Juca Kfouri
"A Taça Brasil era fantástica, mas não era o Campeonato Brasileiro. Ou alguém acha que o campeão do Piauí era melhor que o vice-campeão paulista?"
Paulo Vinícius Coelho
"Eu sempre fui contra a unificação dos títulos. Havia diversas maneiras de unificar ou não unificar como eu defendia. Você poderia unificar desde o Rio-São Paulo, por exemplo. Porque embora regional, o Torneio se chamava Roberto Gomes Pedrosa e o Robertão (desde 1967), se chamava Roberto Gomes Pedrosa grande, ampliado para ter times da Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul e Pernambuco. Você poderia unificar só o Robertão, como muita gente defende. Você poderia unificar Taça Brasil com a Copa do Brasil. Mas você poderia unificar Taça Brasil com o Campeonato Brasileiro porque na época se chamava de campeão brasileiro. Eu não acho que isso é um problema.
O problema é essa ideologização de tudo. Hoje, após esses dez anos de Brasileirão unificado, eu acho que temos que padronizar. Não importa a minha opinião. Importa como está se chamando. De certa maneira, serviu para mais gente conhecer mais uma parte da história do futebol brasileiro que era mais desconhecida, que era a história da Taça Brasil e do Robertão. Eu sempre fui contra a unificação. Hoje, unificado, eu acho que temos que contar a história de um jeito só."
Mauro Beting
"Não havia como fazer um campeonato verdadeiramente nacional quando a Taça Brasil foi criada em 1959. O melhor seria fazer o que a CBD fez até 1966: torneio eliminatório regionalizado. Questionável a salvaguarda aos clubes de Rio e São Paulo que quase sempre entravam no torneio na fase semifinal. Mas era muito provável que o Santos de Pelé fizesse o que fez no penta. Levasse tudo pra Vila.
De modo simplista, a Taça Brasil é a mãe da Copa do Brasil. O Robertão, a partir de 1967, o pai do Brasileirão. Muito justo que o Robertão se equipare ao Brasileiro, com a mesma importância esportiva e histórica, e com dificuldade maior do que muitos Brasileiros desde 1971. Não apenas pela qualidade dos atletas e times, e também pelo fato de que todas as equipes se enfrentavam (em alguns campeonatos a partir de 1971, campeões enfrentaram no máximo outros quatro grandes).
Mas há como discutir se a Taça Brasil é mesmo o Brasileirão. Claro que era o único torneio nacional até 1966. O que indicava os representantes do Brasil para a Libertadores, a partir de 1960. O que foi disputado pelos campeões mundiais de 1958 e 1962.
Mas não precisa ser equiparado ao Brasileiro para se dar o valor devido. Eu, se dirigente da CBD, não teria unificado os títulos. Eles já são muito importantes. Eles se bastam.
Se fosse forçado, apenas iria equiparar o Robertão. Não a Taça Brasil. Mas como a entidade é o cartório, cumpra-se.
E quem desdenhar que estude e respeite a história. Não são títulos por fax. São fatos. São feitos com voltas olímpicas. Não foram canetadas de cartório. São apenas caneladas dos que desdenham porque não entendem nem desenhando. Ou porque se acham superiores aos fatos.
A Taça Brasil é tão importante que não precisa ser equiparada ao Brasileirão. Ela se basta. Pena que bestas desprezem a era de ouro do futebol brasileiro. Por ignorância, colunismo ou bairrismo."
Mauro Cezar Pereira
"A Taça Brasil teve temporadas em que o campeão disputou apenas quatro jogos. Evidentemente isso aí não é nem uma Copa do Brasil. Muito menos um Campeonato Brasileiro de pontos corridos ou grupos e mata-matas. Então jamais poderia se considerar como título brasileiro um torneio tão curto, que é um embrião da Copa do Brasil. Eu defendo essa tese. Taça Brasil igual a Copa do Brasil e Robertão igual ao Campeonato Brasileiro. Esse sim é possível aceitar, embora nem todos os estados tivessem representantes, mas tínhamos ali o principal do futebol brasileiro. Não era como o Rio-São Paulo. Já tinham times de outros estados participando. Acho que Taça Brasil é um Copa do Brasil. Não dá para chamar mais do que isso. E a forma como isso foi unificado foi extremamente política, numa canetada de Ricardo Teixeira. Então como é que eu posso levar a sério uma canetada de Ricardo Teixeira? Mas, enfim, isso para mim é pouco relevante. É como discutir que o Sport é o campeão brasileiro de 1987 e não o Flamengo."
Fernando Galuppo (historiador do Palmeiras)
"A Taça Brasil nasce com o objetivo da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) ter uma competição que definiria o clube campeão brasileiro, já que até então não havia algo similar em nosso território, sendo que a partir de 1959, havia também a necessidade do país indicar o seu representante para a disputa da recém-criada Copa Libertadores da América, pela Conmebol, seguindo os moldes adotados pela Uefa quando da criação da Liga dos Campeões da Europa, no mesmo período.
O critério de disputa era eliminatório, com divisões do país em regiões e o direito dos campeões paulistas e cariocas iniciarem o torneio a partir das fases semifinais. Essa fórmula inicial foi estabelecida muito por conta das características do Brasil ter uma dimensão continental e a locomoção e logística para a realização das partidas serem precárias.
A competição contou desde o seu início com os campeões estaduais de no mínimo 16 Estados da Federação, teve ampla cobertura da imprensa, organização e chancela da principal entidade esportiva do país, envolvimento das principais Federações estaduais filiadas, legitimação do seu vencedor como campeão brasileiro e representante na principal competição continental, participação da maioria dos atletas que foram tricampeões mundiais com a seleção brasileira entre 1958 e 1970, alto nível técnico, continuidade por quase uma década, predecessora e embrião da Taça de Prata a partir de 1967.
Por tudo isso exposto, entendo que a Taça Brasil é o correspondente do passado ao atual campeonato brasileiro de futebol."
Celso Unzelte
"No caso específico da Taça Brasil, pelo menos entre 1959 e 1966, ainda dá pra argumentar que ela era a única disputa nacional de clubes, e que por isso, na falta de outro, seu campeão podia ser considerado, sim, o campeão máximo do país, até por exclusão. Mas o que dizer das Taças Brasil de 1967 e 1968, ganhas pelo Palmeiras e pelo Botafogo, quando já havia uma outra disputa mais próxima do que é um título brasileiro, no caso o Robertão, ganho em 1967 pelo próprio Palmeiras e em 1968 pelo Santos? Em 1968, inclusive, a Taça Brasil estava em franca decadência, tanto que só foi decidida entre Botafogo e Fortaleza no ano seguinte. Percebe como, ao unificar tudo, andaram misturando banana com laranja? Por isso é que eu sou a favor de simplesmente dar às coisas os nomes que elas tinham nas suas respectivas épocas, até como uma forma de valorizar o que elas eram: Taça Brasil e Robertão são legítimos títulos nacionais. Mas, ao contrário do que a CBF oficializou, não eram títulos de campeão brasileiro."
Arnaldo Ribeiro
"Na minha opinião, a Taça Brasil não pode ser considerada um Brasileirão por alguns motivos. O principal é que a unificação de título ou coisa desse tipo na base da caneta não se sustenta. O segundo é que não tinha a alcunha de um Brasileirão, até a caneta do Ricardo Teixeira ter sido acionada por motivos políticos. O Brasileirão existe entre 1971 até agora 2020 e vamos ver saber ainda se vai ter essa edição de 2020. O resto são outros tipos de torneio. Assim como Taça Rio não é Mundial. Nenhum torneio nacional até 1971 merece a alcunha de Brasileirão. Nenhum deles."
Gian Oddi
"Creio que qualquer equiparação ou renomeação de títulos de futebol, sejam eles quais forem, é desnecessária. Porque a história e importância de cada título é imutável e depende mais do contexto da época do que do nome que você dá a ele. Ainda assim, alguns fazem mais sentido que outros: por exemplo, é impossível refutar que o Robertão era, sim, o equivalente ao Campeonato Brasileiro. Já quanto à Taça Brasil, acho bem mais discutível, não só porque ela talvez fizesse mais sentido se equiparada à Copa do Brasil, mas porque, mais que isso, é duro conceber a ideia de dois campeões brasileiros no mesmo ano".