'Paro no auge'

Rebeca leva 2ª prata, entra no Olimpo ao lado de Biles, Comaneci e Latynina, e se aposenta do individual geral

Demétrio Vecchioli Do UOL, em Paris Rodolfo Buhrer/Rodolfo Buhrer/AGIF

Rebeca Andrade, pode se sentar.

A mesa das 11 mulheres que alcançaram o incrível feito de ir ao pódio em duas edições diferentes dos Jogos Olímpicos no individual geral, a prova que define as ginastas mais completas do mundo, ganhou uma nova integrante.

Simone Biles já era convidada de honra e ganhou, hoje, um assento definitivo com seu segundo ouro no individual geral, e a também americana Sunisa Lee chega com seu bronze somado ao ouro de Tóquio, mas é Rebeca quem dá uma cara nova à confraria. Com a prata que conquistou nesta quinta (1), repetindo o resultado de Tóquio-2020, ela é a primeira atleta de fora das quatro grandes escolas da ginástica a chegar lá. Antes, apenas soviéticas e russas, romenas, norte-americanas e uma tchecoslovaca tinham lugar no banquete.

Em um grupo tão seleto, Rebeca fez uma revelação após a prova: "Hoje foi meu último individual, hoje foi meu auge".

Rodolfo Buhrer/Rodolfo Buhrer/AGIF

"O individual geral, exige muito do meu corpo, principalmente dos membros inferiores. Eu já trabalhei isso na minha cabeça e queria muito que hoje fosse uma competição especial para mim. E foi. Porque, para mim, vai ser o meu último individual geral".

Foi assim que Rebeca anunciou o adeus à prova, já com a medalha de prata no peito e após obter a maior pontuação de sua carreira (57,932). Em Paris, Rebeca reduziu a distância que a separa da melhor da história, Simone Biles. "Eu não quero mais competir com a Rebeca. Estou cansada. Tipo, ela está muito perto. Nunca tive uma atleta tão próxima", disse a norte-americana, em tom de exaltação à brasileira.

Rebeca respondeu, depois, que não se sente da mesma forma, não está cansada de competir com Biles, está só cansada na totalidade.

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O que é o Olimpo da ginástica?

A prova que define a ginasta mais completa, que soma mais pontos na soma dos quatro aparelhos da ginástica artística feminina, é disputada em Jogos Olímpicos desde 1952.

E é uma das provas que menos repete atletas no pódio em todo o programa olímpico.

Até hoje, apenas a maior de todas, a soviética Larissa Latynina, ucraniana que defendia a União Soviética e dona de 18 medalhas olímpicas entre 1956 e 1964, ganhou medalhas três vezes. A explicação para isso está na alta competitividade, claro, mas também na curta duração de uma carreira de altíssimo rendimento na ginástica.

São poucas as que conseguem chegar a dois Jogos Olímpicos em altíssimo nível.

Isso torna o feito de Rebeca ainda mais impressionante. A brasileira chegou lá mesmo depois de sofrer três cirurgias de ligamento cruzado anterior (LCA). No MESMO joelho.

Quando pessoas normais desistiriam de uma carreira para o alto rendimento, Rebeca renasceu das cinzas. Ganhou não uma, mas duas medalhas olímpicas no individual geral - e outras duas em outras provas. Mas, um aviso: mais estão por vir.

  • Larisa Latynina (URSS)

    É a maior medalhista de ouro da história da ginástica nas Olimpíadas, com nove provas vencidas. No total, tem 18 medalhas olímpicas, marca que ainda é a segunda da história, atrás apenas de Michael Phelps. No individual geral, foi ouro em Melbourne 1956 e Roma 1960 e prata em Tóquio 1964.

    Imagem: Getty Images
  • Sofia Muratova (URSS)

    Participou de duas Olimpíadas e conquistou oito medalhas. No individual geral, conquistou um bronze em Melbourne 1956 e uma prata em Roma 1960.

    Imagem: Hulton Archive/Getty Images
  • Polina Astakhova (URSS)

    Foi chamada de Madonna pela imprensa italiana durante os Jogos de Roma. Ela era especialista nas barras assimétricas e integrou a seleção soviética de 1955 a 1968. No individual geral, conquistou dois bronzes olímpicos: Roma 1960 e Tóquio 1964.

    Imagem: KEYSTONE-FRANCE/Gamma-Rapho/Getty Images
  • Vera Caslavska (Tchecoslováquia)

    Conquistou sete ouros olímpicos e ganhou quatro Mundiais e 11 Campeonatos Europeus. É uma das duas únicas ginastas a ganhar o individual geral em Olimpíadas consecutivas: Tóquio 1964 e Cidade do México 1968.

    Imagem: Alert/ullstein bild via Getty Images
  • Ludmilla Tourischeva (URSS)

    Fez apenas o 24º lugar no individual geral nos Jogos de 1968, mas depois disso dominou a ginástica europeia. Foi a mais completa nos Mundiais de 1970 e 1974, nos Europeus de 1971 e 1973 e o ouro em Munique 1972. Em 1976, foi bronze em Montreal 1976.

    Imagem: S&G/PA Images/Getty Images
  • Nadia Comaneci (Romênia)

    Foi a primeira ginasta a conquistar uma nota 10 nos Jogos Olímpicos e o fez aos 14 anos. Ao todo, ganhou cinco ouros nos Jogos. No individual geral, foi campeã em Montreal 1976 e prata em Moscou 1980.

    Imagem: Wikimmedia Commons
  • Lavinia Milosovici (Romênia)

    É uma das mais completas ginastas da história de seu país. Tem no currículo 19 pódios somando Olimpíadas e Mundiais. No individual geral, foi bronze em Barcelona 1992 e Atlanta 1996.

    Imagem: David Cannon/ALLSPORT
  • Simona Amanar (Romênia)

    Ajudou a Romênia a conquistar quatro mundiais por equipes consecutivos e tem sete medalhas olímpicas ao todo. No individual geral, ganhou o bronze em Atlanta 1996 e o ouro em Sydney 2000.

    Imagem: Mike Powell /Allsport
  • Aliya Mustafina (Rússia)

    É a maior ginasta que surgiu na Rússia desde o fim da União Soviética. Nenhuma ginasta do país tem mais medalhas olímpicas do que ela, com sete vezes pódios, incluindo dois ouros nas barras assimétricas (Londres 2012 e Rio 2016). No individual geral, tem dois bronzes nos Jogos (Londres e Rio).

    Imagem: REUTERS/Mike Blake
  • Simone Biles (EUA)

    Chegou a Paris com sete medalhas olímpicas e status de favorita a mais um punhado delas. Tem 23 ouros em Mundiais e, aos 27 anos, já é considerada uma das maiores ginasta da história. Só tinha disputado o individual geral uma vez, no Rio de Janeiro, em 2016, e foi campeã. Agora, levou o segundo ouro.

    Imagem: Lionel BONAVENTURE / AFP
  • Sunisa Lee (EUA)

    Terceira colocada hoje, ela soma o bronze ao ouro de Tóquio-2021. Naquela competição, aproveitou a ausência de Biles para conquistar o título em cima de Rebeca. Agora, não deu: a evolução de Rebeca foi muito grande para a norte-americana de 21 anos.

    Imagem: Athit Perawongmetha/REUTERS
Loic VENANCE / AFP Loic VENANCE / AFP

Fala, Rebeca!

Mulher brasileira com mais medalhas

"É uma honra, né? Eu me sinto privilegiada diante de tantas coisas que poderiam acontecer, e tantas pessoas que poderiam ter sido escolhidas pra estar aqui. Eu tô aqui, eu consegui, então realmente é uma honra gigantesca poder partir da porcentagem de mulheres que está cada vez mais vencendo e hoje poder trazer mais um resultado pro meu esporte, pro meu país, é incrível."

Torcida

"É muito bom, porque eu sempre quero orgulhar minha mãe. Eu sei que ela já sente orgulho de mim fazendo qualquer coisa, mas eu vivo ginástica, né? Isso aqui é a minha vida, então ela tá me assistindo, tá aqui torcendo por mim, orando e pedindo, sabe, pra que dê tudo certo, é maravilhoso. Acho que a melhor pessoa que poderia estar aqui é a minha mãe. Eu tô muito orgulhosa de ter feito tudo certo."

Incentivar as outras ginastas

"Sim, é uma briga. Assim, né, todo mundo quer vencer, todo mundo quer estar no pódio, mas é muito legal saber que, por mais que você queira vencer, as outras também estão torcendo por você e você também tá torcendo por elas. Eu acho que o esporte é isso, sabe? É você levantar a pessoa que tá ali do seu lado, mas também não perder o seu, sabe? Tá concentrada ali no seu, mas vibrar, torcer e ficar grata pela pela outra também. Eu acho que o meu grupo foi sensacional, assim, a gente se ajudou bastante na torcida mesmo, e nossa, foi demais. Eu acho que foi a primeira, tá sendo a primeira competição onde eu consigo assistir todas as meninas, porque normalmente eu fico mais fechada, eu não olho muito, e eu tô vivendo Paris, então eu tô aproveitando cada momento, e tá sendo demais, assim, poder torcer, vibrar e voltar com mais uma metalha, né?"

Se tornar a maior medalhista olímpica do país

Eu penso, não vou mentir, não. Porque eu quero estar, não pódio, né? Mas o resultado é consequência. Eu tenho que fazer a minha parte para estar lá. Eu preciso fazer a minha parte. E esse é o foco.

Luiza Moraes/COB Luiza Moraes/COB

Como foi a conquista

Rebeca já havia se classificado à final em segundo lugar, só atrás de Biles, em uma reedição do que aconteceu em Tóquio. Naquela ocasião, porém, a norte-americana se retirou dos Jogos e, na final, a brasileira foi superada por Sunisa Lee, também dos EUA.

Daquela vez, Rebeca teve só 0,200 de vantagem sobre a quinta colocada nas eliminatórias. Em Paris, desde a primeira fase, havia grande distância das duas estrelas, Rebeca e Biles, para todo o resto.

Isso ficou claro quando Rebeca teve a segunda melhor nota no solo (13,900, só atrás de Biles), o segunda melhor salto (14,900, idem) e o terceira na trave (14,500, também abaixo da chinesa Yaqin Zhou). Só nas barras assimétricas ela não pegou final de aparelho, terminando em décimo, com 14,400, logo atrás, adivinha de quem? Biles.

Na final por equipes, na terça, Rebeca mostrou que tinha margem para mais. Melhorou no salto (0,200), nas barras (0,133) e no solo (0,300).

Hoje, Rebeca repetiu a nota das equipes no salto, melhorou nas assimétricas e um erro de Biles a deixou na liderança depois de duas passagens. As expectativas aumentaram, mas Biles passou a brasileira logo em seguida, na trave.

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E ainda está longe de acabar.

Rebeca disse que vai parar, mas só no individual geral porque o esforço para isso é grande. Ela fez 13 apresentações em Paris até aqui, para ganhar duas medalhas. E ainda tem três finais por aparelho pela frente.

No sábado, às 11h20 de Brasília, a brasileira defende seu título de campeã olímpica do salto em uma disputa direta contra Simone Biles.

As duas tiraram, com folga, as melhores notas médias das eliminatórias, na soma de duas apresentações, e têm tudo para ficar com ouro e prata. Será a chance de Rebeca apresentar seu novo salto e homologá-lo como o "Andrade".

No domingo, dia da final das assimétricas, as duas estrelas descansam para duas decisões na segunda. Primeiro, da trave, às 7h38. Depois, fecham a competição, possivelmente exaustas, na final do solo, às 9h23.

Os medalhistas brasileiros

  • Larissa Pimenta (bronze)

    A chave é acreditar: Larissa é bronze no judô depois de muita gente (até uma rival) insistir que ela era capaz.

    Imagem: Wander Roberto/COB
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  • Willian Lima (prata)

    Dom e a medalha de prata: Willian sonhava em ganhar a medalha olímpica, e com seu filho na arquibancada. Ele conseguiu.

    Imagem: Wander Roberto/COB
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  • Rayssa Leal (bronze)

    Tchau, Fadinha. Oi, Rayssa: Três anos depois da prata em Tóquio, brasileira volta ao pódio em Paris e consolida rito de passagem.

    Imagem: Kirill KUDRYAVTSEV / AFP
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  • Equipe de ginástica (bronze)

    Sangue, suor e olho roxo: Pela primeira vez na história, o Brasil ganha medalha por equipes na ginástica artística. E foi difícil...

    Imagem: Ricardo Bufolin/CBG
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  • Caio Bonfim (prata)

    Buzina para o medalhista: Caio conquista prata inédita na marcha atlética, construída com legado familiar e impulso de motoristas.

    Imagem: Alexandre Loureiro/COB
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  • Rebeca Andrade (prata)

    'Paro no auge': Rebeca leva 2ª prata, entra no Olimpo ao lado de Biles, Comaneci e Latynina, e se aposenta do individual geral.

    Imagem: Rodolfo Buhrer/Rodolfo Buhrer/AGIF
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  • Beatriz Souza (ouro)

    Netflix e Ouro: Bia conquista primeiro ouro do Brasil em Paris após destruir favoritas e ver TV.

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  • Rebeca Andrade (prata)

    Ninguém acima dela: Rebeca ganha sua quinta medalha olímpica, a prata no solo, e já é recordista em pódios pelo Brasil.

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  • Equipe de judô (bronze)

    O peso da redenção: Brasil é bronze por equipes no judô graças aos 57kg de Rafaela Silva.

    Imagem: Miriam Jeske/COB
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  • Bia Ferreira (bronze)

    A décima: Bia Ferreira cai para a mesma algoz de Tóquio, mas fica com o bronze e soma a décima medalha para o Brasil.

    Imagem: Richard Pelham/Getty Images
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  • Rebeca Andrade (ouro)

    O mundo aos seus pés: Rebeca Andrade bate Simone Biles no solo, é ouro e se torna maior atleta olímpica brasileira da história.

    Imagem: Elsa/Getty Images
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  • Gabriel Medina (bronze)

    Bronze para um novo Medina: Renovado após problemas pessoais e travado por mar sem onda, Medina se recupera para conquistar pódio olímpico.

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  • Tatiana Weston-Webb (prata)

    Ela poderia defender os Estados Unidos, mas fez questão de ser brasileira e ganhou a prata de verde e amarelo

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  • Augusto Akio (bronze)

    Com jeito calmo, dedicação e acupuntura, Augusto Akio chegou ao bronze. Mas não se engane: ele é brasileiro

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    Bronze sub-zero: Edival Pontes, o Netinho, conheceu o taekwondo quando ia jogar videogame; hoje, é bronze na 'categoria ninja'

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    Piu supera tropeços em Paris, mostra que estava, sim, em forma e conquista seu segundo bronze olímpico.

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    Dez anos depois do título nos Jogos Olímpicos da Juventude, Duda e Ana Patrícia são coroadas em Paris

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    Prata da esperança - Vice-campeã olímpica, seleção feminina descobre como voltar a ganhar e mostra que o futuro pode ser brilhante.

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    Evidências - Programada para o ouro, seleção de vôlei conquista um bronze que ficou pequeno para o que o time fez em Paris.

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