Rafaela Silva já era uma atleta de seleção brasileira, mas de repente sumia no meio do treino. Bicho pegando no tatame, em atividades com judocas do mundo todo, mas cadê a Rafa? Era procurar no vestiário, e lá estava ela escondidinha, desinteressada.
Valia a máxima de Didi: "treino é treino, jogo é jogo". Mais do que isso: para funcionar, o treino precisava ser jogo. "A fulaninha ali disse que vai te meter a porrada", inventava alguém da comissão técnica. Aí ela se interessava.
O oposto também funcionava. Muitas vezes, já no topo do mundo, foi inscrita para competir um evento regional qualquer, contra meninas muito mais fracas, para que o jogo servisse como treino.
Porque só há uma coisa que Rafaela goste mais de fazer no mundo do que competir: ganhar. Treino de judô demanda cair, e o negócio dela sempre foi derrubar.
Daqui a menos de duas semanas, Rafa vai atrás do título do Pan, único que ainda não tem. Em 2019, venceu o torneio em Lima, mas perdeu depois a medalha por doping. Recebeu a pior punição possível: ficar sem competir.
Mas o pesadelo que roubou noites e mais noites de sono acabou. Agora é tirar o tempo perdido e voltar a sonhar. A fera, ferida, está de volta.