Christian sentiu a necessidade de se reconectar com Deus, de quem havia se afastado por causa da rotina intensa de treinos. Começou a frequentar a Igreja da Restituição Ministério Laivv, cujos fiéis, moradores do bairro, se reuniam em um salão espartano, sob um telhado de zinco e sentados em cadeiras de plástico branco.
Durante uma reunião, o pastor pediu para uma das garotas da igreja subir ao altar e dar um testemunho. Miúda, dona de olhos grandes e simpáticos, a menina tinha o cabelo encaracolado e aparelho nos dentes. Contou sobre como havia estudado bastante naquele ano, o que havia garantido o privilégio de ser aprovada ainda no terceiro bimestre do ano letivo. Falou sobre a expectativa de passar em processos seletivos de escolas técnicas concorridas e explicou sobre a importância da dedicação aos estudos. Articulada, não mostrou o nervosismo esperado de uma adolescente falando em público. Estava acostumada, até porque a igreja tinha sido desde sempre sua segunda casa.
"É com essa menina que eu vou casar", teria dito Christian a um amigo, conforme relataria depois.
Na semana seguinte, enquanto vendia trufas na cantina da igreja, o rapaz trocou olhares com a menina estudiosa, mas não foi imediatamente correspondido. Descobriu que Anna Julya Serravale era neta do casal de pastores que comandavam a igreja e fez de tudo para encontrá-la nas redes sociais. Quando descobriu seu perfil no Instagram, começou a flertar curtindo suas fotos antigas. Foi curtido de volta, mas levou dias para tomar coragem e mandar uma mensagem.
Escreveu "Oi Julya" e apagou, achando muito formal. Escreveu "Oie", mas também apagou: muito informal. Buscou um meio-termo e se saiu com um "Oi Ju". Ao receber um "Oi Chris" de volta, comemorou como se estivesse defendido aquele pênalti no Fla-Flu. Resolveu jogar um verde esperando colher maduro:
"Qual seu sonho?", perguntou a Julya, conforme ela lembraria três meses depois.
"Ser oficial da Marinha", ela respondeu. "E o seu?"
"Casar com uma oficial da Marinha."
Julya achava essas tiradas bobas, mas se encantou com o estilo espontâneo e engraçado do garoto popular, cobiçado pela maioria das meninas da igreja e do bairro. Quando Christian deixou seu número de telefone para que eles migrassem a conversa para o WhatsApp, ela demorou alguns dias para adicioná-lo.
"Se você quiser mesmo alguma coisa comigo", Julya dizia a Christian, "vamos ter que fazer do jeito certo." O jeito certo para ela consistia em um protocolo que ela havia aprendido ainda menina. Os dois precisavam orar bastante, pedindo a Deus uma confirmação sobre a relação que queriam construir. Eles também tinham que entrar em jejum até que a confirmação divina acontecesse. Julya parou de comer doces e beber refrigerantes e sucos, e sempre perguntava a Christian se ele já tinha feito suas orações ou se tinha recebido alguma confirmação.