Na virada da década de 90 para os anos 2000, o mineiro Heine Alleigmane procurava emprego e tinha de fazer contas na ponta do lápis para saber se conseguiria pagar as contas e dívidas. A grande chance veio em forma de espuma, quando ele pensou em uma forma de demarcar a distância da barreira em cobranças de falta enquanto assistia a uma partida de futebol. Nos anos seguintes, abriu a empresa Spuni e desenvolveu um spray de barreira. Ele patenteou o produto em mais de 40 países e foi tentar vender a ideia aos cardeais do futebol brasileiro. Foi aí que a espuma da esperança começou a tomar tons de discórdia.
O projeto avançou, ultrapassou o Brasil, ganhou a América do Sul e chegou à Fifa. O apogeu foi em 2014, quando o spray foi usado na Copa do Mundo. Heine e seu parceiro, o argentino Pablo Silva, forneceram as latinhas utilizadas no Mundial e deram treinamento aos árbitros. Segundo o inventor, por trás da participação, gratuita, estava uma promessa da entidade máxima do futebol de adquirir as patentes em uma transação milionária. A oferta, entretanto, nunca aconteceu: em 2015, a Fifa iniciou um projeto de controle de qualidade do spray — segundo Alleimagne, especificações do seu produto foram passadas a outras empresas do mercado, e a federação internacional as teria encorajado a fabricar versões alternativas. A essa altura, dono de patentes em 44 países, o brasileiro acionou a Justiça.
Hoje, ele e a Fifa travam uma batalha na 7ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. O brasileiro chegou a conseguir uma liminar proibindo a Fifa de utilizar e disponibilizar o spray em suas competições e cobra uma indenização ainda a ser calculada, mas a entidade reverteu a decisão e obteve uma sentença favorável em primeira instância. Além disso, o caso passou pelo Comitê de Ética da federação internacional, que recusou o pedido de acesso a detalhes da investigação feito pela reportagem.