Ali onde o Oceano Pacífico faz uma curva, e as ondas arrebentam com força nas rochas produzindo um chuvisco de água salgada, o peruano Fernando Canchari Vásquez fixa os pés na ponta de uma pedra e desafia o mar. Vestido com a túnica marrom de um franciscano, o capuz cobrindo o semblante e uma corda amarrada na cintura, ele acena para o horizonte duas vezes antes de fixar os olhos no movimento da água.
O céu está cinza como a tristeza, e um vento gelado provoca arrepios nos turistas que se reuniram para assistir ao estranho ritual. O frade espera o melhor momento para saltar. Cerca de doze metros o separam do mar gélido e revolto. Se errar o local da queda, ele pode se chocar contra as pedras e alcançar a morte ou uma tetraplegia. Por isso, ele espera.
Quando decide que o melhor momento chegou, o frade levanta os braços, toma um impulso com as pernas e se joga contra o vento. Uma turista solta um grito. O frade encontra o mar e some por menos de um segundo, perdido na espuma das ondas. E então volta a superfície. Puxa uma corda que trazia amarrada a um dos braços e começa a escalar a rocha para voltar ao alto do penhasco.