De onde vêm os craques?

Analisamos o perfil dos convocados pela seleção brasileira neste ciclo para responder a esta e outras questões

Bruno Grossi Do UOL, em São Paulo

Desde o início do ciclo para a Copa do Mundo de 2022, Tite convocou 64 atletas diferentes para a seleção brasileira, incluindo os nomes testados como terceiros goleiros ou que acabaram cortados por lesão.

O UOL Esporte analisou dados sobre o início da carreira desses jogadores no futebol profissional para entender qual é o perfil médio de quem chega à seleção principal.

Quais times têm formado mais jovens para o time canarinho? Quais técnicos lançaram esses atletas? Qual o treinador recordista? Com quantos anos e em que época do ano eles estreiam como profissionais?

Esse levantamento mostra ainda as regiões do Brasil mais influentes na formação de jogadores para a seleção assim como a presença de estrangeiros que participaram desse processo.

Fim da adolescência é marco

Entre os convocados neste ciclo de seleção, 23 jogaram profissionalmente pela primeira vez aos 18 anos de idade. É curioso notar como os defensores demoram mais para ter a primeira chance, principalmente os goleiros. Weverton e Santos, por exemplo, só estrearam aos 21. Daniel Fuzato, da Roma, que ainda nem estreou, já tem 22.

Por outro lado, os atacantes são mais precoces. Três deles — Vinícius Júnior, Gabigol e Rodrygo — fizeram o primeiro jogo como profissional aos 16.

Dos 64 jogadores convocados neste ciclo para o Mundial do Qatar, outrs dois goleiros também não estrearam como profissionais. São eles: Hugo (Flamengo) e Gabriel Brazão (Albacete).

No gráfico abaixo, é possível observar a tendência dos 17 e 18 anos. Já os extremos, com mais jovens de 16 anos e mais velhos de 21 anos, são menos frequentes. Uma eventual estreia de Daniel Fuzato o colocará isolado como o mais velho.

Dorival e Enderson são os mais visionários

A pesquisa do UOL Esporte identificou 48 técnicos responsáveis por lançarem esses atletas, desde 30 março de 2003, quando Filipe Luís subiu ao profissional. Vale pontuar que não foi possível encontrar os treinadores das estreias de Thiago Silva, Paulinho e Bruno Henrique.

Os líderes do ranking são Enderson Moreira (que lançou Danilo, Walace e Everton) e Dorival Júnior (responsável pela estreia de Allan, Fred e Philippe Coutinho). Com dois jogadores lançados, aparecem como surpresas Felipe Moreira (Emerson e Ivan), na Ponte Petra, e Leandro Niehues (Neto e Alex Sandro), no Athletico.

Outra curiosidade é que cinco estrangeiros aparecem na lista: os espanhóis Luis Enrique e Alberto Torril, o português Antônio Rocha, o holandês Louis van Gaal e o eslovaco Martin Sevela.

Grêmio mostra coragem e deixa os garotos jogarem

O Grêmio é o clube que mais proporcionou estreias no profissional para jogadores da seleção brasileira neste atual ciclo de Copa: os goleiros Cássio e Phelipe, os volantes Arthur e Walace e os atacantes Douglas Costa e Everton. Cássio, Arthur e Cebolinha, inclusive, foram campeões da Copa América deste ano.

Athletico, São Paulo e Flamengo aparecem logo abaixo com cinco nomes. Isso mostra que a ascensão do Furacão nos últimos anos vai além de estruturas físicas e dos títulos sob o comando de Tiago Nunes.

É curioso notar também que o Cruzeiro não aparece na lista, mas os times B de Barcelona e Real Madrid, sim. Outros gringos por lá são Trencin (Eslováquia), Ribeirão (Portugal), Manchester United (Inglaterra) e Vilnius (Lituânia).

Já em uma divisão por estados do Brasil, fica clara a disparidade entre as regiões Sul e Sudeste em comparação ao restante do país. São Paulo lidera com 20 revelações, contra 14 do Rio Grande do Sul, o segundo colocado. Minas Gerais está atrás do Paraná no ranking.

São Paulo reforça o poder de Cotia

Alguns clubes participam da formação do atleta - ou a fazem por inteiro —, mas acabam vendo suas crias estrearem profissionalmente em outras equipes, seja por um empréstimo ou venda precoce. O Fluminense, por exemplo, saiu de dois nomes no ranking anterior para cinco neste.

Times de menor expressão também aparecem na base, como o Porto-PE ou o Ferroviário-CE. E mais uma vez clubes europeus: Benfica, PSV, Barcelona e Manchester United.

No topo do ranking, o Grêmio agora tem a companhia do São Paulo, que se orgulha do potencial formador de sua base, em Cotia. Foram criados pelo Tricolor Paulista o goleiro Ederson, o lateral-direito Emerson, os zagueiros Militão e Rodrigo Caio, o volante Casemiro e os atacantes Lucas Moura e David Neres. Os dois primeiros, no entanto, não concluíram a formação no São Paulo.

Na divisão por estados brasileiros, os paulistas dominam novamente, mas a segunda posição passa para as mãos do Rio de Janeiro, com os gaúchos fechando o pódio.

É mais fácil lançar uma promessa no 1º semestre

Pela disputa dos Estaduais e pelas rodadas iniciais do Campeonato Brasileiro, os clubes tendem a permitir a estreia de suas promessas ainda no primeiro semestre das temporadas. São momentos que, usualmente, guardam menos pressão por resultados e em que os times usam times alternativos para priorizar outros torneios.

O Brasileirão é a principal fonte de revelação de talentos para a seleção brasileira, com Paulistão e Gauchão completando o pódio e reforçando o poder de formação dos estados.

Uma curiosidade é que o centroavante Wesley, último da lista a ser chamado por Tite, fez o primeiro jogo oficial em uma edição de Liga dos Campeões da Europa, ainda na fase preliminar, pelo Trencin, da Eslováquia.

Como será a nova geração?

Esse perfil atual do jogador médio da seleção brasileira será mantido por quanto tempo? Como a nova geração está sendo moldada? A seleção olímpica, liderada pelo técnico André Jardine desde o primeiro semestre deste ano e que tem grande integração com o time principal, já esboça algumas diferenças.

Os mais velhos a estrear, por exemplo, têm 20 anos. Com duas revelações cada, Enderson Moreira — de novo ele —, Cuca e Mano Menezes estão entre os principais técnicos formadores.

E o São Paulo é dominante entre os clubes - muito pela presença do próprio Jardine, ex-tricolor, na seleção sub-23. Cinco jogadores estrearam e mais dois foram criados pelo time do Morumbi: o goleiro Lucas Perri, o lateral-direito Emerson, os zagueiros Walce, Rodrigo e Lyanco, o meia Lucas Fernandes e o atacante Antony.

O Fluminense é o segundo em número de estreias e de atletas formados: o zagueiro Ibañez, o lateral-esquerdo Ayrton Lucas, os volantes Wendel e Douglas e o centroavante Pedro. E o Desportivo Brasil, especializado em categorias de base, aparece entre os formadores, mostrando uma outra tendência. Já a influência europeia na formação foi reduzida em 50% em relação ao grupo principal.

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