referentes ao conteúdo de matemática aprendido na sétima série.

Luciene Picasso, ainda hoje à frente da instituição na Vila Belmiro, aceitou a proposta: Neymar ingressou na oitava série com 100% de bolsa de estudos. "Na escola em que Neymar estudava antes, ele reprovou em matemática por meio ponto. Fizemos uma prova de reclassificação e ele tirou 8,5. Então, entrou na oitava série. O mérito foi dele".

Junto de Felipe, com quem passou a conviver, então, o dia inteiro, o jogador transformou o time da escola. Eles terminaram invictos em todos os torneios de Santos. "No Ensino Médio, começamos a treinar futsal de manhã e, à tarde, futebol. Daí, a diretora criou um turno noturno só para jogadores do Santos. Éramos, mais ou menos, dez alunos. Era divertido, uma bagunça só", diz.

A diretora conta à reportagem que o terceiro turno foi criado para que o grupo continuasse os estudos — os professores da manhã voltavam para a escola à noite e recebiam pela dupla jornada. Foi um investimento da escola. "Era uma turma normal, de adolescentes brincalhões, agitados, claro, mas respeitosos. Faziam bagunça, mas nunca tivemos problemas", conta.

Luciene ri ao lembrar do dia em que Neymar aprontou com a coordenadora da escola. Ela saiu da sala e ele, prontamente, colocou uma cobra de brinquedo embaixo da mesa dela. "Ele era muito brincalhão", afirma. "Ela quase infartou de susto, enquanto ele, atrás de uma janela, morria de dar risada. Tive de chamá-lo para uma conversa, disse que a coordenadora já tinha certa idade e que era perigoso brincar assim. Hoje, a gente lembra dessa história e morre de rir", conta. "Não suspendi nem adverti o Neymar, coitado. Foi só uma conversa pedindo que as brincadeiras fossem feitas com adolescentes da idade dele."

Os jogadores sofriam um pouco para manter o nível acadêmico. "A gente ficava na média. Viajávamos muito, então era difícil. Mas a gente se esforçava", afirma Felipe. Luciene confirma: "Quando ele começou a jogar profissionalmente, o tempo ficou reduzido. Não era a mesma dedicação. A gente pedia alguns trabalhos extraclasse e ele entregava todos — fazia as provas em dias alternativos, também. Era um bom aluno".

Até hoje, a diretora mantém em sua sala quadros com as fotos da colação de grau do jogador e da irmã, Rafaella, pendurados ao lado de uma camisa do Santos autografada pelo ex-aluno. Na escola, além do turno próprio e de trabalhos alternativos, Neymar teve mais algumas regalias que, geralmente, adolescentes não chegam perto de ter: a escola foi fechada para sua festa de 15 anos.

"Ele sempre gostou muito de samba, né? Então, cedi o prédio para que ele fizesse a festa de 15 anos com os amigos. O problema é que eles acabaram excedendo o volume do pagode, e os vizinhos chamaram a polícia. Eu fiquei um pouquinho na festa e, logo, fui embora. Quando a polícia chegou, me ligaram. Fiquei assustada, mas o pai do Felipe, que é advogado, estava por lá e, junto do 'Seu Neymar', resolveu a situação. Nem precisei voltar", conta Luciene.

A paixão de Neymar por pagode é unânime nas histórias que contam os quase-parças. Nas matinês frequentadas por Neymar e seus amigos na pré-adolescência, geralmente, o pandeiro rolava solto. "Quando estávamos de férias, todo dia era dia", diz Felipe. "Depois de adulto, ele começou a fazer as festas na casa que comprou em Acapulco, no Guarujá. Estávamos em todas."

Um dia, a caminho de uma festa na casa de uma amiga, Neymar e Felipe pegaram um táxi. O jogador já tinha virado um nome muito comentado dentro do time da Vila e era conhecido em Santos.

"Neymar colocou um capuz e cobriu o rosto. Então, perguntei para o motorista do táxi: 'E aí, o que você acha desse tal de Neymar?'. E ele quietinho. O motorista respondeu: 'Ele tá bem falado nos jornais, vai ser o futuro Robinho'. E eu repliquei: 'Moço, ele vai ser melhor que o Robinho, ele bate com as duas pernas, direita e esquerda'. E aí veio a melhor parte: 'Será? Não sei, viu. Acho ele meio magrinho, ele cai muito? Mas, tomara'. Quando chegamos, ele tirou o capuz e se apresentou. A gente morreu de rir, até foto o motorista pediu para tirar com ele".

Amigos no rebote

Foi na adolescência que as paqueras começaram a surgir. As lembranças de Felipe a respeito da fama de Neymar com as garotas são divertidas:

"Antes da fama, ele não fazia sucesso com as meninas, não. Éramos bem crianças, né, claro. A gente saía bastante e, normalmente, era de mim que elas ficavam afim. Depois, quando ele começou a aparecer na televisão, passou a chover garota. Todo mundo só queria ele e ninguém me queria", ri. "Aí eu ficava com os rebotes, claro."

O jogador garantia a paquera dos amigos, segundo Raphael. "Eu sempre fui namoradeiro, ficava pouco tempo solteiro. Quando acontecia, ele me apresentava para as meninas com um 'esse daqui é meu espelho, já pegou as meninas mais gatas da escola. Agora está solteiro e vai começar a competir comigo'", relembra. "Aí dava certo".

Raphael conta que, quando a fama foi chegando, foi ficando cada vez mais difícil badalar fora de casa. "Ele ficava muito tenso, não podia fazer nada, tinha uma pressão a respeito de se comportar. Imagino que ainda seja assim. Quando ele já estava no Santos, a gente ia para as festas de van, com segurança. Todo mundo parava e pedia parar tirar foto. Era uma loucura", diz.

Luís e Neymar, quando crianças, eram bastante parecidos. "Minha convivência com o Neymar foi até os 13 anos e, nessa época, a gente ainda não tinha namoradinha, não. Ele não chamava muito a atenção na escola, assim como eu. A gente estudava em escola de playboy, né? Na minha sala, só tinha dois negros. Não éramos o foco das meninas", conta.

Ainda assim, depois de adulto, Luís aproveitou a amizade de infância com Neymar para puxar assunto com as paqueras com quem saía. "Eu falava 'sabia que jogava com Neymar?' e mostrava fotos nossas para elas... Era ótimo para puxar assunto. O problema é que depois do terceiro encontro, elas já não se empolgavam com isso. Agora, tenho uma namorada — e ela não aguenta mais minhas histórias com ele", ri.

A virose que pegou todo mundo

O empresário Eduardo Ribeiro, o Dudu, com quem Neymar teve uma relação muito próxima desde os cinco anos, relembra o fatídico dia em que o camisa 10 pegou uma virose pouco antes de um jogo importante em São Paulo. Hoje, a lembrança vem com risos, mas, no dia em que aconteceu, foi uma preocupação sem fim.

"A gente jogava na Portuguesa Santista, tínhamos uns dez anos, mas jogávamos em um time formado por meninos mais velhos. Chegamos num clube chique em São Paulo, o Hebraica, e o Neymar, com virose, vomitou em toda a fachada do lugar. Todo mundo começou a vomitar junto de tanto nojo", ri. "Ele jogou mesmo assim, né. Jogou bem até com virose".

Luís, o quase-parça que quebrou o dedinho de Neymar aos seis anos, relembra o mesmo episódio e conta a manobra que a mãe de um deles precisou fazer para que Neymar se recuperasse. "Ele não tinha plano de saúde. Então a mãe de um dos meninos o levou para o hospital e fingiu que Neymar era o filho dela. Apresentou a carteirinha do convênio e ele foi atendido, acredita?".

Neymar, Dudu e Luís eram grudados —todos dormiam, quase sempre, na casa do Dudu, que era a maior das três.

O trio se afastou depois que Neymar começou a jogar pelo Santos. Luís reencontrava o amigo às quintas, dias de culto evangélico da igreja que ambos frequentavam. "Ele sempre ia com a mãe e a irmã. Quando começou a jogar no profissional, passou a ir menos aos domingos — quando tinha jogo, ele não aparecia. Depois de um tempo sem vê-lo, nos cruzamos na igreja e ele sentou ao meu lado. Me deu o telefone de um segurança, Mr. Big ou algo do tipo, e pediu que eu telefonasse dizendo que queria assistir a um jogo dele. Rolou, mesmo. Fui à Vila e assisti. Esse foi meu último contato próximo com ele; depois, fui viver minha vida e, logo, ele foi para o Barcelona."

Se o Neymar me chamasse para ser parça, hoje, eu largava tudo e ia. Minha namorada ia ficar brava, mas eu ia

Luís Ricardo Fernandes, amigo de Neymar, hoje é vendedor

Longe, longe, muitas léguas

A ida para a Espanha aos 21 anos não foi fácil para Neymar, diferentemente do que imaginavam os amigos. Apesar de todos garantirem que aquela era a realização de um sonho, os quase-parças entregam um Neymar "bastante triste" com a mudança. Felipe explica: "Ele ficou chateado. Estava bem adaptado ao Santos, aos amigos e à rotina com a família. Desde pequeno, ele dizia que sonhava em jogar no Real Madrid ou no Barcelona, que queria estar ao lado de Messi e Iniesta, mas foi muito pesado ter de deixar as pessoas", conta.

"Virava e mexia, ele mandava mensagens dizendo: 'Irmão, estou um pouco chateado. Queria estar aí com vocês, em Santos. Mas vou conseguir me adaptar, prometo'. Eu trabalhava em uma loja de segunda a sábado — inclusive, loja da dona Nadine, que me deu uma força quando minha filha nasceu e eu estava desempregado. Então, não consegui visitá-lo por lá. Ainda assim, sabia que ele se adaptaria", diz Felipe.

Danilo conseguiu visitar o antigo amigo em sua fase mais recente. No ano passado, foi para Paris em lua-de-mel com a mulher. "Postei uma foto no Instagram e um amigo em comum me escreveu. Eu perguntei a ele se seria muito difícil encontrar o Neymar e ele garantiu que não. Me passou o contato do Jô e ele me levou a um treino do PSG. Foi bem legal, ele continua muito humilde. Jogou uma camisa no meu ombro sem que eu pedisse, autografada", afirma.

No Camp des Loges, Neymar perguntou dos pais e do irmão de Danilo, relembrou a história do ônibus e de quando eles jogavam em times adversários pelo futsal. "Teve um jogo em que Neymar chegou atrasado — ele morava na Praia Grande, era difícil mesmo. Antes de ele chegar, a gente ganhava de 2 a 0. Meu pai gritava da arquibancada: 'Aumenta esse placar que o Neymar tá chegando'. Dito e feito. Ele chegou e fez três a dois na gente'."

O que dizem e como se sentem sobre o status de quase-parças

Segui minha vida independentemente do Neymar, foi uma escolha que fiz. Nunca quis ser pendurado nele. Eu fico muito feliz que os meninos, os parças, fazem companhia para ele. Mas eu escolhi correr atrás da minha carreira. Ainda tenho o sonho de jogar fora do país. Quem sabe, consigo

Felipe

Não foi por falta de convite que não me tornei um parça. Eu era o parça oculto porque sempre namorei bastante e não podia sair sozinho. Às vezes, eu até saía escondido com ele. Mas parei com o futebol, entrei na faculdade e agora quero ser juiz. Não virei parça porque precisava estudar e não tinha tempo para viajar com ele

Raphael

Eu poderia estar lá, fui um dos principais amigos dele. Até poderia ter virado parça, mas a gente começou a se afastar em 2011, quando foi a última vez em que conversamos. Se ele me chamasse para trabalhar com ele, em algo relacionado à minha área, aí eu iria. Mas largar tudo só para ser amigo dele, não. Preciso ajudar minha mãe, meu pai, tenho que me casar, ter filho. Ficar nessa vida que eles levam não dá

Eduardo

Não fiquei triste por não ter sido chamado para ser parça. Cada um segue o que acha melhor. Eu não tive tempo para isso, estava buscando os meus sonhos e quem permaneceu ao lado dele, seguiu. Eu não podia depender disso; conheci o Neymar quando ele não era nada, quando ele era o Juninho. Não tinha a aposta de que ele ia ser o cara e eu do lado dele. Mas, pode apostar, se estivermos em um lugar com 50 mil pessoas, ele vai me ver e me chamar, mesmo estando há oito anos sem vê-lo

Danilo

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