Desde que adotou a integração racial em 1950, a NBA gradualmente se transformou em uma liga majoritariamente negra, mas nada igualitária. A porcentagem de jogadores negros gira em torno dos 75% há pelo menos 30 anos, quando levantamentos do tipo passaram a ser feitos pelo Instituto de Diversidade e Ética nos Esportes (TIDES). Entre técnicos e presidentes, no entanto, a proporção é muito diferente (compare nos gráficos abaixo).
O primeiro técnico negro da NBA foi Bill Russell, ídolo do Boston Celtics e uma das lendas da liga. Após três brancos recusarem o cargo, ele foi anunciado como sucessor do lendário Red Auerbach em 1966, apenas dois anos depois do fim das leis de Jim Crow, que impunham a segregação racial no sul dos EUA. Russell foi bicampeão atuando como jogador e treinador dos Celtics (1968 e 69), os últimos de seus 11 títulos.
O sucesso de Russell abriu caminho para mais técnicos negros serem contratados nos anos 70, inclusive com mais títulos ganhos, mas a proporção nunca chegou perto daquela entre os atletas (75%). Com o anúncio de Darvin Ham pelos Lakers nesta semana, é a primeira vez na história que os treinadores não brancos são maioria na NBA (15 negros e um hispânico em 30 franquias).
Resta ainda um degrau na integração. No nível executivo, só há três negros em 46 posições de CEO ou presidente dos times (veja a evolução no gráfico abaixo). A baixa diversidade em cargos de comando é um fenômeno comum a sociedades estruturalmente racistas. Entre as 500 maiores empresas dos EUA listadas pela revista Fortune, por exemplo, apenas seis têm CEOs negros (1,2%). No Brasil, uma pesquisa desta semana da USP não encontrou um negro sequer entre os CEOs de 69 empresas públicas brasileiras e apenas seis entre 727 membros de conselhos (0,82%).
Apesar de ainda não ter reflexo no alto escalão da NBA, a pressão dos jogadores após a morte de George Floyd deu resultado, a ponto de o próprio comissário da liga, Adam Silver, reconhecer a demora para os avanços.
"Isso não é algo apenas da NBA, e aprendi de outros negócios, é que precisamos falar sobre esses problemas o tempo todo", afirmou em entrevista coletiva antes do jogo 1 das finais desta temporada. "Se você se preocupa com diversidade e inclusão em seu ambiente de trabalho, você precisa olhar os números. Você precisa constantemente levar isso a seus colegas, aos chefes de departamentos, aos times, e isso virou o foco. É meu trabalho dizer que isso é prioridade para a nossa organização."
"Ao mesmo tempo, enquanto eu particularmente estou orgulhoso dos números e quase 50% dos nossos técnicos agora são negros, o objetivo é que isso não seja notícia e quando alguém for contratado, que a primeira reação não seja sobre a cor da pele. Eu não quero ser ingênuo, mas sei que o nosso trabalho na liga é importante de forma simbólica, não apenas para os esportes, mas para outras indústrias e para as pessoas que nos assistem ao redor do mundo."
Já entre os jogadores, o discurso segue mais firme em relação ao posicionamento do comissário da NBA. Um dos principais nomes dos Celtics, Jaylen Brown, diz não saber os motivos da demora para a liga ter metade dos técnicos não brancos.
"Eu não entendo por que demorou tanto, para ser honesto", disse. "Claro, agora é ótimo ver muitos técnicos que estão tendo a oportunidade de aparecer nesses momentos. Ime é um produto disso. Primeiro ano como técnico e está nas finais. Acho que isso é um exemplo, não apenas na NBA, mas para toda a sociedade. Apenas uma oportunidade é o suficiente."