Esqueça o Roger Machado técnico de futebol. O que você lerá daqui para frente tem mais a ver com o ser humano que, especialmente desde o ano passado, vem aproveitando a posição que tem no esporte para tratar sobre questões que precisam ser debatidas — e, principalmente, combatidas. O racismo é uma delas, e ele ainda tem muito o que falar sobre isso.
"O futebol embranquece o negro. Até os 19 anos eu era negro; quando comecei a jogar bola, eu comecei a clarear um pouquinho. Primeiro que, por uma ascensão social, pela visibilidade e por uma questão financeira, eu comecei a frequentar outros lugares que a maioria de nós não consegue frequentar. Segundo porque, em torno dessa habilidade artística com a bola nos pés, você é aceito. Esse seria o lugar de direito do negro, por suas habilidades artísticas — como costumam dizer —, como futebol, capoeira, ser cantor, no samba", conta o ex-jogador que trabalha como técnico desde 2014 e hoje comanda o Bahia.
Como todos os negros, Roger sofreu com racismo durante a época em que foi jogador. Mas talvez tenha sentido ainda mais na pele (literalmente) quando optou por seguir o caminho de treinador — hoje, ele é o único negro neste cargo na Série A.
"Essa janela que foi aberta durante o período como jogador quase se fechou depois. Quando eu decidi me tornar treinador e fazer faculdade de educação física, eu percebi, imediatamente, que, em algum momento, me pareceu que o lugar que eu estava querendo alçar era de um protagonismo que, aos olhos do racista, eu não teria a habilidade intelectual para estar", completa.
A aula de Roger Machado continua abaixo. Além do racismo, o técnico que está em Salvador desde abril do ano passado aborda a importância do Bahia - clube exemplo em questões humanitárias - em sua vida e carreira, a "modinha" dos técnicos estrangeiros, Jorge Jesus, jogo feio x bonito... E ainda faz um alerta: "O dia em que o futebol brasileiro decidir olhar para o seu calendário com carinho, em uma década, vai ser a melhor liga do mundo. Não tenho dúvida".