Walce, 22, acompanhava atentamente a hora avançando noite adentro em seu celular. Cada minuto que passava aumentava o desespero do zagueiro do São Paulo. Sentado na cama, ele torcia para que de alguma maneira o tempo parasse. Encarava o aparelho eletrônico até pegar no sono em uma posição nada confortável. Quando o despertador tocava às 8h, ele suava frio.
Amanhecer significava um reencontro com a dor. Cada sessão de fisioterapia para tratar o joelho operado trazia um desespero que ele não sabia se conseguiria suportar. A toalha na boca tentava em vão aliviar o trauma que sentia cada vez que sua perna era dobrada. As lágrimas que escorriam colocavam dúvidas na cabeça do jovem zagueiro. Valia a pena passar por isso?
Eu voltava para a casa tremendo. Não sei se era uma crise de ansiedade, mas tinha muito medo de dormir para acordar no outro dia e passar por tudo aquilo de novo. Eu via a hora passando e ficava desesperado. Não tinha nem fome. Minha mãe colocava comida no meu prato e eu não conseguia comer."
A semana de maior sofrimento aconteceu quando ele se recuperava da segunda cirurgia para corrigir o rompimento do ligamento cruzado anterior do joelho —a primeira foi em janeiro de 2020, a segunda, em outubro de 2020 e a terceira, em junho deste ano. A crença em um ser divino capaz de ajudar as pessoas em momentos de dificuldade foi essencial para que o zagueiro encontrasse forças para passar por tudo aquilo.
"No terceiro dia daquela semana, eu pedi para Deus saciar a minha dor. Queria que ele aparecesse no meu sonho, mas não aconteceu. Fui para o CT esperando para sofrer tudo aquilo de novo. Era o dia que eu tinha que ganhar mais amplitude no joelho, meu tornozelo precisava encostar na bunda. E naquele dia eu aguentei a dor. Falava para o fisioterapeuta: 'mano, pode dobrar, pode ir'. E ele respondia que a gente já tinha conseguido chegar aonde era para chegar".
Walce caminhava para o retorno aos gramados quando no meio deste ano um exame mostrou que o ligamento seguia frouxo. Foi necessária uma terceira cirurgia para corrigir o problema. Os quase dois anos longe dos gramados trouxeram dúvidas para o zagueiro, que conseguiu se perdoar e agora aguarda o momento certo para retornar. "Vou voltar no meu tempo".