UOL - No início você não tinha sequer um advogado, tinha talvez defensoria pública. Como é que foi o começo, esses primeiros dias em que você foi colocado na prisão nessas circunstâncias que todos conhecemos? Até que apareceu algum advogado russo, defensoria pública, de que maneira se comunicavam com você, pela questão do idioma, como é que foi esse começo?
Robson Oliveira - Nos primeiros dias, a comunicação era quase que impossível, até para eu falar que, eu cheguei na prisão, na primeira prisão provisória que eu fiquei, eu cheguei com um remédio de pressão no bolso e para explicar que aquilo era um remédio de pressão, o policial lá botou o telefone no tradutor para poder eu explicar para ele o que estava acontecendo em relação aos meus remédios
UOL - Ou seja, não havia comunicação, não havia advogado, você praticamente foi abandonado então, foi colocado ali.
Robson Oliveira - Dois ou três dias após a minha prisão, eu fui preso na segunda-feira, se eu não me engano, na quarta ou quinta-feira ela [Rafaela, esposa de Fernando] apareceu lá com um advogado e ela entrou como tradutora. Segundo ela, ela só pôde entrar porque ela disse que era tradutora. Ela se comunicava com ele em inglês, eu também não falo inglês, então também não entendia.
UOL - Depois disso, ela voltou a aparecer por lá? O que mais a família fez a seu respeito?
Robson Oliveira - Ela [Rafaela] entrou como tradutora, passou para mim que entrou como tradutora nesse dia e falou que o advogado falou para ela ali naquele momento que era melhor eu assumir os remédios, porque ninguém iria acreditar que os remédios não eram meus, porque eles não estavam na Rússia.
UOL - Como é que você ficou sabendo que eles se mudaram para a China? Como é que essa informação chegou para você?
Robson Oliveira - Eu soube pela televisão. Dentro da prisão eu soube pela televisão.
UOL - De repente, pela televisão, você ficou sabendo que as pessoas que o levaram para morar na Rússia não estavam mais na Rússia e você estava preso lá. Como é que foi o seu sentimento no momento em que você se depara com uma informação de tal importância?
Robson Oliveira - Um sentimento de que foi cometido uma covardia comigo porque, depois do que aconteceu, vai todo mundo embora, vai para a China e não fica ninguém, os verdadeiros responsáveis não.
UOL - Na prisão, você foi alvo de algum tipo de perseguição? Como é que você foi tratado?
Robson Oliveira - Não, eu não tive. O racismo lá é no olhar, só o fato de eles me olharem e me verem negro, é aquele olhar, enfim, a gente já sabe como funciona isso. Mas eu não sofri nenhum tipo de violência, nenhum tipo de perseguição. Desentendimento dentro da prisão é normal porque várias pessoas, de vários países, com costumes diferentes, que agem de maneiras diferentes em diversas situações, então é normal discussão, mas nada demais.
UOL - Havia alguém que você conseguisse se comunicar na prisão, alguém que entendesse minimamente o que você falava e você também? Um brasileiro ou alguém de língua latina?
Robson Oliveira - Não, quando eu fiquei durante 1 ano e 10 meses na Kashira, ninguém falava, eu que tive que tentar falar o russo. Aprendi um pouquinho, então depois de um tempo eu conseguia me comunicar, mas não tinha ninguém que falasse nada latino.
UOL - E a rotina na prisão, como era? Você tinha um tempo para poder ficar em uma área externa?
Robson Oliveira - Na Kashira, eles perguntavam se queríamos ir para uma outra cela que tinha, mais arejada, mas a maior parte do tempo era na cela, porque essa sala mais arejada era só uma horinha na parte da manhã. Agora, depois da transferência, aí já é mais tranquilo assim a nível de ar, mais arejado, não precisa ficar dentro da cela o tempo todo, depois de um mês e pouquinho eu comecei a trabalhar lá dentro.
UOL - O que você fazia lá?
Robson Oliveira - Lá tem vários setores de trabalho. Quando nós chegamos, eles perguntam se você quer trabalhar e o que você sabe fazer. Como eu não podia dirigir lá dentro, lá tem uma enorme confecção de roupas, de uniformes para funcionários públicos, vários setores de funcionamento público, e eu acabei caindo nessa parte na confecção.