Em 1986, um policial militar de Florianópolis invadiu uma mesa redonda e ameaçou se matar ao vivo. O soldado Sílvio Vieira ainda avisou que se o programa fosse tirado do ar "gente ia morrer". O segurança da RCE TV tremeu. O cano de um 38 estava encostado em sua nuca.
Os três jornalistas que estavam no estúdio ficaram assustados, mas foram safos. Começaram a enrolar Sílvio. Ele aceitou o convite para integrar a mesa e até tomou café. Parecia um convidado do programa Terceiro Tempo, que na década de 1980 era veiculado todas as segundas-feiras na repetidora da TV Cultura em Santa Catarina. Pai de seis filhos, Sílvio explicou o motivo do ato de desespero.
Havia comprado um apartamento que não podia mais pagar. Estava devendo na venda, no comércio e no colégio. A gota d'água está explicada no livro "Dás um banho", do jornalista Paulo Brito. Em seu relato, Sílvio contou que havia tomado um empréstimo de Cr$ 1,5 mil [mil e quinhentos cruzeiros] e estava atrasado três meses.
Os credores foram em cima do avalista, outro policial, que comunicou ao comando da PM. Sílvio aguentou o que só um soldado suporta. Foi insultado por 45 minutos porque estava desonrando a corporação. Foi determinado que as parcelas do empréstimo passariam a ser descontadas do soldo dele. Sílvio voltou para casa humilhado. Sofria de depressão e, naquele dia, misturou remédio com álcool. Decidiu invadir a TV para denunciar o salário de fome que recebia.
Na madrugada de hoje (1), Sílvio Vieira morreu em Florianópolis, aos 74 anos, vítima de um ataque cardíaco.
Em 2019, UOL Esporte publicou esta reportagem especial após conversar com Sílvio, com sua mulher e sua filha mais velha. Também ouviu três jornalistas que estiveram no estúdio. Os relatos abaixo relembram a história daquela noite.