Quem vê Juliana dos Santos, oitava colocada no ranking nacional feminino da Confederação Brasileira de surf e campeã cearense feminino do Open 2020, não imagina nem de perto o que ela enfrenta para se manter onde está. A jovem de 21 anos mora no Serviluz, periferia de Fortaleza, Ceará, e convive de perto com a fome, falta de condições sanitárias e até mesmo um lugar decente para dormir. Na favela, palco de disputas entre criminosos, impera a lei do silêncio.
Apesar da violência, a região, em especial a praia de Titanzinho, o Havaí Cearense, atrai surfistas de todo o Brasil em busca das melhores ondas. Foi nesse cenário, que mistura violência e boas ondas, que Juju encontrou o surf — ou o surf a encontrou, e buscou no esporte a porta de saída da criminalidade. Em entrevista ao UOL Esporte, Juju lembra da infância pobre e da violência doméstica sofrida pela mãe. Também recorda de si própria ainda muito pequena, andando pela praia, admirando a turma do surf. As caminhadas pelo Titanzinho serviam de fuga para a menina não presenciar as constantes brigas entre o pai e a mãe, mas também apontaram para a garota uma nova perspectiva de futuro.
Olhava aquela galera deslizando na água, dançando em cima da prancha, achava aquilo lindo. Pedia pra minha mãe que eu queria ser surfista".
A ideia era apenas contar a história de Juju, tão bonita quanto trágica. Não consegui.