Série B+

Queda do Vasco deixa a Segundona com recorde de 5 campeões brasileiros na disputa em 2021. O que muda?

Do UOL, em Aracaju e no Rio de Janeiro Vitor Silva / Botafogo

O novo rebaixamento do Vasco decreta uma Série B em 2021 com uma composição inédita: cinco dos 20 times da competição já foram campeões brasileiros na elite. Botafogo e Coritiba também caíram neste ano e farão companhia aos remanescentes Cruzeiro e Guarani.

É um grupo de times que envolve muita tradição, entre taças conquistadas e craques de seleção brasileira revelados, além de uma grande parcela de torcedores do país. No início de uma nova década, pode ser, então, um marco na história da Segundona, tanto do ponto de vista esportivo como do mercado.

Se o Guarani está habituado à disputa, os demais ainda precisam entender as particularidades dessa divisão e assimilar, antes de tudo, a realidade financeira que os cerca. A perspectiva é de queda abismal em seus rendimentos. Por outro lado, a TV Globo se anima com um produto revigorado, que tende a ganhar espaço na grade em horário nobre dedicado ao futebol.

Em campo, tudo indica que a vida também não será fácil para o quinteto. Além de competir entre si —até clássico do Rio vai rolar, afinal!—, eles precisam superar adversários que estão se preparando há tempos para o acesso, com gestões organizadas, que prometem ser pedras na chuteira dos clubes mais tradicionais, na disputa pelas quatro vagas. Seria essa uma Super Série B?

Vitor Silva / Botafogo

R$ 50 milhões de prejuízo. Só pay-per-view pode diminuir perdas

A Série B 2021 deve ser um marco do ponto de vista comercial. A Globo, que exibe a segunda divisão nacional em TV aberta, paga e pay-per-view, projeta recordes de audiência e faturamento com vendas de pacotes no Premiere. Em 2020, cerca de 15% dos assinantes declararam torcer para um dos times que disputava o acesso. Um índice já reforçado pela presença inédita do Cruzeiro, um dos oito times com maior número de torcedores declarados na plataforma.

Some Vasco e Botafogo, que estão na prateleira dos maiores vendedores de pay-per-view, e a expectativa é de que o produto atinja patamares elevados. O Botafogo, inclusive, já discutiu internamente e deve abrir mão da cota fixa de R$ 8 milhões de direitos televisivos paga pela CBF —uma das alternativas disponibilizadas aos participantes da competição. O clube da Estrela Solitária vai tentar arrecadar mais dinheiro com o Premiere, assim como fez o Cruzeiro em 2020.

Além disso, a Globo já entende que vai exibir mais jogos da Série B aos domingos em 2021. Nas últimas duas temporadas, Vitória e Cruzeiro tiveram jogos marcados para as tardes de domingo, como forma de atender as filiadas em Salvador e Belo Horizonte. Os números foram tão bons quando partidas da Série A no horário.

Por outro lado, há um custo a ser pago. O rebaixamento significa um prejuízo entre R$ 60 milhões e R$ 70 milhões —o Vasco prevê até R$ 80 milhões a menos. Explica-se: quem cai da Série A não recebe a premiação da Globo referente ao campeonato que acabou de disputar —ou seja, o time não ganha nem os R$ 11,9 milhões disponíveis para o 16º colocado. Além disso, o clube perde entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões do contrato firmado pela rede visando à Série A deste ano. O valor varia porque há uma cota por exibição que depende de quantos jogos da equipe são exibidos na TV aberta e fechada.

Esse é o prejuízo mais evidente a ser contabilizado. Ainda não se sabe quando os estádios brasileiros poderão receber torcedores, mas o preço de ingressos na Segundona tende a abaixar. Além disso, é preciso saber se a torcida literalmente compraria a briga pelo acesso —no passado, isso aconteceu. Isso sem contar outros eventuais contratos condicionados ao futebol na elite.

Ciclo de reinvenção para a dupla carioca

Fora o rebaixamento, outro fator une Botafogo e Vasco nesta empreitada. Os dois clubes cariocas vivem início de gestão, depois de dois processos eleitorais desgastantes na reta final de 2020. São grupos com a missão de reconstruir dois gigantes em meio a uma grave asfixia financeira. O Vasco, por exemplo, tem de tocar a vida pressionado por uma dívida que ultrapassa os R$ 700 milhões. Tanto Cruzmaltino quanto Botafogo também terão de equalizar a queda de receitas exposta acima. O que fazer?

Em São Januário, o presidente Jorge Salgado instaurou um "Plano de 100 dias", que consiste em medidas imediatas para todos os setores da administração. Dentre elas, talvez a mais urgente seja a captação de um fundo para aliviar as contas.

O Botafogo, cujo rebaixamento foi decretado na 34ª rodada, já trabalha há algumas semanas em seu plano de reestruturação. A prioridade continua sendo —há mais de um ano— a migração para o formato de S.A. Independentemente dessa transição, o clube também busca um CEO para reorganizar a casa.

Os desafios são enormes, em especial pela grave crise financeira, por isso convoco a todos para nos unirmos e colocarmos o Botafogo onde merece. Queremos construir um clube profissional, com uma gestão ética. Algumas mudanças serão difíceis, mas são importantes para o novo Botafogo."

Durcesio Mello, presidente do Botafogo

Segue um trâmite burocrático que envolve o atendimento a exigências de regulamentação. Estamos nos esforçando para que neste projeto esteja à disposição dos investidores entusiasmados a aportar capital em uma operação financeira do Vasco o mais rápido possível."

Jorge Salgado, presidente do Vasco

Thiago Ribeiro/Thiago Ribeiro/AGIF

Vasco quebra recorde negativo

Essa foi a quarta queda do Vasco para a Série B. Com ela, o clube se tornou o recordista de descensos entre os 12 grandes do futebol brasileiro. Rebaixado pela primeira vez em 2008, o Vasco voltou a cair para a Série B em 2013, 2015 e agora, em 2020. Na era dos pontos corridos, é, ao lado de Avaí, Coritiba e Vitória, o clube com mais rebaixamentos nas 18 edições disputadas.

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Diogo Reis/AGIF

Luxa caiu junto

Por falar em Vasco...o treinador com mais títulos brasileiros, Vanderlei Luxemburgo, caiu junto com a nau vascaína. É a primeira vez em sua longa carreira.

Pentacampeão brasileiro, campeão da Copa do Brasil, 14 vezes campeão estadual e com passagens pela seleção brasileira e pelo Real Madrid, ele aceitou o desafio de livrar o Vasco do rebaixamento e pegou o time antes da 28ª rodada, quando o Cruzmaltino estava na 16ª colocação, a um ponto do setor indesejável. O técnico, porém, não conseguiu repetir o sucesso de sua passagem em 2019 e, tropeçando contra adversários diretos, sacramentou sua queda inédita e a quarta da história do clube.

Luxa já havia declarado o seu desejo de fazer um trabalho a longo prazo no Vasco, mas o rebaixamento deixa seu futuro incerto, uma vez que seu contrato atual se encerra ao fim do Campeonato Brasileiro.

Fernando Moreno/AGIF

O Cruzeiro à espera

Em 2019, o Cruzeiro estava no pequeno grupo de grandes que nunca haviam caído, ao lado de Flamengo, Santos e São Paulo. Agora vai para sua segunda temporada seguida na Série B, afundado em dívidas —fiscais, trabalhistas, tributárias— e em constante reformulação administrativa em busca de soluções (não muito fáceis).

A renegociação dos débitos tem sido uma das prioridades. Outra solução para levantar dinheiro em um ano de pandemia é a negociação de jogadores criados na Toca da Raposa. Mas, para se reerguer, vai precisar de muito mais.

"O Cruzeiro precisa, antes de tudo, resgatar essa credibilidade, e isso passa pelas pessoas que estão no clube. A partir disso, a gente gera receita e começa a trazer esse clima para o ambiente", disse o diretor de futebol André Mazzuco, em entrevista à Rádio Itatiaia

Aos poucos, o clube celeste desenha a próxima temporada. O técnico Felipe Conceição foi apresentado para ocupar a vaga de Felipão, e a cúpula mapeia reforços que se encaixem na atual realidade.

Subir (e ficar) não é tão simples

Coritiba e Guarani viveram o auge há mais de 30 anos e agora são presença constante na Segundona

Rebeca Reis/AGIF

Uma década B e C

Campeão brasileiro de 1978 e vice nos anos 80, o Guarani nunca mais foi o mesmo. O clube bugrino não joga a Série A desde 2010. Pior, durante a década, passou quatro temporadas seguidas, de 2013 a 2016, na Série C. Além do mais, também foi rebaixado quatro vezes na Série A1 do Paulista. Pela Série B, desde que retornou em 2017, terminou com as seguinte posições: 17º, 9º e 13º nos últimos dois anos.

KELY PEREIRA/AGIF - ESTADÃO CONTEÚDO

A sexta vez

O Coritiba foi o segundo clube a ser rebaixado nesta temporada. A queda aconteceu na 36ª rodada e representou a sexta de sua história, fazendo com que o Coxa seja o recordista junto com América-MG e Vitória. O campeão brasileiro de 1985 dessa vez ficou apenas um ano na elite. A situação fica ainda pior para a torcida se levarmos em conta a ascensão do maior rival, o Athletico-PR.

Vitor Silva/Botafogo  Vitor Silva/Botafogo

Um alerta

O Cruzeiro pode muito bem dizer isso aos recém-chegados: essa história de cair para voltar logo em sequência, revigorado e sonhando alto já não se aplica automaticamente no futebol brasileiro. É bom que Botafogo, Vasco e Coritiba não esperem vida fácil. Se já não bastassem as disputas entre esses campeões nacionais, há adversários habituados à Segundona e que se mostram competitivos na busca pelo topo. Para constar, a Raposa terminou mais próxima do rebaixamento (dez pontos) do que do acesso (12 pontos).

Considerando a última temporada, aparecem como postulantes ao acesso o CSA, o Sampaio Corrêa, a Ponte Preta e o Operário, que ficaram respectivamente em quinto (58 pontos), sexto (57), sétimo (57) e oitavo (57) —bem próximos dos 61 pontos do emergente Cuiabá, que subiu ao ficar em quarto. Lembrando que, na última rodada, dois clubes ainda tinham chance de pular para o quarto lugar: o CSA e o Avaí, que terminou em nono, com 55 pontos. Foi uma disputa bastante acirrada.

Além deles, há sempre que se considerar as equipes tradicionais e de grandes torcidas, embora não tenham feito campanhas de destaque em 2020/2021: CRB (10º), Vitória (14º) e Náutico (16º). Dá Série C subiram também dois clubes tradicionais: Remo e Vila Nova. Os outros classificados foram Brusque e Londrina.

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