Pense em uma meia dentro da máquina de lavar, girando, girando, se perdendo numa imensidão de água, espuma e movimento. Foi assim que eu me senti naquela manhã de novembro do ano passado, em Nazaré.
Nazaré, em Portugal, é uma pequena vila de pescadores que sempre temeram as ondas gigantes que se formam no inverno.
Aquele dia parecia mais um dia de trabalho para um surfista de ondas gigantes. Elas estavam grandes, mas não tão grandes quanto no dia anterior. Vesti apenas um colete inflável, quando poderia ter vestido dois. Quando ela veio, já parecia muito maior que as anteriores. O mar de Nazaré não é lisinho, ele te faz quicar. Quando eu cheguei na base da onda, ela me engoliu.
Você tem oito anos e ainda vai cometer muitos erros, inclusive erros que eu já cometi. Mas espero que você nunca viva isso.
Em um segundo você está deslizando sobre a água, domando a fúria do mar e manipulando as leis da natureza a seu favor. No segundo seguinte, você tem um prédio de oito andares feito de água sobre você. Você não sabe o que é esquerda ou direita, o que é céu e o que é chão. Você sente a pressão no peito e em cada centímetro da pele. E você não pode respirar, porque se você respirar, o oceano inteiro vai invadir os seus pulmões. E aí você já era.
É essa a punição para quem surfa uma onda gigante e falha. Essa experiência poderia me fazer desistir desse esporte.
Mas se eu desistisse, eu não seria eu. Sempre que entro no mar, eu sei que pode ser a última vez. Então antes de pegar minha prancha, eu conto um segredo para alguém. E esse segredo deve ser revelado caso eu não esteja mais aqui. Daquela vez eu não morri. Mas aqui vai o meu segredo para você, Dom.
Eu só não desisti porque eu sou seu pai. Porque você me ensinou a não desistir. Vou te contar como.