Não me vejo como adulto

Precoce em tudo, Rodrygo amadurece no Real Madrid e na seleção sem abandonar o espírito de garoto

Rodrygo, em relato a Eder Traskini e Gabriel Carneiro Do UOL, em Santos e São Paulo Jose Breton/Pics Action/NurPhoto via Getty Images

Meu véi: conversando com o Elano, ele pensando em te levar pro jogo!"

É muito difícil responder quando me perguntam qual é a maior emoção da minha carreira. Você começa a falar de uma e pensa: "pô, teve outras também". Mas acho que foi minha estreia no profissional pelo Santos. Ali eu cumpri meu sonho, o que era a maior meta na minha vida. Para acontecer tudo que eu tenho hoje, de Real Madrid e seleção brasileira, eu precisei viver aquilo.

Era um jogo contra o Atlético-MG na Vila Belmiro, em 2017. O Elano era o técnico do Santos e me ligou chamando pra treinar na semana anterior. Eu tava no sub-17 e fiquei na maior ansiedade. Achei que ia só treinar e tals, mas eu vi que fui evoluindo e falei pro meu pai: "pô, vai que eu sou convocado pro jogo no fim de semana?"

Mas eu falei por falar, não acreditava muito. Até que, no último treino da semana, cheguei no vestiário, tinha a convocação e meu nome lá. Entrei no finzinho do jogo no lugar do Bruno Henrique, que era um dos grandes nomes do Santos naquela época. O Elano me orientou, mas vou falar pra você: nem escutei.

Eu estava tão nervoso, tão ansioso, que nem lembro o que o Elano falou na hora. Tanto que eu entrei correndo pra um lugar e o Lucas Lima e o Ricardo Oliveira gritaram: 'nãoooo, vai pra lá'".

Não tenho nem palavras pra explicar esse dia, foi fenomenal. Foi muito bom chegar no busão do Santos, o corredor de fogo ali da torcida. Essas são minhas lembranças. A gente ganhou de 3 a 1 e foi um dos dias mais felizes da minha vida. Mas eu sei que ainda tem muita coisa pela frente.

Jose Breton/Pics Action/NurPhoto via Getty Images

"Tanta gente pra comparar e vai comparar com Neymar?"

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Marcello Zambrana/AGIF

Quando eu saí do Santos, eu senti um pouco o golpe de não ter conseguido ser campeão. Eu queria ter levantado uma taça, principalmente a Libertadores, pela forma com que a gente foi eliminado. Hoje, paro para pensar e não tenho frustração.

Eu fiquei um ano e pouquinho no Santos. Tipo, não tive tanto tempo, não joguei tanto tempo. Estou com 21 anos e tenho mais tempo de profissional no Real Madrid, por exemplo. Nas eliminações que sofremos, eu tinha 17 anos. Não era nem um homem ainda, praticamente. Então, hoje, um pouco mais maduro, não sou frustrado por isso.

O mais louco é que, mesmo um pouco mais maduro, eu ainda me considero um menino, um adolescente. Não consigo me ver como adulto, muito sério, ainda. Mesmo com toda a responsabilidade que tenho hoje, não consigo me ver assim.

Claro que existem coisas em que não dá mais pra ser assim, em que eu tenho que ser maduro. Mas na minha cabeça, a maturidade é de um menino. Acho que esse lado é bom: estar sempre tranquilo, agindo com a alegria de um adolescente.

Diego Souto/Quality Sport Images/Getty Images Diego Souto/Quality Sport Images/Getty Images

Patrocinado desde os 11 anos

Acho que essa maneira alegre com que eu levo as coisas faz com que a ficha de ser jogador do Real Madrid e ser convocado pra seleção ainda não tenha caído, sabe? Mas em uma coisa eu sei que ela caiu: eu tinha só 11 anos quando comecei a ser patrocinado pela Nike.

Era, tipo, um dos maiores sonhos da minha vida. Eram as chuteiras que eu gostava, que eu ia na loja comprar. Quando chegou o meu momento, foi uma das únicas coisas na vida que me deu a exata dimensão do que significava na hora.

Eu chegava em casa e ficava colocando vídeos das chuteiras que o Neymar usava, que o Cristiano Ronaldo usava. Até podia ser uma pressão a mais, mas eu não ligava muito, talvez por ser tão novo. Eu só pensava em jogar futebol e evoluir a cada dia.

Eu sei que, desde então, eu cresci sempre cercado de expectativas, mas ter o apoio do meu pai, que foi jogador, deixou mais fácil. Eu não ligava pro que falavam.

Quando eu estava no sub-11, diziam: "quero ver quando chegar no sub-13, se ele vai ser isso tudo mesmo". E eu ia lá e fazia.

Chegava no sub-13, falavam: "quero ver no sub-15". Quando cheguei ao sub-17, jogando com 16 anos, ouvia: "ah, quero ver no sub-20". Não viram porque eu nem passei pelo sub-20, fui direto pro profissional.

Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Divulgação

Pai jogador viu que podia 'dar bom'

Acho que, desde o momento em que eu comecei a andar, meus pais já imaginaram que eu ia ser craque (risos). Brincadeira. É que eu comecei a andar muito cedo, com oito meses, e meu brinquedo preferido sempre foi a bola de futebol. Eu não gostava de brincar de carrinho, de boneco, não era meu forte. Era sempre a bola. E acho que a paixão foi aumentando à medida que fui crescendo.

Com seis anos, comecei a jogar de verdade. Meus pais sempre me apoiaram, mas a partir desse momento eles viram que eu tinha futuro e começaram a investir. Nunca teve pressão da parte deles, sabe? Eu fazia porque realmente era o que eu gostava de fazer e tals.

Eu jogava por diversão, claro que não tinha ideia de onde poderia chegar com isso. Mas como meu pai foi jogador, e ele jogava ainda na época, ele viu que eu tinha algo especial. Percebeu que poderia dar bom. E acertou, né?

Ivan Storti

Do São Paulo ao Santos por Neymar

Eu não tinha como dizer não pro Santos, sério mesmo.

Eu comecei a jogar no futsal do São Paulo, mas na época a gente só treinava e disputava amistosos. Um desses jogos foi justamente contra o Santos. Eu joguei bem e tudo, aí logo fizeram o convite. Eu não pensei duas vezes.

O que o Santos me oferecia naquele momento era melhor pra minha projeção. Disputar competições, mesmo com só 11 anos. E o Santos sempre revelou muitos jogadores, então isso pesou um pouco na balança.

Mas é muito mais que isso: o Santos era o time para o qual eu torcia e era onde jogava o Neymar. Simplesmente não dava pra dizer não. Então, eu fui.

Lembro que teve um evento do centenário do clube em que escolheram um jogador de cada categoria e eu fui selecionado no sub-11. Quando cheguei, lá estava o Neymar. Foi a primeira vez que eu vi ele de perto, que eu toquei nele. O dia que eu conheci meu ídolo. Foi muito especial pra mim, eu lembro perfeitamente desse dia.

O Santos significa muito pra mim, vou ser sempre grato. Foi o time que me abriu as portas e me permitiu realizar meu maior sonho. O tempo passa muito rápido, nem parece, mas já vai fazer três anos desde que saí. Parece que ano passado eu ainda tava no Santos.

E é difícil se desvincular. Ainda falo com muita gente de lá, assisto muitos jogos do Santos. É como se eu ainda fosse um jogador do Santos, sabe? Às vezes a ficha não cai, não. E esse ano as coisas vão dar certo lá, com certeza. Tem que dar (risos).

Eu sempre falei que é sacanagem. Tanta gente pra comparar e vai comparar com o Neymar, pô (risos)? Fazer tudo que o Neymar fez seria muito difícil, então sempre tirei esse peso de mim. Não dá pra ser comparado com seu ídolo, ter que fazer o mesmo que ele fez. Ninguém vai fazer tudo que ele fez no Santos e que faz até hoje."

Rodrygo, sobre as comparações entre os Meninos da Vila

Antonio Villalba/Real Madrid via Getty Images Rodrygo e Vini Jr. comemoram em jogo da Liga dos Campeões

Rodrygo e Vini Jr. comemoram em jogo da Liga dos Campeões

Em alta no Real Madrid

Hoje eu tô vivendo um momento muito bom no Real Madrid. É aquele negócio: nessa temporada vou ser melhor do que fui nas outras e na próxima vou ser melhor do que nessa. É pra isso que eu me preparo, então espero ser um jogador cada vez mais importante no meu time.

Já ganhamos a Supercopa da Espanha e queremos um grande resto de temporada pra conquistar tudo que a gente puder. Nosso elenco é muito bom e ali no ataque a disputa é muito sadia. Todo mundo fala do Vinicius Júnior e eu fico felizão pelo momento dele, de verdade. Infelizmente, tem muita gente maldosa na internet e na vida que falavam muitas besteiras dele, assim como já falaram de mim e de outros.

Mas isso nunca entrou na nossa mente, temos uma mente forte pra isso, a gente sabe do nosso potencial, sabe onde podemos chegar. E foi o que ele fez, não deu ouvido pra ninguém, continuou trabalhando e sabendo que na hora certa as coisas iam acontecer. Graças a Deus têm acontecido pra ele e a gente fica muito feliz, porque vê toda a dedicação. Assim é comigo também. Continuo trabalhando e me dedicando a cada dia e sei que meu momento está chegando.

É outro cara que sempre quiseram ficar me comparando (risos). Não tem por que falar disso, são comparações bobas. O que o povo mais gosta é de comparar. Na real, se ele estiver bem é melhor pra mim. E se eu estiver bem é melhor pra ele, pro clube. Hoje, somos os dois titulares, não tem razão pra ficar comparando.

Marcel Lisboa/AGIF

Na seleção em ano de Copa

Eu e o Vini também somos colegas na seleção hoje e isso é muito bom, porque é ano de Copa do Mundo. Mas, independentemente disso, é sempre uma emoção ser convocado, sabe? Eu já fui três vezes.

O que mais me encantou foi quando eu cheguei e tive a recepção de todos, jogadores que têm muitos anos de seleção e me trataram superbem, o ambiente que tem ali na seleção foi muito bom. Não que o ambiente no clube não seja bom, mas é um pouco diferente, porque você joga com jogadores de muitos países. Na seleção estão ali só os brasileiros. É muito bom. Foi uma coisa que fez eu me encantar pela seleção. E o sentimento não muda, é sempre como se fosse a primeira vez.

É lógico que é difícil jogar, são uns minutinhos aqui e ali. A seleção é sempre essa concorrência grande. Foi assim todos os anos e, tipo, não é agora na minha vez que vai ser diferente, né? Mas acho que quem tem a ganhar com isso é só a seleção mesmo. Onde eu estiver vai ter briga por posição, vai ter disputa, nunca vou ter vida fácil. E que bom, que continue assim, pra eu sempre estar sendo desafiado e evoluir.

Enquanto isso eu tento mostrar o que sei. Se é um bobinho ou um treino coletivo, se você está se dedicando você mostra alguma coisa pro treinador. É o que eu sempre procuro fazer nos treinamentos, porque de alguma forma ele vai estar vendo. E eu já falei pro Tite: pro que ele precisar eu tô à disposição. Na direita, na esquerda, no centro, de meia, onde ele quiser (risos).

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