A taça que não orgulha

Santos é campeão da Série B, mas torcida prefere não fazer festa pela conquista

Alexandre Araújo e Lucas Musetti Perazolli Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ) e em Santos (SP) Hedeson Alves/Hedeson Alves/AGIF

O Santos é campeão da Série B do Campeonato Brasileiro. Após um inédito rebaixamento, justamente no ano em que a competição homenageou Pelé, e uma temporada de altos e baixos, o Peixe garantiu o topo do pódio sem gerar grande empolgação na torcida, pelo contrário.

A taça veio com antecedência e sem entrar em campo, após o Novorizontino empatar em casa com o Paysandu — a equipe de Fabio Carille tem 68 pontos e não pode ser mais alcançada por nenhum adversário na competição.

Diferentemente dos títulos conquistados nos anos de ouro, o Santos, desta vez, chega ao topo longe de encantamentos e com um sentimento de ter feito apenas a obrigação. Após duas décadas do último título do Brasileiro, o oitavo da história, a equipe retorna à elite ainda em meio a uma reconstrução.

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Faixa volta ao normal apenas em 2025

A Torcida Jovem, maior organizada do Santos, reviveu o protesto feito no início do século, quando suas faixas passaram a ficar viradas nos estádios.

A organizada virou as faixas em 2001, diante da seca do clube de grandes conquistas desde 1984, no Estadual diante do Corinthians. Já em 2002, o protesto acabou com o título nacional também diante do Timão.

Quando o Santos foi rebaixado, a Torcida Jovem anunciou que deixaria as faixas de "cabeça para baixo". Todos os jogos da Série B foram assim. Quando o Peixe venceu o Coritiba fora de casa e sacramentou o acesso, Otero comemorou: "Vão virar as faixas".

Em forte nota oficial publicada após o acesso, a uniformizada salientou que "não há nada a se comemorar em 2024", e fez críticas a integrantes da direção, com pedidos por mudanças para a próxima temporada.

Reinaldo Campos/Reinaldo Campos/AGIF Reinaldo Campos/Reinaldo Campos/AGIF

O drama do líder do João Paulo

O Santos perdeu uma peça importante ainda no começo da Série B. Um dos líderes do elenco, o goleiro João Paulo rompeu o tendão de Aquiles em maio, na derrota para o América-MG. O lance foi marcado pela falta de fair play de Renato Marques, que viu o adversário se contundir e, mesmo assim, empurrou a bola para o gol.

Gabriel Brazão, que havia sido contratado a princípio para jogar pouco, herdou a vaga de titular. Goleiro de poucas partidas como profissional, ele viveu a maior sequência da carreira aos 24 anos, depois de passagens sem brilho por Ternana e Spal, na Itália.

Brazão deu conta do recado e fez defesas importantíssimas. A maior delas diante do Ceará, na vitória difícil por 1 a 0 na Vila que deixou o Santos perto do acesso contra um rival direto.

João Paulo voltou aos treinos em outubro, cinco meses após a lesão, e deve retornar à equipe do Santos apenas na próxima temporada.

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Ajuda dos veteranos

O time que tem uma fábrica de "meninos" bons de bola, viu os veteranos darem um toque especial ao elenco que conseguiu superar os obstáculos para fazer o Santos campeão. O zagueiro Gil e o meia Giuliano, ambos ex-Corinthians, foram importantes na trajetória.

Os experientes jogadores estiveram dentre os primeiros reforços para 2024 — foram anunciados em sequência no fim do ano passado —, foram titulares ao longo do torneio e se tornaram peças-chave na equipe de Carille.

Gil desembarcou na Vila Belmiro após passagem pelo Corinthians e atuou em 33 partidas, sendo titular em todas. O zagueiro, que marcou um gol contra a Ponta Preta, se destacou em alguns quesitos: foi o primeiro em rebatidas, o terceiro do Peixe em passes certos e o quarto em lançamentos certos, de acordo com a plataforma Footstats.

Aos 37 anos, Gil ainda tem futuro incerto no futebol e a possibilidade de pendurar as chuteiras não está descartada pelo jogador, que avalia os próximos passos.

Giuliano foi autor de nove gols na Série B, além de duas assistências — uma delas contra o Coritiba, no jogo que fez o Peixe carimbar a vaga na elite. O meia, de 34 anos, também estava no Corinthians antes de acertar com o Santos.

Outro destaque individual foi Guilherme. O Santos investiu R$ 5 milhões para tirá-lo do Grêmio e viu o atacante de 29 anos corresponder com 10 gols e oito assistências na Série B. O "Amado", como é chamado pelos companheiros, é uma das esperanças para a Série A.

Vale também uma menção honrosa para Otero, de 32 anos. O meia-atacante chegou desprestigiado do Aucas (EQU) em um contrato de risco, com salário "simbólico", e foi importante ao longo da temporada.

Destaque do Paulistão, o baixinho oscilou ao longo da Série B, mas apareceu na hora H. Fez gols consecutivos de falta contra Vila Nova e Coritiba nas partidas que garantiram o acesso.

Conheço o Gil desde 2013. É um exemplo pela idade, por chegar cedo, último a sair. Se cuida demais, se alimenta bem. Saíram notícias que ele vai parar, ainda não está definido, ele está pensando, mas não definiu.

Fabio Carille

O Giuliano é um cara que ajuda demais os jovens. Teve uma reunião com ele que participei com um menino do sub-15 e foi tão bonito o que ele falou e como se propôs a ajudar. Quando o Miguelito está ali, eu vejo o Giuliano conversar.

Fabio Carille

A campanha do título

O Santos levanta a taça de campeão desta edição da Série B do Brasileiro após uma campanha que teve altos e baixos, e momentos de maiores turbulências.

O começo da caminhada na competição gerou dúvidas na torcida, apesar das três vitórias consecutivas nas rodadas iniciais. Nos 10 primeiros jogos, foram cinco triunfos e cinco derrotas, sendo quatro resultados negativos seguidos. Ao fim deste período, o Peixe figurava apenas na sétima colocação, com 15 pontos, três atrás do quarto colocado Goiás.

Aos poucos, a equipe acertou os ponteiros e entraria no G4 em três rodadas — quando foi para a segunda posição, com 22 pontos, um atrás do líder Avaí. A partir daí, esteve sempre flertando com o pelotão da frente, e perderia apenas mais três vezes em toda a competição.

Apesar do título, a relação da arquibancada com o técnico Fábio Carille sempre teve fortes arestas. O treinador, que chegou com a missão de conseguir o acesso à elite, foi alvo de protestos ao longo da temporada.

O momento mais crítico, talvez, tenha sido em agosto, quando o time ficou cinco jogos sem vencer, com uma derrota e quatro empates. Contra a Ponte Preta, na Vila Belmiro — a última partida desta sequência —, a situação ficou mais tensa. E mesmo em momentos mais "leves" ao longo do torneio, o treinador foi alvo de xingamentos.

Mesmo que cambaleante em certos momentos, o Santos conseguiu dar passos rumo ao principal objetivo de 2024: retornar à Série A. O time alvinegro foi o líder entre as rodadas 14 e 20, e recuperou na 31ª, para não mais perder.

O retorno foi assegurado no começo da última semana, com a vitória por 2 a 0 sobre o Coritiba, fora de casa. Neste domingo (17), na lendária Vila Belmiro, diante de seu torcedor, o Santos enfrenta o CRB já tendo no currículo o título que nenhuma torcida de um grande clube gostaria de ter na prateleira.

Gabriel Machado/Gabriel Machado/AGIF Gabriel Machado/Gabriel Machado/AGIF

Os campeões da Série B

2024 - Santos
2023 - Vitória
2022 - Cruzeiro
2021 - Botafogo
2020 - Chapecoense
2019 - Bragantino
2018 - Fortaleza
2017 - América-MG
2016 - Atlético-GO
2015 - Botafogo
2014 - Joinville
2013 - Palmeiras
2012 - Goiás
2011 - Portuguesa
2010 - Coritiba
2009 - Vasco
2008 - Corinthians
2007 - Coritiba
2006 - Atlético-MG
2005 - Grêmio
2004 - Brasiliense
2003 - Palmeiras
2002 - Criciúma
2001 - Paysandu
2000 - Paraná Clube
1999 - Goiás
1998 - Gama
1997 - América-MG
1996 - União São João
1995 - Athletico-PR
1994 - Juventude
1993 - Não houve disputa
1992 - Paraná Clube
1991 - Paysandu
1990 - Sport
1989 - Bragantino
1988 - Inter de Limeira
1986 e 1987: Não houve disputa
1985 - Tuna Luso
1984 - Uberlândia
1983 - Juventus-SP
1982 - Campo Grande-RJ
1981 - Guarani
1980 - Londrina
1973 a 1979: Não houve disputa
1972 - Sampaio Corrêa
1971 - Vila Nova-MG

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