Seria um treino comum em uma manhã qualquer em Vanadzor, cidade do norte da Armênia, se uma guerra não estivesse em curso a 300 quilômetros dali. Junior Marini, atacante do Lori FC e pai de uma bebê de oito meses, fazia o aquecimento em campo junto com os companheiros quando ouviu o assustador som de tiros e bombas. As explosões vinham de um outro tipo de campo de treinamento, este do exército, onde soldados armênios se preparavam antes de ir à fronteira com o Azerbaijão.
Um pouco mais ao sul, Ebert Cardoso, jogador do FC Van, não ouviu quando quatro drones azeris foram abatidos a cerca de dez quilômetros de sua casa, em Charentsavan. Eram quase 23 horas, e ele, a esposa e a filha de quatro anos ouviam música no momento da explosão. Só ficaram sabendo na hora de deitar, quando viram as notícias, e naquela noite foi difícil dormir.
Acostumado a ouvir músicas alegres no vestiário do Ararat-Armenia, o lateral Alemão precisou trocar a caixinha de som pelos fones de ouvido. Minutos antes de uma partida pelo Campeonato Armênio, um companheiro se aproximou e, em voz baixa, pediu para que ele desligasse o aparelho, pois estava de luto. Tinha perdido o pai na guerra.
A expectativa marcou os últimos meses de Tiago Galvão, atacante do Alashkert. Ele e outros três brasileiros moram no mesmo prédio em Yerevan, a capital armênia, e assim deram força um ao outro enquanto a guerra se desenrolava. Entre os quatro, um acordo claro no qual pensavam muito: se a situação piorasse, iriam embora na mesma hora.
Os quatro jogadores brasileiros relataram ao UOL Esporte a angústia de viver e jogar futebol em um país em guerra. A Armênia, onde eles moram, e o vizinho Azerbaijão guerrearam por seis semanas pela região de Nagorno-Karabakh, que é palco de conflitos há mais de 30 anos. De acordo com a contagem oficial, foram 5,8 mil mortos, incluindo 150 civis. Os países assinaram acordo de paz no começo de novembro, mas na semana passada já houve violações do cessar-fogo.