Todo dia, Francisco Ingegnere, de 67 anos, sai de casa e vai até o Santa Marina Atlético Clube ocupar a cabeça e cuidar dos afazeres de uma instituição centenária que pode estar com os dias contados. O terreno que o clube ocupa desde os Anos 40 está prestes a ser tomado por uma multinacional.
Francisco trabalhou durante quase 40 anos no mesmo quarteirão do bairro da Água Branca, em São Paulo, seguindo os passos do bisavô, do avô e do pai. Todos eles foram operários da Vidraria Santa Marina, famosa por fabricar itens domésticos como aquelas xícaras de cor caramelo que talvez estejam na sua cozinha.
Foi da vidraria que nasceu o Santa Marina AC, orgulho daquelas famílias operárias, em sua maioria italianas como a de Francisco, que trabalhavam, moravam e praticavam esportes no terreno que hoje provoca cobiça. Os bairros próximos se desenvolveram tanto em 100 anos, que o metro quadrado ali parece valer mais do que a própria história: a área foi avaliada em R$ 86 milhões.
O clube é o projeto de vida do presidente Francisco Ingegnere, que desde 1997 cuida para não deixar esta história desaparecer. Famoso na várzea e nas categorias de base, o Santa Marina ainda abriga aulas de futsal e jogos amadores, mas há décadas vem perdendo "pedaços" de seu terreno e pode acabar em menos de 60 dias.